A Grana da Mídia

O encontro da cúpula das Organizações Globo de Comunicação com o ex-presidente Lula, semana passada, acabou reacendendo o debate sobre o dinheiro oficial destinado à mídia privada. Os chefões globais pediram apoio do líder político contra o avanço das chamadas redes sociais na internet, do qual eles se consideram vítimas.

João Roberto Marinho, vice-presidente da Globo, queixou-se inclusive do espaço aberto por essas redes às manifestações de rua que pedem o fim do monopólio da comunicação de massa. Mas também denunciam a sonegação de impostos por parte da própria Globo, que sozinha abocanha o maior quinhão do bolo publicitário da administração federal, que ano passado foi de R$ 1,8 bilhão.

Recentemente, a Secretaria de Comunicação da presidência da República(Secom) divulgou documento em que faz uma espécie de prestação de contas mas confirma essa distorção. A Globo fica mesmo com perto de 30% de todo dinheiro investido em publicidade pela administração direta, autarquias e empresas estatais. Ou seja, a família Marinho chora de barriga cheia.

Ao mesmo tempo, o documento revela outra distorção na aplicação desse dinheiro público. Em verdade, é a grande mídia, já estabelecida e mamando nas tetas do Estado desde sempre, que dele se beneficia. Só que essa verba deveria servir justamente ao surgimento de novos veículos, novos canais pra quem tem o que dizer e segue calado.

É claro que a Internet abre essa possibilidade, mas até certo ponto. Aumentou bastante o volume de recursos investidos em veículos internéticos, mas continua se concentrando nos grandes portais, alguns dos quais pertencem aos próprios grupos que dominam a comunicação nos meios tradicionais.

Em resposta ao relatório da Secom, a associação nacional que congrega os veículos alternativos (Altercom) também divulgou um documento em que analisa os dados oficiais. Reconhece ter havido pequena mudança nos últimos anos, mas diz que, no geral, mesmo com o surgimento de novas tecnologias, o problema persiste.

Quer dizer, os alternativos continuam alternativos, caçando brechas pra conseguir algum destaque, mesmo nos meios eletrônicos. E esbarram no critério básico usado pela Secom no reparte da verba, que é o índice quantitativo de audiência. Não leva em conta, pois, o peso qualitativo de veículos voltados a públicos ou temas específicos, por exemplo.

Além do mais, manter um blog, ou uma página na Internet também tem seu custo, que não é desprezível e, ao contrário, é quase sempre inatingível por quem teria o que dizer ou informar, mas não tem caixa. E assim o tratamento dado à informação permanece uniforme, seguindo a linha ideológica da grande mídia.

Pra se constatar esse controle basta observar o tratamento dado a um tema em voga, que é a crise da Síria. Prevalecem a posições belicistas vindas dos Estados Unidos, com carimbo da Casa Branca. Mesmo as opiniões e informações de lideranças de preso, como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, são deixadas de lado. Nem se fala de outros porta-vozes que também trariam conteúdos diferentes.

Portanto, uma política que busque verdadeiramente a democratização da mídia passa por uma revisão dos critérios de aplicação da grana pública que a sustenta. Afinal, a Rede Globo pode até procurar Lula e fazer autocrítica do apoio que deu ao golpe militar de 1964, pois sua linha editorial seguirá no mesmo tom.

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