Distintos, mas não contraditórios
Tanto quanto a escolha das palavras, do tom e do gesto – essas expressões concentradas da linguagem humana -, na luta política a ênfase na análise da situação concreta e no que há de mais importante e urgente a fazer tem peso determinante.
Publicado 24/11/2016 11:29
No Brasil de hoje, pós impeachment, sob a avalanche neoliberal e corrupta de Michel Temer e seu grupo, resistir é o gesto primário e decisivo.
Resistir demarcando campos, expressando o desconforto e as aspirações da maioria dos brasileiros.
E apontando saídas.
No contraponto ao que está estabelecido – a absurda agenda regressiva -, cabe como pano de fundo inspirador a ideia força de um novo projeto nacional de desenvolvimento – abortada pelo golpe ainda nos nascedouro -, imprescindível como perspectiva estratégica.
Entretanto, ainda sob o impacto da derrota, as forças que se colocam em defesa da democracia e do desenvolvimento econômico soberano e inclusivo e dos interesses fundamentais dos que vivem do trabalho reagem como podem. Ainda sem uma articulação mais consistente, a despeito do anunciado desejo de conformação de uma frente ampla, nas diversas modalidades que têm vindo à tona.
Tudo bem. É assim mesmo. Nunca se viu forças tão amplas (e contraditórias entre si) se reagruparem com nitidez de propósitos e desenho organizativo “no dia seguinte” à derrota.
Há um tempo de maturação.
Importa que a resistência vem crescendo, mediada pelo debate que se amplia e por manifestações populares de resistência – a exemplo da ocupação de escolas e Universidades pela juventude estudantil e da greve recém-deflagrada por professores de Universidades públicas federais em praticamente todas as unidades da Federação.
Nesse contexto, há dois pontos distintos mas não contraditórios: a demarcação de campos claramente em favor dos trabalhadores e do povo e da democracia, que tem naturalmente um quê de radicalização; e os esforços no sentido de explorar contradições e possíveis dissidências nas hostes governistas.
Vale dizer: mobilizar o povo pela base, conquistar descortino e solidez na reaglutinação de forças; e reconquistar parcelas do “centro” político perdidas no desenrolar da derrocada do governo Dilma.
Em artigo recente (“O Brasil diante de um grande impasse” ), Renato Rabelo sugere uma repactuação política no campo oposicionista “centrada na prioridade à produção e ao trabalho, sobretudo, na era capitalista neoliberal e voltada para defesa do Estado democrático de direito, retomada do desenvolvimento econômico e resistência para barrar a perda de direitos”, tendo como corça motriz a crescente resistência dos movimentos sociais.
É por aí.