Espalhando números da economia brasileira ao ar

Que vivemos na época do imperialismo não restam dúvidas. Como já dizia Lenin, neste estágio há a união do capital industrial com o financeiro, a constituição de monopólios internacionais e os Estados nacionais são meros apêndices do capital. Além disso, há uma corrida desenfreada em torno da conquista de matérias-primas.

Talvez isso justifique o efeito cascata da crise de 2008. Por outro lado, também esse conceito possa servir de base para uma melhor compreensão em torno dos conflitos que ocorrem no Oriente Médio, norte da África e agora na região dos Balcãs e na Venezuela.

Mas o intuito aqui não é fazer uma análise da conjuntura internacional.

Essa simplória contextualização serve para situar a economia brasileira no espaço e no tempo. Mais que isso, visa contribuir com o debate público em torno dos rumos da economia nacional em um mundo globalizado, como também destacar que os números não podem ser observador isoladamente, muito menos isolados do cenário político.

Começo a minha argumentação destacando recente texto do ex-Presidente Lula, onde ele afirma que o Brasil é o país das oportunidades. Para justificar a sua opinião, citou alguns dados relevantes da evolução da economia nos últimos anos. Vejamos:

– Houve a redução da inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9% em 2013.

– O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano nos últimos 11 anos.

– A dívida pública líquida praticamente caiu à metade, entre 2002 e 2013: de 60,4% do PIB para 33,8%.

– Teve a redução do superávit primário de 3,3% do PIB para 1,9% na última década.

– As reservas cambiais acumula US$ 376 bilhões, dez vezes mais do que o valor de 2002.

– Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB.

– O investimento do setor público passou de 2,6% do PIB para 4,4%, de 2002 para 2013.

Paralelamente, esta política econômica reduziu a pobreza em nosso país e melhorou a qualidade na renda do trabalhador.

– Foram criados 21 milhões de empregos.

– 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza.

– A taxa de desemprego passou de 11,3%, em 2003, para 4,8%, em 2013. O menor índice de toda a história.

– Se em 2002 o salário-mínimo valia 82,21 dólares, em 2012 chegou a casa dos 334,41 dólares, obtendo um aumento real de 62,21% acima da inflação.

– O índice GINI, que mede a desigualdade dos países, teve uma acentuada queda, saindo de 0,55, em 2004, para 0,50, em 2012.-

Mas nem tudo são flores. A desigualdade social ainda persiste e a concentração de renda também.

O Brasil mantém uma política fiscal injusta, forçando os mais pobres e a classe-média a pagarem, proporcionalmente, mais impostos que os ricos.

Outro problema grave é a sonegação fiscal. Segundo estudo do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional estima-se que, no ano de 2013, a sonegação fiscal chegou a casa dos 450 bilhões de reais, ou seja, 10% do PIB brasileiro no ano passado.
Fora isso, a capacidade de investimento dos estados e municípios é quase inexistente. Presos as amarras da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e com obrigações constitucionais (saúde, educação, salário com pessoal), estes entes da federação ficam acorrentados ao rigor da legislação.

A taxa Selic sofreu uma queda, partindo de 17%, em 2002, para os atuais 10,75%.

Embora alguns economistas considerem esse valor elevado, capaz de inibir os investimentos, me parece que precisamos observar dois movimentos para que sejam tomadas algumas medidas que estimulem o crescimento econômico e social dos brasileiros.

O primeiro deles tem relação direta com os beneficiados dos títulos da dívida pública. Fala-se que 20 mil rentistas são favorecidos. Entre eles, os grandes bancos de nosso país, os públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES) e os privados. Assim, qualquer alteração na política de juros necessita dimensionar os efeitos colaterais que tal medida implica.

O segundo mantém afinidade com o juros no cartão de crédito. Segundo estudo divulgado, no final de 2012, pela Associação Brasileira de Defesa dos Consumidores (Proteste), a taxa anual chega à 323% ao ano.

Tenho ciência que os obstáculos para equilibrar o crescimento econômico com o social não são fáceis.

De igual modo, nadar contra a maré rentista em que se encontra o capital mundial é muito difícil. Resistir ainda é a melhor saída.

Por fim, reforço o que disse no início do texto. Analisar os dados econômicos sem considerar a política e a localização espacial dos setores que compõe a sociedade não colabora com o debate franco. Pelo contrário, tende a limitá-lo e impactar na melhor compreensão do mundo que nos cerca.

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