África do Sul: o País da Copa

Oficialmente conhecida como "República da África do Sul",  é um país situado no extremo sul da África, com 2.798 quilômetros de belo litoral, sobre os oceanos Atlântico e Índico. Em 1652, um século e meio após a descoberta da Rota Marítima do Cabo, a Companhia Holandesa das Índias Orientais fundou uma estação de abastecimento que mais tarde seria a Cidade do Cabo, que tornou-se uma colônia britânica em 1806.

Em 1961, a África do Sul conquistou sua "independência política" e se tornou uma República apoiada fortemente no regime de segregação racial cruel e sanguinário conhecido como APARTHEID. Este regime estabelecia três categorias de estratificação racial: brancos, colorados e negros, com evidente prejuízo à maioria da população negra que há mais de 100 mil anos habitam a região, em especial Zulus e Xhosas.

Em, ou melhor, a partir de 1990, com grande papel, nós sabemos, de Nelson Mandela, o sistema perverso começou a ruir de fato. Claro que tudo isso após anos de protesto e revoltas do povo que contou com o apoio de progressistas e até de não progressistas de todo o mundo. E culminou com as eleições livres de 1994 e com a escolha de Mandela para presidir o país. Na verdade, o episódio foi uma verdadeira revolução de ensinamentos ainda pouco assimilados por nós do ocidente e talvez até por boa parte da África continental.

É um país de grande diversidade étnica. Fala-se onze idiomas oficiais, embora o Inglês seja o mais falado na vida pública, comercial. No entanto, em "casa", é a quinta língua.

Pois bem, é neste país de história bela e conturbada, de belezas singulares e de características bem peculiares que ocorrerá o maior evento esportivo do mundo em termos financeiros e de marketing. Claro que as Olimpíadas a supera em termos de participação efetiva de países. Mas do ponto de vista da repercussão, do envolvimento de cifras astronômicas, a Copa do Mundo de Futebol é um evento fantástico. Até porque, uma única modalidade esportiva movimentar tantos recursos humanos e financeiros é, sem dúvida, algo surpreendente. Isto sem falar da extraordinária mobilização popular que envolve o planeta.

Agora sim, com o evento na África, a Copa fica definitivamente sendo “do Mundo”. A África do Sul, com seus encantos, fascínios, belezas naturais, riquezas e pobreza, tem no críquete e no rúgbi esportes cultuados pela minoria branca que "passaram" a ser preferidos pela população.

O país está em verdadeira ebulição, obras por toda a parte. Corre-se para dar conta dos prazos. Todos os estádios estão construídos e em fase final de acabamento. Porém, o medo e a desconfiança européia, que não conseguiu e nem consegue esconder o preconceito, só expõe os aspectos negativos. Tenta de todas as formas secundarizar os esforços meritórios do governo e do povo sul-africano, que resolveram assumir com entusiasmo a realização da Copa.

As três capitais: Cidade do Cabo (Legislativa), Pretória (Executiva) e Bloemfontein (Judiciária) estão fervendo e, em particular a Cidade do Cabo, que é belíssima e lembra o Rio de Janeiro.

Para entender melhor é o seguinte: há quatro grandes grupos "raciais" na África do Sul: negros, brancos, coloureds (que poderíamos chamar grosso modo de mestiços) e índios (Zulus, da província de Kwazulu-Natal). Negros e coloureds sempre mantiveram uma certa convivência. Com os brancos, é claro (sem trocadilhos), a história continua sendo outra. Há informações de choques entre sul-africanos e imigrantes de nações miseráveis do continente que invariavelmente termina em tragédia. As favelas de Johannesburgo são um verdadeiro barril de pólvora.

Ao desembarcar na belíssima cidade do Cabo (Cape Town, no inglês nativo) você praticamente não tem contato com essa realidade, a não ser pelos jornais ou pelos assentamentos à margem da rodovia, que é o caminho até o aeroporto. A table Moutain serve de ponto de referência desse belo balneário e pode ser acessado por um moderno teleférico. As praias da orla urbana, lindas, principalmente as numeradas de 1 a 4, de águas azuis-claras e geladas com areias brancas, finas e fofas, completamente dominada do ponto de vista turístico por europeus. Esta cidade, com mais de três milhões de habitantes, ainda conserva marcas terríveis do período do apartheid. A baía do Campos Bay, uma das mais belas que meus olhos já viram, carrega até hoje marcas deste período, quando se vê que a areia branca era reservada aos brancos enquanto a parte de pedras eram reservadas aos negros. Mas de lá, dando um pulinho ao Cabo da Boa Esperança os torcedores-turistas terão uma das mais belas viagens de suas vidas com certeza.

Este artigo, pequeno, tem como objetivo dizer aos amigos leitores que a Copa na África do Sul vai mostrar bem mais do que futebol. Vai mostrar um país em luta para se livrar do seu passado sem jamais esquecê-lo. Vai ver um povo alegre e combativo. Amantes da dança e da música. Um povo bonito e com auto-estima considerável. Vai ver que, infelizmente, falta um melhor futebol a esta seleção nacional dirigida pelo cultuado (ao menos pela Globo) Carlos Alberto Parreira, que com sua "preguiça" recorrente não consegue "encaixar" um padrão de jogo e nem animar o jovem e limitado time dos "Bafanas-bafanas". É uma pena, pois a torcida lá é grande para que o Brasil ganhe a Copa, se não for possível uma seleção africana, é claro. Porque ninguém lá quer que ganhe um time europeu.

Ao encerrar estas mal-traçadas linhas é justo que faça uma menção à política local, sem querer fugir do escopo deste artigo. Mas algo que me chamou atenção, além do esforço hercúleo que o CNA (Congresso Nacional Africano) e o governo fazem para erradicar a herança maldita de tanto tempo de extrema concentração de renda e proliferação de pobreza. É visível que existe, do ponto de vista material e estrutural, dois países. Um forte, desenvolvido, com construções fantásticas e pujantes, até faraônicas; e outra parte onde vive a imensa maioria do povo em locais pobres e violentos.

Jacob Zuma, 4º Presidente pós -apartheid está disposto, segundo afirmou , a dar continuidade ao trabalho de reconciliação nacional iniciado no governo de Nelson Mandela em 1994. Destacou em seu discurso de posse que a prioridade de seu governo será a consolidação do caminho para o convívio pacífico.

O destaque altamente positivo é que o CNA, vencedor das últimas eleições, destacou e elevou o número de mulheres para 50% dos cargos eletivos parlamentares. Ficando apenas atrás da Suécia e de Ruanda e o governo central tem ainda 14 ministras e 12 vice-ministras de um total de 32 ministérios que compõem o Gabinete Presidencial. Nada mal, né?

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