Construção ou Recuperação?

O Ibama acaba de emitir parecer técnico recomendando que o órgão negue a licença ambiental para a recuperação da BR 319, que liga Manaus a Porto Velho e consequentemente ao restante do país. Se essa recomendação for aceita o isolamento do Amazonas e de Ro

Hoje Manaus e Boa Vista (capital de Roraima) são ligadas por rodovia apenas com o norte da América do Sul e com o Caribe, através da BR 174. Com essas regiões tem intensificado o intercâmbio comercial e turístico. Como se vê, estamos de “frente” para os vizinhos e de “costas” para o restante do país.


 


 



Diante desse fato – e se tal situação não for revertida – é muito provável que em médio prazo os movimentos separatistas, hoje restritos a certos oportunistas de ocasião, finalmente empolgue boa parte da população e consiga suplantar o elevado sentimento patriótico de um povo que já fez guerra para ter o direito de ser brasileiro.


 


 



O mais grave é que as ponderações dos órgãos ambientais expressam má fé ou profundo desconhecimento da situação real da BR 319. O fato de se interpretar a obra como sendo de construção e não de recuperação, como efetivamente o é, dar a clara dimensão dessa ambigüidade.


 


 



Ninguém desconhece que as exigências de recuperação são bem mais suaves do que de construção. Pois bem, essa rodovia foi inaugurada na década de 70 e até o presente tem tráfego, apesar da situação crítica especialmente de sua área central.


 


 



A BR 319 começa em Manaus, na “bola da Suframa”. Os seus primeiros 200 km estão asfaltados e com trânsito regular. Depois vem uma zona crítica de 400 km e novamente outros 200 tem tráfego. Como se pode, então, afirmar que se estará construindo uma nova rodovia?


 


 



A motivação não é ambiental. É geopolítica. E isso fica expresso no parecer do Ibama quando afirma que a pavimentação (?!!!) de trecho no Amazonas atingirá uma região “com algo grau de preservação” da floresta. É verdade. O Amazonas fez seu dever de casa. Mantém 98% de suas florestas preservadas. E é por isso que deve ser penalizado?


 


 


A nós parece que não. O Amazonas deveria ser premiado, não retaliado. Imaginar que a falta de pavimentação eventualmente impedirá levas migratórias, como parece ser de fato a preocupação do Ibama, é um equivoco. O sul do Pará, Rondônia e mesmo boa parte do Acre foram ocupadas através de “picadas” no meio da selva onde mal passavam carros tracionados. Rodovias e nem montanhas são, a rigor, barreiras.
O Amazonas está preservado não pela ausência de rodovias. Sua floresta está quase toda intacta porque dispõe de uma alternativa econômica chamada Zona Franca de Manaus (ZFM) e assim continuará enquanto ela existir.


 


 



Paradoxalmente, a não recuperação da BR 319 dificultará a competitividade da ZFM e certamente aumentará a pressão sobre a exploração de nossos recursos naturais. E a forma nem sempre será racional como de resto foi no Brasil inteiro.

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