Bem-vindos ao Monte Roraima

“Se você está disposto a enfrentar essa viagem mitológica de 70 km, incluindo subida, descida e o deslocamento para sítios de visitação, é preciso, todavia, enfrentar alguns desafios”

Monte Roraima ou “Roroimo” significa azulado verde monte ou simplesmente a “morada dos deuses”, onde os espíritos mais elevados buscam a sua morada final. Fica na Gran Savana, dentro do Parque Nacional Canaima, há aproximadamente 2.800 metros do nível do mar, e tem elevada carga mística na tradição cultural do povo Taurepan.

Se você está disposto a enfrentar essa viagem mitológica de 70 km, incluindo subida, descida e o deslocamento para sítios de visitação, é preciso, todavia, enfrentar alguns desafios: contratar a viagem com uma agência credenciada, chegar até Boa Vista (RR) e percorrer em torno de 300 km, por estrada, até a comunidade indígena Paraytupu. Ali se paga uma taxa simbólica de 35 reais (a única paga aos índios), recebe o saco de dormir e inicia os 14 km iniciais de caminhada, sob a orientação de guias experimentados.

Ao final do dia se come sobre as pedras – e rápido – para evitar que a comida esfrie e se dorme em barracas de camping. A comida e as barracas são transportadas por índios taurepans, cujo vigor físico extraordinário – eles chegam a transportar 40 kg de carga – em muito se assemelha aos de nossos indígenas, como está registrado por praticamente todos os viajantes e naturalistas que vasculharam a Amazônia, bem como por Euclides da Cunha, em A margem da História, que os definiu como “caboclos titânicos”. A água brota das rochas e ali você se abastece.

Após esses 14 km iniciais “leves”, se inicia o dia seguinte enfrentando mais 10 km já com muitas subidas íngremes e muita pedra, o que lhe obriga, menos do que caminhar, a saltar sobre rochas. Ao final do dia dorme-se no acampamento Base, no sopé do Monte Roraima. Nessa fase a maioria já desistiu de carregar a própria mochila e terceirizou o serviço com os bravos taurepans, homens ou mulheres, ao custo de uma taxa adicional.

O terceiro dia se sobe propriamente o Monte Roraima, buscando em torno da montanha o caminho mais fácil – mas ali não há caminho fácil – para superar os 5 km do percurso. E quando se chega ao topo e tem-se a expectativa de um descanso imediato o guia indica que ainda faltam 2 km até o acampamento (ou hotel como eles chamam), no caso uma caverna de 11 km de extensão. Ali as barracas são estendidas, a alimentação é servida e o cansaço é uma regra, mesmo em atletas experimentados. Banho se toma nos córregos que brotam das rochas, geralmente com temperatura na casa dos 8-10º centigrados. Um bálsamo para pés e músculos castigados.

Os próximos dois dias são dedicados a visitação de sítios previamente selecionados, cuja beleza encanta seja quem ali chegou motivado por curiosidade cientifica, espírito de aventura ou simplesmente atraído pelo caráter místico da “morada dos deuses”. A beleza e a riqueza mineral (ouro, diamante, coltan, etc.) da região são inquestionáveis. Cristais afloram por toda parte e até mesmo flores teimam em se fazer presente naquele ambiente aparentemente tão inóspito, numa prova viva da adaptabilidade das espécies de Darwin.

A descida, realizada em 2 ou 3 dias, igualmente não é fácil. O risco de um tombo e de um eventual acidente montanha abaixo é uma constante. Exige redobrada atenção e absoluto sacrifício dos joelhos e demais músculos da perna. Mas, ao final, vale a pena. Por isso, se você está disposto a superar esses breves desafios, seja bem-vindo ao Monte Roraima, a “morada dos deuses”.

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