A infidelidade feminina prenuncia uma nova moral?

A infidelidade masculina tem sido a regra e é moralmente aceitável desde a instituição da monogamia feminina. A infidelidade feminina tem sido condenada e vista como moralmente inaceitável. Homens traem desde sempre e mulheres também, só que num percentua

Para Jean Bernard, em ''Da Biologia à Ética – Bioética'', ''Geneticistas e demógrafos consideram que na Europa Ocidental 5% a 15% das crianças são adulterinas. É um número elevado, mesmo a taxa mais baixa (5%). Os dados biológicos modernos não cessam de se aliar às questões de interesse, sórdidas ou não, os orgulhos feridos, os amores paternais, maternais e filiais tragicamente contrariados''.


 


 


Acompanho regularmente pesquisas sobre infidelidade feminina para entender de que modo o patriarcado é afetado pelas mudanças operadas no comportamento feminino a partir do advento da anticoncepção hormonal, que impôs um novo padrão de exercício da sexualidade ao promover a cisão entre sexualidade e procriação: a visão da sexualidade com fins lúdicos. O marco das pesquisas do que conhecemos por sexologia é o pós Segunda Guerra Mundial: pesquisas de A. C. Kinsey, W. B. Pomeroy e C. E. Martin que resultaram no Relatório Kinsey sobre sexualidade masculina (1948) e feminina (1953); estudos de William H. Masters e Virgínia E. Johnson (1966 e 1970) e o Relatório Hite (1980 e 1990).


 


 


A intensificação de pesquisas sobre infidelidade feminina ocorreu paralelamente à identificação da paternidade via teste de DNA, a segunda grande derrota histórica das mulheres (a primeira foi a reversão do direito materno), pois lhes retira o poder absoluto de determinar quem é filho de quem. Desde sempre as mulheres sabem de quem são mães. Os pais só descobriram sua participação na geração da descendência há pouco tempo e a paternidade ficava na dependência da indicação da mulher. Eles eram obrigados a confiar. Certeza de paternidade (99%) só quem pode lhes assegurar é o teste de DNA, novidade disponível na década de 1980.


 


 


''Mulheres infiéis: Pesquisas mostram por que elas estão traindo mais e como identificar sinais de infidelidade'' é a chamada de capa da ''IstoÉ'' nº 2.037 (19.11), que no sumário destaca: ''capa – Traição feminina: mulheres assumem que estão traindo mais. E o ambiente de trabalho é o mais propício para escapadas''. Na página 68, sob a denominação de comportamento, o título é: ''Elas estão traindo mais'', matéria de Rodrigo Cardoso e Carina Rabelo, com dados de cinco pesquisas que demonstram que as mulheres estão traindo mais ou confessando mais que traem.


 


 


Mais que o conteúdo, em cinco páginas, as chamadas diferentes, para um mesmo tema, impressionam! Talvez o assunto seja moralmente tão grave que um único título seria insuficiente para levar à conclusão de que urge ensinar aos homens os sinais da infidelidade feminina. Fiquei irada!


 


 


Há muito mais nos dados da suposta crescente infidelidade feminina: o contrato social de fidelidade entre os cônjuges é fácil de ser quebrado porque caduca quando um deles se interessa por outra pessoa. É uma lei da natureza humana que precisa ser lida com franqueza e não sob os olhares de uma moral arcaica e decadente. A fidelidade só faz sentido quando voluntária. A moral hodierna, ainda estribada em uma cultura patriarcal, faz de conta que não entende que a obrigatoriedade de ser fiel nos relacionamentos afetivo-sexuais é uma violência quando não mais se deseja aquela pessoa, ou somente aquela pessoa!

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