A importância do crescimento econômico

Embora os indicadores financeiros da economia nacional sejam positivos, com
o chamado risco-Brasil alcançando o seu nível histórico mais baixo nesta
quarta-feira (9-8), a marcha da produção real de mercadorias ao longo dos
últimos meses não

Se o Brasil cresce menos, num contexto mundial marcado pelo acirramento da concorrência e o desenvolvimento desigual dos países, tende a ficar inapelavelmente para trás e, o que é pior, mais frágil diante do capital estrangeiro e das potências capitalistas, o que não é bom para a soberania nacional ou para o Mercosul. Daí se deduz a importância e necessidade do crescimento econômico.



Desempenho medíocre



De acordo com os números divulgados ontem pelo IBGE, a produção da indústria nacional declinou 1,7% em junho na comparação com maio, recuando em 10 das 14 regiões pesquisadas pelo instituto e crescendo apenas nos Estados do Espírito Santo (5,1%), Pernambuco (2,2%), Ceará (0,9%) e Pará (0,2%). O resultado acumulado no segundo trimestre do ano foi negativo.



Governo, empresários e analistas esperam uma melhoria das atividades no segundo semestre e há sinais de que em julho a performance já foi melhor. Todavia, ninguém aposta que a recuperação em curso seja forte o suficiente para viabilizar uma redução mais expressiva do desemprego ou um índice robusto de crescimento do PIB brasileiro em 2006, a exemplo do que ocorre na Ásia e mesmo na América Latina com Argentina e Venezuela, por exemplo).



Como era de se esperar, a desaceleração do setor acabou afetando o mercado
de trabalho. As últimas estatísticas do IBGE indicam que a taxa de desemprego aberto subiu nas seis principais regiões metropolitanas do país e fechou o mês de junho em 10,4%, contra 10,2% em maio.



Cabe assinalar que, apesar da valorização do real, as exportações continuam de vento em popa. As vendas externas renderam US$ 13,6 bilhões em julho, um valor mensal sem precedentes em nossa história. O superávit comercial também foi recorde, perfazendo US$ 5,6 bilhões, embora as importações tenham subido, o que (ao contrário do que muitos pensam, convém registrar) é positivo para a economia.



Mercado interno e valorização do trabalho



O contraste entre o desempenho do comércio exterior e o da economia nacional
como um todo, em especial do setor industrial, sugere que o incremento das exportações não garante, por si só, o crescimento que a nação demanda e anseia. A razão dos que criticam o modelo exportador ou a ênfase excessiva no comércio exterior reside também no fato de que as divisas procedentes do excedente comercial têm servido principalmente para pagamento de juros, lucros e dividendos, configurando poupança nacional apropriada pelo capital financeiro internacional em detrimento dos investimentos produtivos no país.



A recuperação do mercado interno, notavelmente deprimido pela redução da participação dos salários no PIB verificada desde meados dos anos 1980, vai se revelando indispensável para a retomada de um ciclo mais duradouro do denvolvimento nacional e do ritmo de crescimento que caracterizou a economia brasileira no período compreendido entre 1930 e 1980 e é hoje exibido por alguns países asiáticos e latino-americanos.



Entre outras coisas, a ampliação do mercado interno brasileiro pressupõe a valorização do trabalho, a começar por um aumento substancial da oferta de emprego e a recuperação dos salários reais. As bandeiras do trabalho – como redução da jornada, restrição das horas extras, valorização permanente do salário mínimo etc – transformaram-se, conseqüentemente, em bandeiras do desenvolvimento nacional.



De todo modo, é preciso enfatizar que o rumo da revalorização da força de trabalho e do desenvolvimento supõe mudanças na política econômica, destacadamente a redução dos juros reais e das restrições fiscais, conforme reivindicam representantes dos movimentos sociais. Conforme ponderam muitos economistas, sem a recomposição da capacidade de investimentos do setor público (que não se fará enquanto persistir a orientação de superávits primários elevados e a União continuar remunerando os detentores de títulos públicos com juros de agiota) será difícil, senão impossível, lograr um crescimento econômico sustentado e vigoroso.



A luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento, capaz de garantir crescimento com soberania e valorização do trabalho, está certamente na ordem do dia da nossa história, cabendo compreender que o caminho em sua direção passa pela reeleição do presidente Lula e o reforço da unidade e capacidade de mobilização e pressão dos movimentos sociais por mudanças e transformações sociais mais profundas do que as que foram conquistadas até o momento.

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