Alberto: Infelizmente ainda acontece… Preconceito entre nós

 Era mais um dia de trabalho, escola pública. Ermelino Matarazzo zona leste da cidade de São Paulo, por volta das dez horas da manhã. Preparo-me psicologicamente para lecionar mais uma aula, a quarta do dia.

Entro na sala (1ºf) educadamente dou um bom dia aos alunos, alguns são recíprocos. Inicio a minha aula recitando uma poesia de Sérgio Vaz (Pé-de-pato), a aceitação foi muito positiva. No decorrer da aula chega um aluno atrasado, bate na porta, eu abro, o mesmo quer se adentrar, eu questiono seu atraso, reluto um pouco mas deixo-o entrar. O garoto parece não gostar da chamada de atenção. Mesmo estando errado queria estar certo.

O aluno visivelmente irritado entra se acomoda e começa a conversar com os colegas, o problema era que ele não parava um minuto de rir e conversar, atrapalhando diretamente o desenvolvimento da aula, chamei-lhe a atenção novamente, vixi! Não adiantou. Piorou! O alvo das gracinhas agora era o professor. O aluno começou a me caçoar, zombou a minha altura, as minhas roupas largas, o tamanho do meu pé, o meu cabelo Black, chegou até me chamar de king-kong (professor sofrendo bullying) se acredita? Só para ser visto como o engraçadinho da turma. Nossa! Fiquei puto por dentro.

Minha vontade era de… Mas filho de baiana como sou sustentei a calma e me controlei. Simplesmente saí da sala, chamei o inspetor de alunos e disse que tinha um tal aluno me ofendendo, levamos o garoto até a diretoria, chegando lá a diretora deu uma bela bronca e um susto no aluno… e perguntou para mim se eu gostaria de abrir um boletim de ocorrência alegando injúria racial, desrespeito ao funcionário público. Na hora pensei, se a guerra é entre
nós, “nóis tamu” sem futuro. (Rappin Hood). Não sei se agir corretamente deixei pra lá, optei pelo não, deixei o aluno com a bronca e o susto mesmo, espero que tenha aprendido algo.

Achei que não deviria levar o caso as burocracias. O garoto era um jovem miscigenado de família simples, no país da diversidade cultural! Mais um irmão periférico (“não responsável pelos seus atos”), inocentemente ludibriado por um sistema preconceituoso, sem saber que também era uma vítima da sociedade racista.

Alberto Sagaz é morador de Ermelino Matarazzo, zona leste-SP Professor de Ed. Física, Dj e admirador da cultura hip hop e popular.

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