A voz do jazz

No Brasil, frequentemente homenageamos ou recordamos de nossas celebridades na data em que faleceram, esquecemos de lembrar seu aniversário. Sempre pensei que talvez isso seja parte de um inconsciente pessimista, que sente a dor da morte, mas que não celebra a vida e a obra daqueles que admiramos. Eu, por outro lado, exalto este mês os cem anos de existência de Eleanora Fagan, a voz doce e especial do jazz, conhecida por todos como Billie Holiday.

Aqui em Nova York, Estados Unidos, vejo diversas homenagens oferecidas a diva do jazz, que morreu aos 44 anos de idade. No Harlem, foi incorporada sua estrela à Calçada da Fama, ao lado de tantos outros ícones negros como, James Brown, Gladys Knight & the Pips, Etta James e Louis Armstrong. Além disso, a cantora Cassandra Wilson lançou um disco inteiro em homenagem "à beleza, ao poder e ao gênio de Billie Holiday", reunindo 11 de suas canções, enquanto o luxuoso Lincoln Center programou "Billie Holiday Festival", celebrado em diversas salas de Nova York.

Billie Holiday, a partir de sua figura, representa o jazz e a cultura negra com histórias de superação, beleza e carisma. Em uma época em que negros aqui, só eram bons se fossem músicos e mulheres eram subjugadas por toda a sociedade, Billy Holiday surge com sua entonação profunda que se diferenciava imediatamente do tradicional jazz que imperava na época. Aos poucos, Lady Day, como também ficou conhecida, foi avaliada por muitos críticos como a maior de todas as cantoras do jazz.

E quantas Billie Holiday poderíamos ter se não fosse o racismo? Quantos Jamelões, Carolinas, Abdias e demais mereciam homenagens extravagantes pelos cem anos de existência? Aqui, deixo de lembrança não sua morte, causada pela depressão e envolvimento com drogas, mas um brinde à vida daquela que continua a ser a número um mesmo cem anos após seu nascimento.

Fonte: Agência Brasil 

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