"É a correlação de forças, amigo!"

É bom quando se debate política tanto quanto se debate futebol, mesmo com inevitáveis rasgos de paixão e alguma dose de irracionalidade. Debater é preciso, sempre – para que as ideias se desenvolvam e para que se forje consciência social avançada entre os brasileiros.

A poeira do último pleito municipal ainda não assentou e o debate corre solto. Pelo menos cá na província. Ora centrado nos porquês da vitória ou da derrota deste ou daquele partido ou agrupamento; ora em torno de possíveis implicações dos resultados colhidos agora em função das eleições gerais de 2014.

Ambos os aspectos do debate reclamam uma referência essencial – a correlação de forças. Ou seja, o cenário desenhado pelo poderio das forças adversárias e por nossas próprias forças; a capacidade de manobra de cada um; o estado de espírito do eleitorado e tendências que podem levar a maioria a optar por um dos lados da disputa; a possibilidade de atrair ou neutralizar aliados, enfraquecer, isolar e derrotar o adversário principal.

A correta apreciação do cenário da batalha, ou seja da correlação de forças inicialmente estabelecida, dá ensejo a que se adote uma tática acertada – a um só tempo combativa, para mobilizar forças e concentrar o gume do combate; e ampla e suficientemente flexível, para dar conta de nuances que inevitavelmente surgem no transcurso da luta.

Mesmo em situações em que as forças litigantes possam não ter a precisa compreensão disso, é possível analisar o que se passou e identificar esses elementos como fatores que levaram a determinado resultado – em alguns casos, resultado surpreendente.

Candidaturas que partiram de baixo, amargando índices mínimos nas primeiras pesquisas eleitorais, e que findaram vencendo certamente possibilitam extrair do ocorrido lições que lançam luz sobre a justa percepção da nova situação criada, pós-eleitoral. Em cada município e no conjunto de cada estado e do País.

Assim, ao se abordar o que estar por vir, tendo em mira 2014, vale uma boa dose de parcimônia e nenhuma precipitação. É bom lembrar o ensinamento de Karl Marx em sua obra “O 18 Brumário de Luis Bonaparte”, de que frequentemente há uma distância, ou discrepância, entre a vontade subjetiva dos atores presentes na cena política e a real evolução dos acontecimentos. A realidade objetiva fala mais alto e, nela, a dita correlação de forças.

Por isso, certos rompantes voluntaristas, produtos mais da vontade subjetiva de quem os pratica do que de possibilidades objetivas, podem levar a desvios táticos desastrosos, pondo em risco o que se construiu até então. Sobretudo se implicarem em divisão, por exemplo, na coalizão que ora apoia o projeto nacional liderado pela presidenta Dilma.

Basta que se ponham os olhos, no recente pleito municipal, sobre projetos eleitorais bem intencionados e que colheram derrotas fragorosas justamente porque a realidade objetiva esteve muito distante do desejo subjetivo. Terá faltado a análise precisa da correlação de forças e das possibilidades objetivas de alterá-la. Isto fica mais evidente nos casos em que a candidatura já partiu isolada politicamente, ainda que bem posicionada nas primeiras pesquisas.

Só não vê quem não quer, ou não tem olhos para enxergar.

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