Besta é tu, torcedor?

Sou orgulhosamente professor da rede pública de ensino e é com satisfação que vejo a maioria de crianças e adolescentes torcer por um time. Isso nem deveria ser digno de nota, afinal trata-se de um esporte, cuja prática é sempre recomendada por médicos e, portanto um hábito que deveria ser corriqueiro. Mas acaba chamando atenção o fato, quando pesquisas recentes demonstram significativa parcela de adultos indiferentes ao futebol.

O futebol é uma disputa que envolve vários aspectos individuais e coletivos, nele se aprende a ganhar e a perder, e se espera que o apuramento da técnica se alie à capacidade de atuar em equipe, sem a qual nenhum clube se torna vitorioso. Como se vê, são virtudes próprias da vida social que se observam dentro do gramado durante os noventa minutos.

No terreno simbólico, a ludicidade do futebol se apresenta pela óbvia diversão de quem joga e assiste, despertando paixões. É geralmente na infância que o amor pelo clube do coração aparece, reforçado pela insistência paterna que não admite seu rebento torcendo pelo maior rival. Às vezes funciona, mas às vezes não. Nem imagino o drama para uma família em que pai e filho entram em bola dividida. Mas sem a rivalidade o futebol morre , perde a graça.

A indiferença de alguns brasileiros com o futebol pode ser explicada por vários motivos, o principal, creio, seja subjetivo mesmo, próprio do gosto de cada um. Porém, há outros fatores que afastam as pessoas, como a violência que leva às mortes, o machismo de um esporte predominantemente masculino e que pouco estimula a participação das meninas à prática, e também a enxurrada de partidas transmitidas pela TV à exaustão.

Esta cultura nada inteligente, pouco atrativa às mulheres, e que dá ao futebol a imagem da bestialidade, é incentivada pela cartolagem controladora do principal esporte do país com suas federações inúteis que maltratam os atletas, enquanto enriquecem seus cofres.

Em tempos de Copa do Mundo, os problemas sociais do País são confundidos com os da organização do evento, como se questões históricas de um regime capitalista, que exclui as maiorias por natureza, fossem superados assim num passe de mágica.

Com os problemas que ainda vivemos no Brasil, não pode o torcedor se inibir e se intimidar, tolhendo sua paixão por um esporte tão alegre que segue apaixonando as novas gerações. O torcedor é cidadão, trabalhador, contribui com sua força para o crescimento do País diariamente. Se vibrou com a Copa e o futebol em anos de chumbo do regime militar por que não o faria agora, quando vivemos em plena democracia? Besta é tu, torcedor?

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