Carnes adulteradas, segurança alimentar e recolonização do país

Desconhecemos todos os elementos que originaram a operação da Polícia Federal Carne Fraca, no último dia 17, motivada pela denúncia do auditor fiscal federal agropecuário Daniel Gouvêa Teixeira de que carnes estragadas e fora de padrão eram vendidas por frigoríficos da região de Curitiba, cuja fiscalização está sob comando do PMDB!

Corrupção no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para fazer “vista grossa” quanto à segurança alimentar é antiga, tanto que o denunciante, declarou: “Não adianta pensarmos que toda carne vendida no Brasil é ruim, que toda a fiscalização é corrupta, porque isso é mentira. Nosso produto é muito bom, e é por isso que somos destaque na importação. Não vamos criar algo que não existe”.

Carne fraca, segundo a operação, é carne adulterada pelo uso de carcaça e cartilagem no lugar da carne convencional; e uso de carnes vencidas, chamadas “carnes verdes”, lavadas com produtos químicos em quantidade superior ao permitido por lei, como o ácido ascórbico (vitamina C). A terminologia “carne verde”, no lugar de “carne vencida ou podre” (que não são a mesma coisa), joga por terra um linguajar do médio sertão maranhense, onde “carne verde” significava carne novíssima, fresquinha…

Fiquei chocada com a notícia das carnes podres e demais fraudes por dois motivos. O primeiro, pelo Brasil — somos o segundo exportador mundial de carnes, logo um setor vital da economia; e o segundo, por mim – sou carnívora habitual e não gosto de carnes velhas (congeladas). Sou bisneta e neta de vaqueiros que se tornaram donos de um gadinho pé-duro no sertão por muitas gerações.

Meu avô virou também açougueiro, depois boiadeiro e, a cada dois meses, matava um garrote para consumo da família. Sem geladeira, a carne virava carne de sol, carne seca e carne de lata – assada ou frita na panela e conservada em latas na gordura de porco, que dura até seis meses, o célebre “confit” dos franceses… Fora as leitoas e os “capados” gordos, cabritos e galinhas do terreiro… Meus hábitos alimentares são muito sertanejos ainda: aprecio as carnes desidratadas e as frescas, sem nem passar pela geladeira! O sabor da carne fresca é um, e o da resfriada ou congelada é outro!

Conforme Miguel do Rosário: “Se a PF identificou, há mais de dois anos, que havia problemas no mercado de carne, deveria ter alertado o governo, as empresas e os cidadãos, para que ninguém tivesse prejuízo. A PF encontrou problemas em 21 empresas, num total de quase 5.000, e suspeita de crimes praticados por 33 servidores num universo de 11 mil funcionários do Ministério da Agricultura” (“Considerações e estatísticas sobre a operação Carne Fraca”, 19.3.2017).

A surreal mistura de “papelão” às carnes foi um “mal-entendido” da PF. Era a fala de um executivo sobre embalagem! E acarretará a perda de “vários bilhões de dólares a nossa economia”. Luis Nassif, em “Ação da PF contra setor de carnes ocorre após Brasil conquistar mercado nos EUA”, destaca a “coincidência” (?) de que a PF investigava havia dois anos e só publicizou “no momento em que o Brasil vinha abrindo mercado no plano internacional” (17.3.2017).

Os negócios no capitalismo não são oratórios nem casas de caridade, e lançam mão de uma série de artimanhas para dar vazão a suas ganâncias, até mesmo ignorando questões de biossegurança, segurança alimentar e nutricional. Devem ser punidos! Mas até onde as forças interessadas na transformação do Brasil numa colônia norte-americana estão envolvidas na desacreditação da carne brasileira?

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