A integração latino-americana de fato e as cidades

O sonho de Bolívar, de Neruda, de Mercedes e tantos outros avançou a passos largos após o advento da posse do timoneiro Luís Inácio Lula da Silva em 2003.

O Mercosul, que antes era só um instrumento para algumas empresas fazer negócios, aos poucos se transformou em palco político, em cenário de debate dos problemas comuns que nós enfrentamos, com suas cumbres, seus tratados nas mais diversas áreas, a presença constante de quase todos os chefes de governos dos países da América do Sul e alguns da América Central, o debate sobre o Parlasul e outros instrumentos.

A integração de fato se dá desta maneira, gradual, sempre, com trocas de experiências políticas, adoções de ações comuns, com lideranças fortes e vários chefes de governo buscando o mesmo objetivo.

Mas a integração de fato se efetiva é nas cidades fronteiriças. É onde brasileiros, argentinos, paraguaios e uruguaios se encontram, convivem, trabalham, trocam experiências culturais.

Neste contexto, a cidade de Foz do Iguaçu e a tríplice fronteira composta pelos municípios de Ciudad del Este, Puerto Franco e Hernandárias (Paraguai) e Puerto Iguazu (Argentina), compõem uma espécie de coração do Mercosul, tanto pela localização geográfica, como pela composição demográfica e pelo fator econômico. É a maior fronteira sulamericana.

Do ponto de vista geopolítico, é a mais visada fronteira pelas forças conservadoras mundiais e seus representantes na imprensa, já que nessa região vivem pacificamente representantes das mais diversas correntes políticas e religiosas do Oriente Médio e da Ásia.

É nessa fronteira que está instalada (localizada nos municípios de Foz do Iguaçu e Hernandárias) a maior hidrelétrica do mundo (ainda), a Itaipu Binacional e sua portentosa contribuição para o desenvolvimento brasileiro e paraguaio. Estão presentes duas rotas de integração latina (a Ponte da Amizade que liga Foz do Iguaçu a Ciudad Del Este – Paraguai e a Ponte Tancredo Neves – Foz do Iguaçu a Puerto Iguazu – Argentina). E está integrada por um dos maiores atrativos turísticos naturais do mundo, as Cataratas do Iguaçu, patrimônio brasileiro e argentino, com a área de preservação natural compartilhada pelos dois países.

Pela primeira vez um governo brasileiro entendeu isso e passou a tratar essa fronteira não apenas como rota de contrabando ou caso de polícia, como era até a posse de Lula em 2003, mas sim como elemento fundamental na constituição da nossa integração. As políticas de cooperação, especialmente com o governo paraguaio, se transformaram em atos rotineiros, assim como os investimentos em políticas sociais e projetos que visem a ampliação desta integração.

Um dos primeiros atos para catalisar a paz na fronteira foi a implementação da cota de US$ 300 para a compra de produtos importados nos países fronteiriços, o que reduziu o contrabando e o descaminho, sem ampliar o desemprego na região. Na mesma proporção, a Itaipu Binacional deixou de ser apenas uma produtora de energia elétrica para ser catalisadora de políticas sociais e ambientais nos municípios que margeiam o Lago de Itaipu nos dois lados da fronteira e diversas vezes incluindo a Argentina.

Neste ano inicia a licitação da segunda ponte entre Brasil e Paraguai, ligando os municípios de Foz do Iguaçu e Puerto Franco, medida fundamental para agilizar o fluxo de veículos na congestionada Ponte da Amizade.

Juntos Brasil e Argentina se mobilizam para colocar as Cataratas do Iguaçu, numa votação internacional, entre os principais atrativos do planeta.

Já está em pleno funcionamento a Unila – Universidade Federal de Integração Latino Americana, com metade de alunos brasileiros e metade dos países latinos da América, assim como professores e funcionários. No seu pico de instalação abrigará 10 mil alunos de graduação e 2 mil de pós. Com projeto arquitetônico de Oscar Niemayer, funciona provisoriamente no território da Itaipu e com suas cátedras já é o principal centro do pensamento progressista latino-americano contemporâneo. Volto a falar da Unila na próxima semana.

Esta construção da integração passa por Foz do Iguaçu e é preciso que a Presidenta Dilma mantenha esta visão. Sem a participação dessa fronteira, a integração não se constituirá efetivamente.

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