Alexandre, o pequeno

Tente começar bem o dia ouvindo os comentários de Alexandre Garcia (para não forçar a barra, deixo de fora Mirian Leitão) no jornal que ironicamente leva o nome de “Bom dia Brasil”. Impossível.

Exceto para aqueles que dão ao cérebro o mesmo tratamento que o urinol, ou para quem tem coragem e estômago para digerir a “versão do inimigo” (para estes, meus sinceros votos de boa sorte), não merecemos levantar da cama ouvindo esse oráculo da direita. Por experiência própria, aprendi que não é nada auspicioso acordar e, ainda sonolento, ouvir as provocações desse senhor.

A última que ouvi sair da sua boca foi que em Honduras não houve nenhum golpe de Estado. A reação é sempre a mesma: belisquem-me para ver se de fato já acordei.

Mas temos que entender que na cabeça de quem já foi até porta-voz de um ditador (o paladino da ética e da democracia já serviu ao general João Figueiredo) e teve como guru Golbery do Couto e Silva (1), deve ser muito traumático falar sobre golpes de Estado.

Assim, as mesmas justificativas para o golpe militar de 1964 no Brasil são dadas para Honduras. Na sua visão reacionária, as forças armadas daquele país estão apenas cumprindo com o seu dever de fazer cumprir a constituição hondurenha.

Nem “a falta de devido processo legal, a inexistência de apoio da comunidade internacional e a origem em um levante para remover um chefe de Estado legitimamente eleito”, como afirma matéria na própria Folha de São Paulo (2), remove o senhor Alexandre Garcia de pontuar que Zelaya foi deposto legalmente. Deve pensar o mesmo de Jango.

Mesmo assim, sou impelido a confessar que nutro certo sentimento masoquista alimentado por uma gigantesca curiosidade de saber o que ele vai falar sobre o fechamento da rádio hondurenha que por outra ironia leva o nome da sua emissora. Justamente ele, que tantas vezes esbravejou contra o governo do presidente Hugo Chávez por não ter renovado a concessão do canal venezuelano RCTV, vai dar qual justificativa sobre o fechamento de emissoras de rádios e TVs em Honduras, patrocinado pelo governo que afirma ser legítimo? Por acaso não seria essa ação também uma afronta à constituição hondurenha?

Provavelmente não tocará nesse assunto. Será melhor continuar espinafrando o governo Lula com algum outro tema, para ele, menos espinhoso. Outra possibilidade para quem se vangloria de ter aparecido junto ao ex-ditador uruguaio Juan Maria Bordaberry na primeira página no Jornal do Brasil, seria uma entrevista exclusiva com o presidente de facto de Honduras, Roberto “Goriletti”. Um prato cheio para todos os golpistas brasileiros.

Alexandre Garcia quer ser mais realista que o rei, pois até a Rede Globo hesita em tomar uma posição mais aberta em defesa do golpe. O serviço sujo fica para esses tais comentaristas, como Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi, Boris Casoy e outros do mesmo naipe, em suas respectivas empresas. Até Joelmir Betting, que recentemente teve que ler um editorial vergonhoso da Rede Bandeirantes contra a alteração dos índices de produtividade no campo, precisa prestar-se a esse miserável papel de boi de piranha dos interesses dos barões da mídia.

Mas que seja alertado (assim como seus pares), que a história é implacável com os seus fraudadores. Mais cedo ou mais tarde a máscara de todos os porta-vozes de “ditabrandas” e demais golpistas será arrancada. Daí, o mestre das ironias venais provará do seu próprio veneno.

Enquanto esse dia não chega, continuemos na campanha pela realização da Conferência Nacional de Comunicação e que seja ela um marco da árdua campanha pela democratização dos meios de comunicação, que só se dará quando arrebatarmos toda a pequenez de figuras bizarras como esse tal Alexandre. Daí será possível que sejam evitados golpes como o de Honduras pelo simples fato de não se permitir mais a falsificação da informação e a atuação dos meios de comunicação como partidos políticos da direita conservadora.

Notas

(1) Entrevista concedida a Marcone Formiga em 26 de agosto de 2006 e que pode ser acessada em: http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/artigos/246.html.

(2) Matéria veiculada no Folha Online em 28 de setembro de 2009: “Governo de Honduras é golpista e não interino, dizem especialistas”. http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2009/09/28/ult1859u1540.jhtm.

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