Carta ao maestro

Júlio Medáglia você acha que eu te esqueci?

Não, eu estou de volta e escrevo esta carta ouvindo Bethoven ao fundo pra me inpirar mais…

Eu fiz algo semana passada que você maestro nunca fez: não ter preconceito com música. Esta semana foi histórica para à música erudita e para a música rap no mundo. Fundimos as duas, os extremos, já tinha fusão de tudo, menos desta experiência…

Quem apostou contra.. apostou mal… ficou bom!

Sabe Julio, quando você chamou eu e meus manos de “colonizado pelos negros americanos de Los Angeles” em entrevistas por aí, eu fiquei puto, pensei em te dar porrada. Mas lembrei que era isto que caras como você esperam da gente. Pensei em lançar um manifesto, mas achei que você não merecia tanta publicidade. Mas daí pensei: a melhor resposta para este cara seria um dia eu armar pra tocar uma Orquestra Sinfônica com a música rap. Na época eu não tinha elementos que poderiam me levar a organizar tal coisa.

Mas o destino me fez ficar no lugar certo, na hora, com as pessoas certas, para seu desprazer.

Pois bem! Justo nós, os… “ colonizados pelo negro americano de Los
Angeles ” tocamos junto com a Oquestra Sinfônica de Campinas, uma das melhores do Brasil e por que não dizer do mundo, pois além de tudo, ela é da terra de Carlos Gomes, um dos maiores compositores do mundo e autor de O Guarani (pra quem não sabe aquele; taaan tan tan tan, na entrada da Voz do Brasil), que você conhece bem Júlio.

Fizemos isto aqui em Campinas em frente a 30 mil pessoas nas comemorações de 1º de maio, com apresentação de Fundo de Quintal. Foi também o primeiro show de MV Bill após a exibição do documentário Falcão.

Estavam lá pra assistir, entre sindicalistas, políticos, pobres, ricos, negros, brancos, analfabetos, letrados, até o renomado maestro suíço Karl Martin. A mídia passou por lá também, a Globo, SBT, Bandeirantes, MTV, Rede Vida, etc. Hum…! Esqueci, só não estava você!
 
E olha quem cantou com a Orquestra: O Afro-X; negro, pobre, ex-presidiário, aquele que justamente teria o perfil para num gostar de música erudita, mas olha as palavras dele: “Isso aqui é um fato histórico, esse encontro de rap com música sinfônica, simboliza a queda de uma barreira e ajuda a consolidar que rap é música e não coisa de criminoso”.

O maestro João José Galindo, regente da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo se anima também: “ Já regi de tudo, tango, frevo, samba, mas rap, nunca. Adorei o resultado. A sintonia está ótima e todos os músicos se entrosaram!”
 
Júlio, não é de hoje que o preconceito contrói muros, mas nós do hip-hop estamos aqui pra construir pontes.

Um abraço!

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