A filha perdida em plena praia

Os filmes “Filha Perdida”, baseado na obra de Elena Ferrante, e “Imperdoável”

Filme "A filha perdida" I Foto: Divulgação/Netflix

A verdade é que esse ‘filmão’ “A filha perdida” (The lost daughter) é o que há de mais atual em matéria de produção industrial de cinema. Ele foi lançado em dezembro de 2021 e premiado no Festival de Berlim. Embora seja o primeiro filme dirigido pela atriz Maggie Gyllenhaal, é uma produção de estúdios norte-americanos e sua estória foi extraída de um romance de mesmo nome da best-seller italiana Elena Ferrante. Minha filha Isabela Lins ficou entusiasmada com esse filme depois de vê-lo num cineminha de poucas poltronas nas sala de cinema em Paris.

A diretora Gyllenhaal criou uma imagem sofisticada, que assim transpira profundidade, mas o roteiro musical, apesar de também sofisticado, é terrivelmente exagerado. A música consegue falar mais do que a própria imagem, a não ser quando temos a presença total da atriz Olivia Colman que faz a personagem Leda. Realmente, ela é a grande figura do filme e de onde vem a sua maior força dramática.

Na verdade, eu não consigo gostar de cinema hollywoodiano. Não simplesmente porque tem a presença da produção de Hollywood. E sim porque, por exemplo, esse filme exagera em colocar o que o espectador médio quer, e que sustenta a indústria cinematográfica é dito como exigente. Melodrama não é pelo fato estético, mas pelo que transmite para o espectador. E coloca o filme simplesmente como produto que se compra para se amenizar a vida. Uma espécie de picolé musical com alegria sonora.

Se eu estivesse na produção de “The lost daughter”, eu tiraria toda a parte sonora, ou então deixaria alguns toques jazzísticos que tem e baixinho. Os diálogos ficariam. E outra coisa: tirava todo o som do choro das crianças, ou então o deixava bem baixo. Cheguei a ficar irritado com o choro das crianças. E inclusive com a voz delas. Que garotinhas mais chatas. Aqueles adolescentes que entraram e bagunçaram uma exibição de cinema poderiam ter sido obrigados a ouvir por duas horas o choro dessas crianças. Sem poderem sair da sala.

Olinda, 6. 1. 22

Ainda na bela praia grega

Filme “A filha perdida” I Foto: Divulgação/Netflix

Claro que com as pontas ligadas nos centros industriais, mas continuamos utilizando as belas praias e para ser cultural temos que ir até a nossa Grécia, como nos diz Fernando Monteiro. Então revi “The lost daughter”, embora correndo o risco de ser chamado de maluco, pois como rever um filme do qual você afirma não gostar? Quem nos explicaria seria realmente o filósofo Theodor Adorno, que morando nos Estados Unidos conseguiu desvendar o que ele chamou de indústria cultural. E que hoje entendemos como algo maravilhoso que movimenta milhões de dólares, deixando certos espaços para a grande classe média. Essa sim, mesmo no Brasil, lutando com os piores meios para se libertar em termos sexuais e também ideológicos, buscando novos costumes, e com isso aproveitando filmes como esse que é plena indústria cultural.

Enfim, me senti aproximado da obra de Maggie Gyllenhaal inspirada no romance de Elena Ferrante, porque entre outras coisas a personagem Nina, com o seu chapelão e comportamento solto, também frágil, me lembrou minha esposa, mãe de minha filha Isabela Lins. E Bela talvez tenha se sentido uma daquelas meninas bem sabidas, mas chatinhas e choronas. Pois que todo mundo dentro do filme se sente não mãe, mas ‘filha perdida’ em busca de encontrar a mãe protetora. Nessa segunda visão, pude encontrar melhor a interpretação da outra Leda, que é a atriz Jessie Buckley, em cena como a do lançamento de obra acadêmica da personagem. Não há dúvida que “The lost daughter” foi um filme feito para intelectuais, e como se trata de uma jovem atriz que virou diretora, ainda será cedo para se firmar no cinema, mas pelo menos indica caminhos.

Tenho que reconhecer que a indústria cultural nos dá lições fundamentais, inclusive nos permite como eu me fiz ver um filme norte-americano não falado em inglês, mas em versão plenamente espanhola com uma dublagem excelente. Não sei por que as outras plataformas de cinema não imitam a Netflix, que permite legendas de todo tipo e também versões dubladas quase perfeitas.

Olinda, 7. 1. 22

A gata Sandra Bullock

Filme “Imperdoável” I Foto: Divulgação/Netflix

É… O cinema pode ser diversão, com uma capacidade de atrair as multidões. O capitalismo criou Hollywood para assim comandar o mundo. E aí, na Netflix, está o filme “The unforgivable” (Imperdoável), que apesar de ter uma estória triste serve claramente para divertir. É uma produção nova, deste ano. E dirigida por uma cineasta, Nora Fingscheidt, que tem poucos anos de profissão, mas já ganhou alguns prêmios importantes. “Imperdoável” conta um drama que já tem sido utilizado pelo cinema muitas vezes. O fato de pessoa que por sair da prisão não consegue mais se adaptar à sociedade.

Nesse caso, o que nos atrai mesmo é a expressão dessa atriz bonita e muito marcada, que é a atriz Sandra Bullock, principalmente nesse momento cinematográfico. Uma gata madura bela e super tocante como personagem.

Olinda, 28. 12. 21

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