A Índia e Seus Fantasmas

O povo indiano visto pela ótica de Louis Malle em sua obra “A Índia Fantasma”, a literatura de Haruki Murakami e a Associação Brasileira de Críticos de Cinema

Cena do filme "A Índia Fantasma"

O título do filme, ou melhor, da série que está no site Making Off é mesmo “L’Inde fantôme”, e foi realizado pelo cineasta francês Louis Malle. São sete capítulos. Foi um trabalho de fôlego documentando esse grande país Índia. E tenho a impressão de que para quem quer conhecer a humanidade na sua forma essencial de ser sempre é importante rever obras como esta.

Louis Malle é um cineasta conhecido comercialmente no mundo da exibição cinematográfica, mas um filme como “A Índia fantasma” somente chegará para um público especial. Entretanto, muitos poderão se aproveitar dele para estudos, inclusive antropológicos.

O cineasta foi para a Índia nos anos 60 do século XX, simplesmente acompanhado por uma equipe de um câmera, Étienne Becker, e um especialista em som, Jean-Claude Laureux. E os três filmaram nos anos 1968 pelo país inteiro. O filme foi concluído na França na sua parte mais técnica.

Malle estruturou o seu documentário cinematográfico através da imagem e de uma narrativa que ele mesmo fez. O cineasta tinha o curso de Política na Sorbonne e isso explica a sua maneira de abordar a obra. Entretanto, o fato de ele ter dado muita importância a seus comentários deixou que a parte visual perdesse um pouco. Malle fala quase sem parar durante as mais de 6 horas que duram a obra.

Cena do filme “A Índia Fantasma”

Como era uma equipe pequena, foi fácil se aproximar das pessoas. E ai temos a grande dimensão do filme. Eles filmam bem próximo dos personagens que são figuras reais, sem restrição de ninguém. Todos demonstram disposição para serem filmados. E há então uma interação entre o cineasta e as pessoas. O documentário ganha uma dimensão assim de documento antropológico mostrando uma inteira verdade. Não há mentiras. Embora também exista uma certa ingenuidade no mostrar a exposição das pessoas. A ideia de que a Índia é, era um país dominado totalmente pelo espírito religioso está muito presente e documentado. Entretanto, talvez tenha faltado a Louis Malle uma busca maior para registrar também a presença de pessoas da classe burguesa. Mostrar como estas viviam seria importante para colocar a questão da pobreza geral em que vivia o povo. As populações são vistas como grandes massas quase primitivas.

Esse documentário é importante talvez em primeiro lugar para quem queira pesquisar a cultura do ponto de vista popular. O folclore musical. Grande parte do que temos são pessoas rezando, porém, ao mesmo tempo, cantando e também dançando. Assim, é um filme belo, além de sua força cultural.

Em vários momentos, surge a presença de grupos políticos que se envolvem com as pessoas e inclusive com a bandeira comunista tremulando. Era uma época em que a revolução chinesa estava muito presente nessa região.

Cinema para educar, não para divertir. É o que nos interessa.

Olinda, 17.07. 2021

Ao sul da fronteira, ao oeste do sol

Livro “Ao Sul da Fronteira, ao oeste do Sol”

Me parece que já faz uns cinco anos que eu leio principalmente através de e-books e não de livros em papel. E quando eu realmente comecei com esse tipo de leitura, escolhi o romance “1q84” de Haruki Murakami, comprado na Amazon. Isso porque eu pensei em começar com algo menos denso, porém dentro das qualidades que me interessavam. E um dos aspectos que me atraiu foi o livro ser um escritor japonês. E também ter uma certa faceta especial a partir do título.

A partir dessa situação inicial continuei a ler os livros de Murakami como quem acompanha algo especial.

Esse livro “Ao sul da fronteira, ao oeste do sol”, que acabei de ler, me fez ter uma experiência particular. Estava conversando com meu neto Victor Mendes que leu uma notícia sobre o lançamento em português, e ele aparecia como um novo livro de Murakami. Mas, depois, notamos que não era na verdade um lançamento novo, mas de uma obra de 1995, que ainda não havia sido traduzida em português. Eu fiquei achando que já conhecia esse trabalho, pois já conhecia o título. E então fui procurar na minha coleção de livros e realmente o encontrei em tradução e lançamento da Espanha. Então me pus a ler. No começo não senti emoção nenhuma, mas em muitas situações que o livro apresentava eu sentia como se já o tivesse lido. Na verdade, já o tinha lido. E nessa tradução espanhola.

Confesso que comecei e o considerei um livro de menor importância. E então parei a leitura e fui atrás de algum comentário para ver o que especialistas tinham pensado. E li um de certa forma extenso comentário na revista de livros “quatro cinco um”, em que o autor mostrava valores que eu ainda não conseguira encontrar. Então continuei.

Escritor Haruki Murakami

Li “Al sur de la frontera Al este del sol” com mais ou menos vagareza. Lia um capítulo por dia e algumas vezes dois capítulos. Já os capítulos 11, 12 e 13 li apenas em um dia. E os dois últimos cada um em um dia. Esse livro me tornou mais próximo da literatura de Murakami. Fiquei considerando que não posso ter mais dúvida do valor literário dele. Não é apenas um “escritor de sucesso popular”.

Claro que é um livro quase autobiográfico. Muito do que ele narra claramente tem relação com sua própria vida. Sua vida pessoal. Mas não é possível negar que para criar um personagem como Shimamoto é preciso que se seja um verdadeiro escritor. Não se consegue entrar na alma de um personagem com a força como Murakami penetra sem que sejamos um autêntico artista. Não se trata simplesmente contar uma estória, mas criar com o máximo de técnica uma obra de arte literária.

Esse romance é, se pode dizer que em volta dos personagens eles são em primeiro lugar Hajime, que é o próprio Murakami. Sua formação de criança e até se tornar proprietário de um clube de jazz. O autor foi no começo de sua vida profissional justamente isso. E foi também um esportista corredor e lá ele já conta como começou a nadar todos os dias. Também é criada com excelente dimensão a figura de Izumi, que foi a primeira namorada, como colega da universidade. Outra personagem muito bem estruturada é a esposa Yukiko. E o pai desta, o sogro. Por ele, Haruki Murakami consegue colocar na dimensão do romance toda a sujeira social que uma simples família da vida cotidiana pode viver. Com toda a tranquilidade, ou digamos, com inocência aparente.

Olinda, 11. 07. 2021

Associação de críticos de cinema

A Abraccine comemorou essa semana 10 anos de existência. A moça que é Presidenta falou como se nunca houvesse existido antes outra associação no Brasil. Na verdade, começaram e acabaram por falta de condições para continuar. Mas já existiram.

Olinda, 25.07. 2021

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