Apenas o olhar cúmplice e uma rosa vermelha

A gente vê o que busca. Nesses dias de março, é tempo de enxergar a luta pela igualdade de gênero – perceptíveis nos rostos que encontramos em diversos lugares e situações.

Nos rostos das mulheres com que compartilhamos os momentos mais ricos da vida, do trabalho e da militância. E também nos rostos anônimos de tantas mulheres que encontramos em situações triviais.


 


Neles, sobretudo no olhar de cada uma: a tristeza e a alegria, a dor e o alívio, o desengano e a esperança, este entrechoque de sensações contraditórias que Castro Alves dizia ser a própria expressão da existência humana.


 


O olhar da mulher lutadora, consciente do papel que lhe cabe na vida e no movimento revolucionário: um brilho especial, que instiga e contagia.


 


O olhar da mulher que apenas sofre as agruras da sobrevivência material e a humilhação do machismo exacerbado: embaçado e triste – que se converte entretanto numa expressão quase infantil quando ela ganha consciência de si mesma e desperta para a luta.


 


Também o olhar e a expressão de surpresa das menos esclarecidas quando nos declaramos feministas. Ou quando lhes ofertamos uma rosa vermelha, expressão do bem-querer e da luta comum.


 


Nesses instantes, a renovada certeza de que mudar a sociedade é empreitada para milhões. Superar a desigualdade nas relações de gênero, idem; com um desafio a mais: implica em luta de idéias permanente, cotidiana, enfronhada nas muitas esferas da convivência humana, de inúmeras faces.


 


Conquistas, já alcançamos muitas nas últimas três décadas. Mas ainda estamos a uma distância de anos luz da verdadeira emancipação da mulher.


 


Não há como encurtar essa distância se o movimento emancipacionista se restringe a algumas reduzidas camadas relativamente esclarecidas. Se não sensibilizamos e desapertamos para a peleja centenas de milhares, para que adiante possamos reunir milhões, continuamos condenados aos limites das conquistas parciais. E não há como avançarmos nessa direção se não integrarmos, fundirmos até, a luta feminista com o movimento político geral pelas transformações de fundo na sociedade brasileira.


 


Essas constatações as repetimos sempre, no diálogo com companheiras engajadas. E procuramos transmitir com alguma clareza para platéias femininas, ou majoritariamente femininas, que eventualmente nos ouvem.


 


Porém hoje, dia 8 de março, preferimos nada falar, apenas ofertar uma imaginária rosa vermelha e o olhar cúmplice a todas as mulheres que aliam o inconformismo e a esperança e se batem pela igualdade e pela reinvenção da vida.

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