Anti-imperialismo e internacionalismo dos povos

Durante esta semana, de 30 de outubro a 1º de novembro, em representação do Partido Comunista do Brasil, participo no 17º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, Istambul, Turquia.

No momento em que os comunistas de todo o mundo se reúnem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), como já denunciamos, desenvolve na Europa, especialmente nos territórios da Itália, da Espanha e de Portugal gigantescos exercícios militares batizados de Trident Juncture.

Este fato por si só é revelador do grau de militarização atingido pela estratégia dos EUA e da União Europeia que usam o seu poderio bélico, incluindo as armas nucleares e outras de destruição em massa, além das convencionais, para chantagear os povos e impor políticas lesivas aos direitos das maiorias e às soberanias nacionais. Na Ásia e África, assim como América Latina, onde os EUA mantêm suas bases militares e a 4ª Frota, também se evidencia a estratégia militarista.

A vida tem confirmado as opiniões dos comunistas sobre o desenvolvimento da situação internacional. Intensificam-se as políticas agressivas das potências imperialistas, que põem em risco a paz mundial, a segurança internacional e violam os direitos dos povos e nações.

Aspecto condicionante da situação internacional é a crise sistêmica, estrutural, multidimensional do capitalismo, que se agrava e aprofunda.

O mundo vive uma situação grave e perigosa. Está em jogo uma nova divisão do mundo, o saque das riquezas nacionais, a ocupação de territórios, a implantação de uma ordem imperial, em que prevalece a feroz ofensiva dos Estados Unidos e seus aliados para impor sua hegemonia.

O direito internacional e as instituições criadas para assegurar o exercício de relações internacionais democráticas e de igualdade são instrumentalizados pelos interesses unilaterais de potências hegemônicas que exercem seu domínio por meio de políticas de força. A Organização das Nações Unidas, para citar a mais importante, criada há 70 anos para promover a coexistência pacífica entre nações soberanas, assegurar o equilíbrio no mundo, garantir a aplicação das normas do Direito Internacional, dirimir os conflitos internacionais e promover a paz mundial, atua sob pressão das potências imperialistas.

O mundo está passando por importantes transformações geopolíticas: alterações na correlação de forças, evolução das contradições interimperialistas, intervenções, aumento da militarização. Mas a situação é também reveladora das possibilidades de transformação e do despertar de esperanças. Abre-se um período de transição cujos contornos não estão definidos, manifestando-se como fenômeno saliente a emergência de novas forças, como os Brics, e o relativo declínio do imperialismo estadunidense, que, não obstante, ainda detém a maior força econômica e militar, assim como a maior influência política e é o principal fator de instabilidade e fomento de agressões contra os povos do mundo.

A aplicação da estratégia de construir o chamado “novo Oriente Médio”; a agressão e destruição da Líbia; a contínua presença de tropas estadunidenses no Afeganistão; a intervenção na Síria; o golpe fascista na Ucrânia, com apoio das potências ocidentais e as ameaças de intervenção nesse país do Leste europeu; o prosseguimento da política de ocupação, colonização, limpeza étnica e terrorismo de Estado de Israel contra o povo palestino, com o apoio explícito do imperialismo estadunidense; a adoção de uma estratégia militar voltada para a Ásia; as intentonas golpistas para reverter as conquistas democráticas, patrióticas e sociais na América Latina – são os traços mais marcantes do que chamamos de ofensiva brutal do imperialismo contra os povos, causas principais da instabilidade e incertezas do mundo contemporâneo.

Os comunistas são solidários com a luta heroica do povo palestino contra a política genocida do Estado de Israel. Igualmente, nos manifestamos solidários com o povo sírio, dilacerado pela ação terrorista dos bandos financiados e armados pelas potências imperialistas que seguem ameaçando o país de intervenção militar. Saudamos os países e forças políticas que, a pedido do governo sírio, dão-lhe ajuda, inclusive militar, para desbaratar os bandos terroristas. Saudamos o povo iraniano, vitorioso em seus esforços para derrotar a política de sanções e fazer valer seu direito a desenvolver o programa nuclear com fins pacíficos e civis.

Na América Latina, fruto da resistência e luta contra as ditaduras, a dominação imperialista, o neoliberalismo, o conservadorismo, a opressão nacional e de classe, nossos povos conquistaram vitórias políticas e eleitorais que levaram forças democráticas e progressistas ao governo, o que criou uma tendência para a obtenção de conquistas nos planos democrático, dos direitos sociais e da afirmação das aspirações patrióticas dos povos, como também da integração com soberania. O sentido essencial dos fenômenos em curso na região é a formação de uma corrente transformadora e a acumulação de vitórias dos povos e países em termos de independência, soberania, democracia, mecanismos de participação popular, justiça, desenvolvimento e progresso social.

Estão em construção mecanismos de integração regional que permitem assumir posições independentes em um cenário mundial de crise econômica e acentuados conflitos, abrindo a possiblidade de edificar novas alternativas para o desenvolvimento e de constituir um polo geopolítico que produz novas correlações de forças.

O desenvolvimento da situação política brasileira é inseparável do curso político latino-americano. Em nosso país, em meio a duros enfrentamentos com as classes dominantes retrógradas, de que a oposição de direita, neoliberal e conservadora é a expressão política e ideológica, as forças progressistas, entre elas os comunistas e outras correntes da esquerda consequente, buscam abrir caminho e acumular forças num prolongado processo de luta pela emancipação nacional e social. No intenso embate político em curso nos dias que correm, em que é evidente a intentona golpista da direita, os comunistas e a esquerda consequente não têm dúvida do lado em que se alinham. Não fazemos o jogo do inimigo de classe interno nem das forças imperialistas externas.

No quadro atual da vida política latino-americana, um dos fatos de maior relevância é o desenvolvimento, até aqui com êxito, num processo sinuoso e complexo, dos diálogos de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo nacional.

A solidariedade com a Revolução Bolivariana da Venezuela é nosso dever indeclinável. A Venezuela bolivariana tornou-se uma bandeira de luta de todos os povos latino-americanos e uma referência da luta anti-imperialista.

Revestem-se de grande importância geopolítica e são fator de estímulo ao desenvolvimento das lutas dos povos latino-americanos e caribenhos as recentes conquistas da Revolução cubana – a libertação e retorno à pátria dos cinco heróis que se encontravam presos nos Estados Unidos, a atualização do modelo econômico e social socialista e o restabelecimento de relações diplomáticas com os Estados Unidos, passo importante para pôr fim ao odioso bloqueio econômico.

Atualmente, desenvolvem-se no mundo lutas de variados tipos e intensidades. Ainda que num quadro de defensiva estratégica, de dificuldades políticas, ideológicas e orgânicas do movimento comunista e revolucionário, os trabalhadores e os povos se insurgem contra a opressão e a exploração capitalistas, em defesa dos seus direitos, contra o intervencionismo, o militarismo e o belicismo e ocupam o cenário político como protagonistas incontornáveis da luta pela emancipação nacional e social.

Os comunistas encaram com otimismo histórico e confiança a perspectiva de desenvolvimento da luta dos trabalhadores e dos povos em defesa dos seus direitos, da democracia, do progresso, da justiça, da soberania nacional, da paz e do socialismo. As mudanças pelas quais lutamos serão fruto da resistência, da mobilização social e da luta em múltiplas vertentes e cenários, que já estão em curso, protagonizadas por governos socialistas, revolucionários, progressistas, de esquerda, por partidos de vanguarda, movimentos sociais, movimentos revolucionários e de libertação nacional, em que se destaca o insubstituível papel das classes trabalhadoras e das massas populares.

No curso do desenvolvimento dessas lutas, emerge e fortalece-se a solidariedade internacional, o internacionalismo proletário, o internacionalismo dos povos e das massas populares. O conteúdo fundamental que define a ação internacionalista hoje é a solidariedade classista e o anti-imperialismo. O objetivo central é derrotar as estratégias do imperialismo norte-americano, sua política de guerra, seus dogmas conservadores e neoliberais, a ofensiva que move contra a paz, a soberania nacional, a democracia e os direitos dos povos. Neste quadro, empenhamos os nossos esforços pela unidade de ação entre os partidos comunistas e operários, renovando nosso compromisso com o Encontro de Partidos Comunistas e Operários. Igualmente, consideramos indispensável consolidar os espaços multilaterais de convergência e unidade entre forças e movimentos democráticos e anti-imperialistas, assim como as organizações de massas e o movimento pela paz.

Fonte: Blog da Resistência 

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