Começa uma nova batalha

As forças populares, lideradas pela presidenta Dilma Rousseff, sagraram-se vitoriosas no processo eleitoral encerrado há poucos dias. Foi um triunfo de grandes proporções, tanto por representar a continuidade de um projeto que há doze anos vem impulsionando mudanças significativas, quanto pelas condições adversas em que essa campanha se desenvolveu, com a direita lançando mão dos mais torpes expedientes para inviabilizar a recondução da primeira mulher a exercer o mais importante cargo do país.

Dilma e a esquerda derrotaram um consórcio oposicionista poderoso, composto não apenas pelos partidos de oposição, mas também pela grande mídia e por setores da sociedade influenciados pela retórica udenista. O segundo turno foi um verdadeiro “nós contra eles”, com Aécio Neves e Marina Silva construindo uma bem entrosada aliança e a mídia partindo para uma forte ofensiva, primeiro com as denúncias envolvendo a Petrobrás, depois com a criminosa capa da revista Veja às vésperas da eleição, verdadeiro ato de terrorismo midiático que deve ser exemplarmente punido.

Foi uma batalha dura, renhida, disputada até o último instante entre dois projetos cujas diferenças abissais, já bastante claras, foram ainda mais realçadas. Poucas vezes a luta entre “direita versus esquerda” ficou tão nítida.

Mas engana-se quem pensa que a disputa terminou em 26 de outubro último. Pelo contrário: com a reeleição de Dilma inicia-se uma nova batalha. O desafio agora é constituir um amplo movimento popular que dê sustentação à presidenta e cumpra com o papel de pressionar pelas reformas necessárias, em especial a política e a democratização da mídia.

A correlação de forças no Congresso Nacional será ainda mais complexa a partir da próxima legislatura, condição que reafirma a certeza de que nenhuma mudança profunda poderá prescindir da força das ruas. Sem pressão popular, Dilma ficará refém dos conservadores e fisiológicos. A oposição, por sua vez, fará de tudo para inviabilizar o governo e, sem reforma nos meios de comunicação, a mídia continuará deitando e rolando com sua pauta antipovo.

Uma das coisas positivas de uma eleição acirrada é que ela faz com que a esquerda mostre o que tem de melhor: o poder de mobilização do povo e de elevação da consciência política. A disputa de ideias é imprescindível para a realização de mais mudanças e, nesse campo, vamos combinar: a esquerda ficou aquém do que deveria ao longo da última década. Permanecer com essa limitação nos próximos anos significa pôr em risco a continuidade do projeto mudancista.

O modelo do “grande condomínio”, onde todos – ricos e pobres – saem ganhando, embora necessário para a vitória de Lula em 2002, já começa a dar claros sinais de desgaste na medida em que interesses inconciliáveis começam a se chocar. Nesse contexto, o governo terá que, necessariamente, optar por um lado, buscando manter consigo os setores alinhados com a produção e o desenvolvimentismo.

A presidenta Dilma vem dando boas respostas: em todas as entrevistas pós-eleições reafirmou seu compromisso com a reforma no sistema político, iniciativa que já vem sendo boicotada pelos que se interessam em manter o status quo. Ou desenvolve-se uma campanha em defesa dessa bandeira ou ela continuará fazendo companhia às teias de aranha do Congresso Nacional, tal como ocorreu após as Jornadas de Junho de 2013. Diga-se de passagem, seria um bom momento para as entidades estudantis, sindicais e movimentos populares convocaram uma Jornada de Lutas em defesa da reforma política.

De toda forma, a prioridade agora é manter o clima de mobilização permanente para, junto com Dilma, fazer os enfrentamentos necessários para conduzir o país a mais mudanças.

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