A tragédia econômica do regime militar

Nestes tempos em que grupos encontram espaço para dizer que a ditadura militar tem que voltar, que as marchas saudosistas pipocam em algumas esquinas e principalmente para os incautos que não viveram aqueles anos, especialmente setores da classe média, que acham que o país precisa de ordem, que a democracia é responsável por todos os nossos males, é preciso relembrar algumas faces importantes daquele período em que vivemos na absoluta escuridão.

Não falarei dos desaparecidos, dos mortos, da tortura, da barbárie contra os opositores do regime, contra aqueles que lutavam contra a ditadura, por liberdade de expressão, pelos direitos mais tradicionais da democracia ou por um novo tipo de sociedade.

A história revela todos os dias fatos que não só compravam a barbárie do regime, como sua articulação com o intuito de destruir qualquer um que ousasse se rebelar contra qualquer pedaço da ditadura e suas alianças com as outras ditaduras latinas, todas engendradas a partir das mesmas ordens imperialistas do norte.

Falo da economia do regime militar.

Para aqueles que dizem que os governos militares foram eficientes, quero lembrar que no final da ditadura, em 84, recebemos uma inflação de 239% ano (dependendo do período analisado pode-se chegar a 300%), uma dívida externa com o FMI de mais de 100 bilhões de dólares e um parque industrial completamente sucateado.

O país teve um crescimento econômico sim, entre 1968 e 1973, mas baseado na concentração de renda e no endividamento externo do país. Só 4% da população ganhava mais de 10 salários mínimos, que valia menos do que a metade do mínimo de 64. Para se ter uma ideia, no início da década de 60, para quem ganhava o salário mínimo, eram necessário 65 horas trabalhadas para se comprar o que necessitava. No final da década de 70, esta mesma quantia só era possível com 153 horas trabalhadas.

O custo disso foi o crescimento absurdo das favelas nos grandes centros, o êxodo rural e a disparada da miséria brasileira. No campo reinou a miséria absoluta, onde a maioria não ganhava sequer um salário mínimo.

Para lembrar, os investimentos em educação e em saúde inexistiam. A educação e a saúde passam a ser obrigação do Estado apenas após a Constituição de 88. Na parte final da década de 70, mais de 65% da população era considerada desnutrida, segundo dados do Banco Mundial. Outros índices, como mortalidade infantil, dispararam para o lado negativo.

E para aqueles que acham que a democracia inventou a corrupção, basta ver que a ditadura não permitia mecanismos de controle externo e que qualquer um que ousasse denunciar o governo era perseguido, preso, torturado.

As nossas conquistas econômicas, sob o ponto de vista de desenvolvimento capitalista, e a construção de um país respeitado em todo o planeta, se deu na democracia, especialmente nos anos de governos populares iniciados em 2003, quando conseguimos não só a estabilidade monetária e econômica, sobrevivendo a todas as crises mundiais a partir daí e pagando inclusive a dívida externa, como retiramos da miséria absoluta milhões de pessoas, inserimos outras milhões no mercado consumidor, quadruplicamos o valor do salário mínimo, etc.

No combate a corrupção, nunca a polícia federal teve tanta liberdade e estrutura para investigar quem quisesse.

Precisamos é avançar, continuar a luta pela redução dos juros, por mais tecnologia, pela estruturação das tantas universidades criadas, pela reforma do ensino médio, pela reforma política necessária para melhorar o nosso Congresso Nacional, que amplie a democracia, pela reforma tributária, pela reforma do judiciário, enfim continuar a luta para romper os obstáculos que impedem este país de avançar mais, boa parte deles criados ainda no regime militar.

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