Aproveitamento da crise na europa

Com muita lucidez foi caracterizada a “crise”(do ponto de vista dos Bancos) como “saque”. Já nos Estados Unidos isto foi percebido antes e agora Obama tenta, tardiamente, receber uns trocos dos muitos bilhões de dólares que o Governo despejou de graça para cobrir os buracos (tanto no setor financeiro como em grandes empresas) revelados com a descoberta de que venderam títulos podres. Gordon Brawn, na Inglaterra, com um lampejo da sua formação trabalhista, havia proposto que o Estado adquirisse os títulos realizando uma salvação com intervenção. Foi vaiado na Câmara dos Comuns, e perdeu as eleições depois. Deve ter sido marcado com um carimbo de “ameaça ideológica ao sistema”.

Como o setor financeiro é soberano no sistema capitalista, os seus representantes e defensores deitam e rolam com a equivalência crise = saque. São suficientemente cínicos para se sentirem reconhecidos como manda-chuvas acima da moral social. Como têm armas atômicas, poderio militar, controle da economia mundial e divulgadores de uma cultura selecionada pelos meios de comunicação social, tiram o proveito da crise que lhes interessam, os lucros.

Mas há outros setores que se têm fortalecido no planeta para os quais o conceito de crise  corresponde a desenvolvimento(na filosofia oriental) e fragilidade do sistema dominante (para os que lutam pelo fim da exploração capitalista). Daí as grandes manifestações de massa organizadas pelos sindicatos e partidos de esquerda na Grécia (dia 12 de Maio) e em Portugal  (próximo dia 29 de Maio).

Enquanto o governo grego aceita a crítica de mau administrador feita pela União Européia e estende a mão para os beneméritos ricos da Unidade (ironia do vocabulário) Européia e FMI, os trabalhadores que sempre administraram bem a sua miséria reuniram 100 mil pessoas na manifestação que foi chamada de Maré Vermelha, que contou com representantes comunistas e de sindicatos da Bélgica, Portugal, Espanha e Turquia – os paises mais pobres do continente. Enquanto os donos do grande capital aumentam os seus lucros com o pretexto da crise, as populações trabalhadoras ficam com o desemprego e o arrocho salarial e os Estados com as dívidas dos “papéis tóxicos” e os riscos do saque financeiro. Com o título de “Mitologia Européia” o jornal  comunista português, “0 Avante”, publicou o genial artigo de Jorge Cadima explicando “o capitalismo senil dos nossos dias é um gigantesco aspirador que suga toda a riqueza do planeta”. E acrescenta: “É hoje evidente que a luta de classes, longe de ser uma coisa do passado, é a palavra de ordem da Comissão Européia e dos seus capatazes em cada país.

As lutas contra as ditaduras na Grécia, na Espanha, em Portugal, na Turquia, e contra as formas de opressão mantidas em todo o mundo, dão novos saltos qualitativos contra a tirania do grande capital. Os povos só têm um caminho: “resistir, lutar, insurgir-se” sem se deixar embalar pelo mito de que fazendo sacrifícios saem da crise. Os bilhões de dólares escoados para os donos do grande capital despertaram maior cobiça nos especuladores.

Porque os governos ricos, “donos” dos Estados nacionais, se apressam em pagar as dívidas dos saqueadores e condenam os povos dos paises pobres como a Grécia, Portugal e Espanha a apertarem o cinto? É visível: os Bancos Europeus, segundo o Banco Internacional de Compensações em 2009, investiram 192 bilhões de dólares na Gécia, 240 em Portugal e 832 na Espanha. Destes, os Bancos Alemães (estão mais aflitos) investiram 45 bilhões de dólares na Grécia, 47 em Portugal e 238 na Espanha. Tudo em nome da “santa” Unidade que agora manda as uniões com pobres, às favas.

A Maré Vermelha na Grécia lançou sugestivas palavras de ordem que servem para todos os povos do planeta: “Vem conosco, há solução”. “O vencedor tem de ser o Povo”, “Organização, Aliança, Poder Popular”, “Trabalhador, camponês, estudante, no movimento antimonopolista”.

Portugal, o de Abril, que há 36 anos derrotou a ditadura salazarista, o colonialismo, o isolamento socioeconômico, a exploração que escravizava todo o povo, volta às ruas de Lisboa e Porto (também em São Paulo e outros centros em paises onde residem emigrantes) com as permanentes denúncias contra os predadores nacionais e internacionais. Opõem-se ao “roubo de salários e pensões”, o aumento da carga fiscal e as privatizações da CGD (Caixa Econômica em Portugal), da empresa aérea TAP, dos meios de transporte coletivos, exigem respeito pelas conquistas democráticas e direitos históricos que o neoliberalismo tem desmontado nos últimos tempos.”

Nos Estados Unidos, Obama aproveita a crise para introduzir uma reforma financeira que atenda também o povo, tal como conseguiu com o novo sistema de saúde extensivo aos que não podem pagar. “O sistema, diz Obama, trabalhava mais para Wall Street que para as famílias da Main Street”, em alusão aos contribuintes que não devem pagar as irresponsabilidades de outros, que agora serão atendidos. Em cima do muro, Obama relembra as suas promessas democráticas dentro dos Estados Unidos enquanto comanda as “guerras justas, como representante do imperialismo. Espero que haja uma manifestação de trabalhadores, como as que se sucedem na Europa, dentro dos Estados Unidos. O muro vai balançar.

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