Estou indo para um lugar perto, porém distante

– Táxi!

O homem se aproximou um pouco desconfiado. Abriu a porta e perguntou:

– O destino madame?

– Estou indo para um lugar perto, porém distante.

– Como assim? (perguntou o taxista)

– É que é perto para ir de táxi e longe para ir a pé.

O taxista sorriu e começou sua jornada. Durante o percurso os assuntos foram surgindo.
Começa o motorista:

– A senhora viu que horror? Jogaram uma criança de 2 meses numa lagoa, em Minas Gerais, na lagoa da Pampulha dentro de um saco plástico! – E a mulher que matou o filho para ficar com a herança…?  E o filho que matou o pai…? E o irmão que matou o outro…?

Chegando ao semáforo, ele parou e à aproximação dos vendedores ambulantes, foi subindo os vidros do carro.

– Pois é madame, fico constrangido em fazer isso. Mas não podemos confiar em mais ninguém.

– Eu entendo (respondeu a "madame"), também já fui vítima de seqüestro relâmpago e de assalto a mão armada.

– Verdade? Seqüestro relâmpago? Eu já fui roubado 3 vezes. Abriram meu barraco e levaram minha televisão.

– E aí? Como ficou? Perguntou a madame!

– Acabaram os roubos.

– Mudou de casa?

– Não, mudei de barraco.

A viagem continuava e o motorista de táxi não parava de falar.

– Ah minha senhora, eu sei o que é ser confundido. Acredite que por várias vezes vi madames, cruzando os braços sobre suas bolsas quando me viam. Parecia-me que toda vida delas estava lá dentro daquela sacola. Por isso digo como a senhora. Hoje eu ando "perto, porém distante". Perto, porque preciso dos fregueses e distante, principalmente das madames para não ser confundido com qualquer um.

Segundo a pessoa com quem se passa o ocorrido, ainda permanece em sua
lembrança, o fato de não ter notado que o motorista era negro e que
isso só tinha vindo a acontecer quando ele mesmo colocou-se na posição
de discriminado . Isso a fez pensar em como muitas vezes o estigma que
 carregam consigo  as pessoas que sofreram ou sofrem qualquer tipo de
preconceito ( como posição social, preferência sexual…) geralmente
vivem intensamente a situação, muitas vezes não conseguindo se
libertar da pressão que vivem diariamente.

Para ela, a situação no táxi era simplesmente a de duas pessoas conversando, sem diferença de cor, condição social. Pelo menos foi o que sentiu.  Foi tomada de admiração apenas por não ter se sentido como discriminadora, achando que há uma necessidade muito grande de que os discriminados não passem a ser seus próprios discriminadores.

Não deixa porém de lembrar que se trata de um trabalho árduo mas que,
em toda sua vida, considera uma vitória o que já foi conseguido em
nossa sociedade, por pouco que seja, em prol das classes menos favorecidas.

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