As porradas de Belluzzo

Que a arbitragem brasileira anda mesmo merecendo levar uns tapas na orelha, disso ninguém tem dúvida. Mas até onde podemos nos servir destas bravatas no meio do futebol? Qual a responsabilidade de dirigentes, treinadores, jogadores e torcedores perante tais situações?

Após o jogo entre Fluminense e Palmeiras no Maracanã, nada mais se falou da atuação pífia do então líder do campeonato perante o Tricolor das Laranjeiras, que permaneceu boa parte do certame na última colocação. O assunto foram as declarações de Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente do Palmeiras e intelectual de renome na economia, contra Carlos Eugênio Simon, que vai à Copa, mas não pode apitar nem jogo de várzea.

Belluzzo afirmou que há algo de estranho no ar, mas não cita nomes de possíveis beneficiados com o tal esquema. Para esse tipo de afirmação, não é possível contar o milagre e omitir o santo. Sendo assim, tudo pode não passar de uma tentativa de eximir o Palmeiras pela iminente perda do título brasileiro que muitos já davam como ganho. Ou dá nome aos bois, ou perde a credibilidade.

Mas o trecho da entrevista que mais assusta é onde ele diz que se encontrasse Simon na rua daria uns tapas no “vagabundo”. Surpreende por vir de um dos mais respeitados economistas brasileiros que, em um ato de muita coragem, topou o desafio de presidir seu clube de coração, um dos mais tradicionais do futebol brasileiro. Mas também por partir, independente do ocupante da cadeira, de um dirigente de um clube grande como o Palmeiras.

Posteriormente, em coletiva, afirmou que essa era apenas uma vontade, mas que não se efetivaria, embora os torcedores fariam o que julgassem correto caso encontrassem com Simon. Ou seja, se o respeitabilíssimo Belluzzo teria vontade de agredir o árbitro, imaginem o que fariam os torcedores?

Quando da eleição de Belluzzo para a presidência do Palmeiras, um farol luminoso se acendeu sobre o futebol. Uma grande possibilidade de mudança na forma de se administrar o futebol no Brasil se abriu, e os defensores da profissionalização real no esporte logo se animaram.
O tempo foi passando, algumas diferenças foram notadas, mas o velho formato da cartolagem ainda está arraigada, no futebol e no Palmeiras. E tais declarações contribuem ainda mais para que o estado de coisas não se altere.

Quando dirigentes e profissionais do futebol misturam paixão e razão, jogam ainda mais nosso futebol no moinho do amadorismo. Com declarações sem nenhuma responsabilidade, tentando cada um garantir o quinhão do seu clube, sem levar em conta que o futebol no Brasil precisa crescer, pois ainda engatinha em profissionalismo, e para isso a paixão pouco contribui.

A paixão é para nós, torcedores, que podemos falar mil e uma bobagens como estas, da boca pra fora, e depois voltamos a nossas atividades cotidianas. Nossa responsabilidade só se verifica em não transformarmos as bobagens que falamos em ações.
Diante das expectativas que os entusiastas do futebol depositavam na eleição de Belluzzo, as coisas ainda precisam mudar muito. A plateia ainda aguarda.

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