El  Eternauta, história em quadrinhos de Héctor Oesterheld

O pai dos quadrinhos modernos da Argentina, sequestrado e desaparecido pelo regime militar durante os anos 1970, tem sua HQ adaptada para o cinema na Netflix

Hector Oesterheld é reconhecido como o pai dos quadrinhos modernos da Argentina. A mais consolidada foi El Eternauta, cuja primeira versão foi escrita em 1957 e a segunda em 1969 em parceria com o desenhista Francisco Solano López.

Em meados de 1970 Oesterheld deu continuidade a HQ cuja edição explorava uma narrativa com criticas politicas mais diretas, focando mais questões sociais, culturais e humanitárias.

Sua grande força se dá pelo fato de o grande protagonista da história ser um herói coletivo. Adaptar El Eternauta para linguagem cinematográfica sempre foi um sonho da comunidade artística argentina e isto só foi possível após 2018 quando a Netflix entrou em cena e depois de um período de negociações.

El Eternauta foi uma das primeiras histórias de ficção científica lançadas fora dos EUA e também a utilizar Buenos Aires como cenário associando o imperialismo europeu e estadunidense a uma invasão alienígena.

 Sobre isso, o que surgiu inicialmente, foi que a produção teria que atender a certos pedidos dos herdeiros de Oesterheld e do desenhista Francisco Solano López: eles exigiam que a série fosse filmada onde os eventos aconteceram. Por isso a série foi rodada em mais de 35 locações reais de Buenos Aires e em 25 sets criados com a tecnologia de produção virtual, o que lhe conferiu uma estética única e realista.

Além disso inaugura uma forma de contar ficção científica argentina muito diferente de todas as anteriores. Como não existe uma tradição de ficção científica no audiovisual argentino e latino-americano, mais comum nos Estados Unidos, esta série adota uma perspectiva da região e não uma transposição de códigos estrangeiros

A trama gira em torno do protagonista Juan Salvo (pelo excelente ator Ricardo Darin) e seus amigos sempre em   luta desesperada pela sobrevivência quando descobrem que uma estranha e fosforescente neve (que ocorre no verão em Buenos Aires) é tóxica.  O simples encostar de um floco na pele faz com que qualquer ser vivo morra imediatamente. Este é apenas o primeiro choque ao ver   um exército de outro planeta que invade a Terra. Enquanto o grupo vai em direção a capital do país, eles lutam em diversas ocasiões contra insetos gigantes (cascarudos, besouros), uma espécie humanoide com muito mais dedos do que os seres humanos. São feras gigantes capazes de derrubar prédios e todos estes seres são peões, controlados remotamente através de implantes ou dispositivos de medo pelos verdadeiros invasores, los Ellos (Eles), criaturas sobrenaturais que permanecem ocultas, controlando tudo à distância. A única maneira de sobreviver é resistir e lutar juntos.

O comentário mais frequente sobre esta ficção científica assinala nos invasores e em seus métodos, referências veladas aos golpes de estado em que vivia o país. Neste sentido, vale assinalar que as três versões escritas por Oesterheld (a primeira, o remake do desenhista Alberto Breccia) coincidiram com os governos de Pedro Eugenio Aramburu, Juan Carlos Onganía e do Processo de Reorganização Nacional respectivamente.

A reconstrução da história trouxe a lembrança que dez membros de uma única família haviam desaparecido. As histórias que Hector contava em seus quadrinhos enfureciam aqueles que começavam a escrever sobre o período mais sombrio da Argentina

 A série da Netflix em seis episódios não mostra a história completa anunciando que virá numa segunda temporada. Segundo Ricardo Darin, que protagonizou Juan Salvo, falou sobre o futuro do projeto e a possibilidade de uma continuação. “Não foi planejado apenas porque achamos que vai cativar as pessoas. Foi planejado porque toda a história termina com uma segunda temporada”, explicou. “Ao contrário de outras séries que acrescentam capítulos com base no sucesso, El Eternauta já tem toda a sua duração planejada.”.

El Eternauta é considerada uma das principais obras da América do Sul. Aqui no Brasil, a sua obra tem sido lançada e descoberta aos poucos. A versão de 1969 foi lançada pela primeira vez aqui em 2019 pela editora Comix Zone.

Embora a história tenha sido escrita há mais de 60 anos, a adaptação mantém a fiel abordagem coletiva da obra original, enfatizando que “o único herói válido é o herói do grupo, nunca o herói individual “. Essa abordagem mantém a essência da história em quadrinhos publicada pela primeira vez em 1957, que busca destacar o espírito de resistência e solidariedade do povo.

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