A violência humana em Amores Perros

O diretor Iñárritu usa os cachorros para deixar bastante claro que as pessoas vivem em situações muito parecidas com aquelas que encontramos nos cães.

Depois que vi “Bardo” do cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu, procurei rever “Amores Perros” (no Brasil, “Amores Brutos), que é, parece, a sua primeira produção de 2000 e está também na Netflix. Me lembrei que o primeiro filme que vi e gostei de Iñárritu foi “Babel”, que é de 2006 e pelo que lembro não tem muita cara do México, embora a situação das pessoas seja claramente terceiro-mundista. Garotos mexicanos atiram num ônibus de turismo nas montanhas, e assim se cria uma estória internacional. Estou agora bastante interessado em conhecer toda a filmografia de Iñárritu.

Mas é bastante interessante ver um filme de 2022 (Bardo) e rever outro filme do mesmo diretor de 22 anos antes (Amores Perros), e isso foi o que aconteceu. Principalmente quando se trata de um artista cineasta que claramente tem a consciência do seu povo e mesmo quando faz uma obra ‘internacional’, fala dos seus. No caso de “Amores perros” e “Bardo”, os dois falam de assuntos ligados ao mesmo povo. No caso de “Bardo”, Iñárritu aborda diretamente o México e sempre de uma forma cinematográfica poética. E no caso de “Amores Perros”, não há referência direta pelos diálogos ao México, mas o espectador mais atento sabe sem dúvida que ali estão personagens mexicanos. O filme se compõe de pelo menos três situações, e o que mais o diferencia é mesmo a linguagem. No começo, temos cenas quase todas em primeiros planos, mas depois as imagens vão se ampliando, e nas últimas sequências as cenas, além de serem mais amplas, são em ritmo mais lento, como acontece em quase todo “Bardo”.

Em “Amores Perros”, temos a presença quase constante de cachorros, que são sem dúvida personagens centrais, e um deles chega a ser morto com um tiro. Temos a impressão de que Iñárritu usa os cachorros para deixar bastante claro que as pessoas vivem em situações muito parecidas com aquelas que encontramos nos cães. Mesmo nesse filme, o diretor não deixa de aproveitar para mostrar ao público internacional em que situação vive aquele povo.

Certamente, não é que tenhamos menos poesia em “Amores Perros”, mas Iñárritu, que tinha ainda menos experiência no manejo da linguagem cinematográfica nesse filme, também tinha na verdade menos recursos para a produção. Vou tentar ver toda a filmografia de Alejandro Iñárritu, e se possível comentar cada filme. A cultura mexicana faz parte da nossa e quanto mais a conhecemos, melhor podemos analisar a nossa cultura nordestina.

Assista ao trailer

Olinda, 09. 03. 23

Cidade invisível: a cidade?

Eu vi o primeiro episódio da temporada 2 da série “Cidade Invisível”, pelo fato de estarmos conversando e Rachel ter lido um anúncio dessa série, quando pensou que se tratava de um filme inspirado no livro do escritor italiano Italo Calvino. Mas então comecei a assistir na Netflix e notei que se tratava de um episódio, e pelo menos para mim me sinto vendo um simples engodo. Filme pode ter oito horas de duração e ser uma obra genial como a obra de Bela Tarr “Sátántangó”.  Um episódio de um seriado é outra coisa.

Você então assiste a um episódio de “Cidade Invisível” com uma hora de duração, e mesmo que não tenha assistido a nenhum outro episódio, vê que se trata de uma obra cinematográfica industrial. Tudo é inteiramente perfeito, inclusive porque, me parece, o estilo adotado pelo cineasta é de um cinema publicitário. Tudo é perfeito. Da iluminação às interpretações. E o próprio roteiro pode apresentar questões sociais que apresentam uma crítica direta a quem comanda a ação social na região em que se apresenta a estória.

Carlos Saldanha eu realmente não conhecia, mas ele que nasceu em 1965 é um trabalhador famoso da cinematografia. Vejo que não deixa nunca de trabalhar, pois se não tem um filme para dirigir faz até dublagem. É produtor. É ator.

Ele inclusive é famoso como autor de filmes de animação, e nesse setor já foi premiado no Oscar e seus filmes desse gênero fazem sucesso. Depois de tomarmos conhecimento de figuras como esta de Carlos Saldanha, temos de reconhecer que a indústria do cinema já tem presença em nosso país. Então claro que é importante que existam trabalhadores desse tipo, entretanto não me interessa ver suas obras. Imagens por imagens, eu prefiro aquelas que se colocam como arte e não como produto comercial.

Olinda, 25.03. 23

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