A violência humana em Amores Perros
O diretor Iñárritu usa os cachorros para deixar bastante claro que as pessoas vivem em situações muito parecidas com aquelas que encontramos nos cães.
Publicado 10/04/2023 07:00 | Editado 08/04/2023 21:01
Depois que vi “Bardo” do cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu, procurei rever “Amores Perros” (no Brasil, “Amores Brutos), que é, parece, a sua primeira produção de 2000 e está também na Netflix. Me lembrei que o primeiro filme que vi e gostei de Iñárritu foi “Babel”, que é de 2006 e pelo que lembro não tem muita cara do México, embora a situação das pessoas seja claramente terceiro-mundista. Garotos mexicanos atiram num ônibus de turismo nas montanhas, e assim se cria uma estória internacional. Estou agora bastante interessado em conhecer toda a filmografia de Iñárritu.
Mas é bastante interessante ver um filme de 2022 (Bardo) e rever outro filme do mesmo diretor de 22 anos antes (Amores Perros), e isso foi o que aconteceu. Principalmente quando se trata de um artista cineasta que claramente tem a consciência do seu povo e mesmo quando faz uma obra ‘internacional’, fala dos seus. No caso de “Amores perros” e “Bardo”, os dois falam de assuntos ligados ao mesmo povo. No caso de “Bardo”, Iñárritu aborda diretamente o México e sempre de uma forma cinematográfica poética. E no caso de “Amores Perros”, não há referência direta pelos diálogos ao México, mas o espectador mais atento sabe sem dúvida que ali estão personagens mexicanos. O filme se compõe de pelo menos três situações, e o que mais o diferencia é mesmo a linguagem. No começo, temos cenas quase todas em primeiros planos, mas depois as imagens vão se ampliando, e nas últimas sequências as cenas, além de serem mais amplas, são em ritmo mais lento, como acontece em quase todo “Bardo”.
Em “Amores Perros”, temos a presença quase constante de cachorros, que são sem dúvida personagens centrais, e um deles chega a ser morto com um tiro. Temos a impressão de que Iñárritu usa os cachorros para deixar bastante claro que as pessoas vivem em situações muito parecidas com aquelas que encontramos nos cães. Mesmo nesse filme, o diretor não deixa de aproveitar para mostrar ao público internacional em que situação vive aquele povo.
Certamente, não é que tenhamos menos poesia em “Amores Perros”, mas Iñárritu, que tinha ainda menos experiência no manejo da linguagem cinematográfica nesse filme, também tinha na verdade menos recursos para a produção. Vou tentar ver toda a filmografia de Alejandro Iñárritu, e se possível comentar cada filme. A cultura mexicana faz parte da nossa e quanto mais a conhecemos, melhor podemos analisar a nossa cultura nordestina.
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Olinda, 09. 03. 23
Cidade invisível: a cidade?
Eu vi o primeiro episódio da temporada 2 da série “Cidade Invisível”, pelo fato de estarmos conversando e Rachel ter lido um anúncio dessa série, quando pensou que se tratava de um filme inspirado no livro do escritor italiano Italo Calvino. Mas então comecei a assistir na Netflix e notei que se tratava de um episódio, e pelo menos para mim me sinto vendo um simples engodo. Filme pode ter oito horas de duração e ser uma obra genial como a obra de Bela Tarr “Sátántangó”. Um episódio de um seriado é outra coisa.
Você então assiste a um episódio de “Cidade Invisível” com uma hora de duração, e mesmo que não tenha assistido a nenhum outro episódio, vê que se trata de uma obra cinematográfica industrial. Tudo é inteiramente perfeito, inclusive porque, me parece, o estilo adotado pelo cineasta é de um cinema publicitário. Tudo é perfeito. Da iluminação às interpretações. E o próprio roteiro pode apresentar questões sociais que apresentam uma crítica direta a quem comanda a ação social na região em que se apresenta a estória.
Carlos Saldanha eu realmente não conhecia, mas ele que nasceu em 1965 é um trabalhador famoso da cinematografia. Vejo que não deixa nunca de trabalhar, pois se não tem um filme para dirigir faz até dublagem. É produtor. É ator.
Ele inclusive é famoso como autor de filmes de animação, e nesse setor já foi premiado no Oscar e seus filmes desse gênero fazem sucesso. Depois de tomarmos conhecimento de figuras como esta de Carlos Saldanha, temos de reconhecer que a indústria do cinema já tem presença em nosso país. Então claro que é importante que existam trabalhadores desse tipo, entretanto não me interessa ver suas obras. Imagens por imagens, eu prefiro aquelas que se colocam como arte e não como produto comercial.
Olinda, 25.03. 23