Demolir a cultura da opressão

Nas duas colunas passadas, comentamos a premente necessidade de regulação e controle social do maior foco irradiador da violência, da manipulação e da dissimulação instituído pelo império da mídia, subordinada à necessidade de superação dos efeitos da ditadura militar e das gestões neoliberais — formulações oriundas do imperialismo e enraizadas no modelo midiático invasivo do padrão típico dos EUA (Estados Unidos da América).

No Brasil, sob o controle resumido a quatro famílias — proprietárias de quase toda a mídia brasileira —, sua persistência corrosiva e nefasta ação cotidiana sobre a vida das pessoas tornou-se antagônica às necessidades do País e de seu povo.

Assinalamos que o dilema surge na atual etapa da vida política do País como uma questão crucial do processo democrático no qual se insere a crescente necessidade da distribuição da renda e dos avanços sociais rumo a um regime que elimine a profunda desigualdade e suas consequências — umbilicalmente associadas à carência dos investimentos em educação e saúde, às raízes da violência, da criminalidade, do reinado do narcotráfico, da insegurança generalizada que envolve a população.

O paradoxo que ocasionou historicamente o surgimento dessas contradições é o mesmo que remunera a manutenção desse quadro de flagelo no noticiário — que, por sua vez, produz, retroalimenta e sustenta o império da comunicação. Este, tal como na fase colonial, imperial e de uma boa parte da nossa história republicana, subsiste sob o comando da mesma elite sucedânea dos feitores coroados nas sesmarias e capitanias, sustentado invariavelmente na violência contra o povo.

É necessário, então, compreender que sua superação prevê a completa demolição da cultura opressiva construída em cinco séculos da nossa formação, sistematicamente articulada ao culto repressivo que determinou, a cada momento, o constrangimento às inúmeras manifestações libertárias de um povo ímpar no mundo.

Força bruta e manipulação

Essa lógica brutal culmina nas últimas décadas do século XX, quando se consolidou o controle da mídia pela representação do capital monopolista mais conservador e rentistas concentrados principalmente no estado de São Paulo — e Sudeste do Brasil.

Trata-se, de superar, no impulso de um vigoroso movimento transformador, os fundamentos que sustentam a tradição e as práticas de apropriação dos frutos do trabalho social, da desigualdade, dos bombardeios, massacres e cabeças cortadas dos insurretos e que hoje festeja, em manchetes policiais que contaminam a informação — no ambiente que criou e recriou ao longo da nossa história, ao preço da violência repressiva, da supressão das liberdades e do truculento combate à marcante rebeldia inata ao povo brasileiro.

Na atualidade, portanto, o império da mídia, reunido no insustentável domínio da informação por um punhado de controladores sobre o conjunto da população, exercita os mecanismos que antes praticavam o uso predominante e ostensivo da força bruta, voltando-os para a asfixia ao florescimento da oposição ao predomínio conservador. Nesse prumo, trata de deformar a realidade, de submeter os fatos às suas versões dos fatos, de tornar essas versões em fatos que contaminam as manchetes e as pessoas.

Assim, este império conjugado da mídia gera inflação onde não existe ameaça inflacionária para incrementar o medo na sociedade, elevar os ganhos dos seus patrocinadores privilegiados — os rentistas, os agiotas, os especuladores do sistema financeiro que lucram com os juros mais altos do mundo e com os elevados ganhos das aplicações em títulos da dívida pública brasileira, em oposição antagônica à esfera produtiva que promove o emprego e o desenvolvimento.

Rotineiramente, ignora e atropela as medidas progressistas de governo e as conquistas sociais; prega diariamente, com maior ou menor sutileza, o retrocesso político no Brasil.

Império do retrocesso

Este império se opõe ao desenvolvimento e à consolidação democrática no Brasil, na ação cotidiana para travar a superação do obscurantismo e lograr a restauração dos efeitos do autoritarismo. Tais efeitos ganharam fôlego na década perdida dos anos 1990, quando, beneficiária da transição negociada de 1984, a elite conservadora alcançou, a partir de 1989 — e de modo mais consistente a partir de 1994, com a efetiva implantação do Plano Real — uma nova reciclagem pela via da implementação dos princípios do Consenso de Washington.

Tais princípios alicerçaram o fenômeno conhecido como neoliberalismo, filho legítimo da globalização capitalista em sua ofensiva unipolar sobre a soberania dos países e seus povos, legítimo sucedâneo das ditaduras açuladas pelos EUA no mundo, ocasionando aqui, notoriamente a partir de 1995, a redução do papel do Estado, o sucateamento do patrimônio público, as privatizações fraudulentas, os ataques sistemáticos aos direitos dos trabalhadores e às conquistas históricas do povo brasileiro.

Na essência, a confraria de um império midiático historicamente constituído logrou impedir o enterro do regime militar, oferecendo sobrevida e reciclagem à sua vigência, resgatando simbólicos elementos de sua deflagração e contribuindo para a preservação dos seus princípios nascidos da doutrina de segurança nacional, blindando torturadores. Instrumentalizou, enfim, quadros obscurantistas no pacto eleitoral da direita para a frustrada eleição de José Serra à Presidência da República.

Neste aspecto, Dilma foi tratada como terrorista confessa ao longo de toda a campanha, uma terrificante ameaça à democracia. Foi esse o prumo da mídia familiar: antes a velha ditadura militar incorporada ao padrão neoliberal que a persistência de um projeto democrático e soberano de Brasil.

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