Calma, que o santo é de barro

Passada a guerra, é a hora de avaliar resultados e prospectar o futuro mediato, as eleições gerais de 2010.

Dentre as resultantes do pleito recém-encerrado chama a atenção o PMDB. Por dois motivos: pelo número de municípios conquistados, que o coloca no pódio, à frente dos demais concorrentes; pela importância de cidades onde elegeu o prefeito, a exemplo do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador; e pela aura de “primeiro aliado” de Lula que a imprensa passou a lhe atribuir desde o último domingo.


 


 


Pela análise que pontifica na mídia, somando-se os resultados da disputa municipal com o tamanho das bancadas no Senado e na Câmara e mais os governadores filiados, é prego batido, ponta virada: Lula só continua governando se o PMDB quiser e o PT só elege o novo presidente se colocar um peemedebista de vice.


 


 


Isto posto, restaria aos demais partidos acompanhar o fato à distância regulamentar que cabe aos meros coadjuvantes.


 


 


Vamos com calma, gente, que o PMDB é de barro.


 


 


É verdade que essa grande agremiação centrista tem força e que se mantém no imaginário popular com a boa imagem conquistada na resistência à ditadura militar; e que por meio de prefeitos e vereadores espalhados por todo o país, ostenta uma capilaridade que os demais partidos não têm.


 


 


Mas é igualmente verdadeiro que o PMDB não tem comando único, uno e coeso e que pelo Brasil afora se fragmenta em centenas de grupos locais e que em cada estado segue uma orientação própria. Por isso não tem força para disputar com candidato próprio a presidência da República – Ulysses Guimarães tentou em 1989 e obteve votação pífia. A maioria do partido preferiu Collor ou um dos outros candidatos, movida por interesses regionais.


 


 


Aliás, desde que as eleições diretas para presidente foram restabelecidas, em 1989, jamais o PMDB adotou posição unitária. Inclusive nas duas últimas, quando Lula se elegeu.


 


 


O PMDB é um espécime emblemático da tradição partidária brasileira de partido mosaico, mero aglomerado de grupos regionais (que encontra, essa tradição, poucas exceções, como o PCdoB que se mantém nacionalmente uno). E como tal enfrenta, e continuará enfrentando, enormes dificuldades em traduzir o seu quantitativo de votos em força efetiva tendo em mira objetivos nacionais. Daí porque é muito precipitado ungi-lo como principal aliado do PT e parceiro irrecusável para a chapa de 2010.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor