Farsa nas Estradas
Um amigo meu, advogado no interior de Santa Catarina, esteve na última terça-feira cedo num ponto onde um caminhoneiro (de verdade) havia sido parado numa via federal, em barreira de supostos colegas. Era um parente seu, que não sabia o que estava ocorrente e pediu sua ajuda em meio ao lockout realizado em algumas estradas do país desde o dia anterior e anunciado enganosamente como “greve de caminhoneiros”.
Publicado 11/11/2015 10:49
Ao chegar ao local, esse amigo constatou desde logo um bocado de coisas esquisitas, que me narrou detidamente logo depois, ainda meio atordoado com o que havia visto. Vou destacar aqui cinco itens apontados por ele:
1. “Os caras que estavam pondo cones na estrada não eram da boleia”. Ou seja, as pessoas, todas do sexo masculino, que estavam fazendo o bloqueio da estrada e abordando motoristas que trafegavam nos dois sentidos não tinham familiaridade com caminhões e talvez sequer conhecessem uma cabine por dentro.
2. “Eles ameaçavam queimar a carreta de quem não parasse”. De maneira grosseira, agressiva até, os piqueteiros sequer cumprimentavam direito os condutores que eram barrados. Apenas ordenavam que encostassem atrás da fila, meio desalinhada, que se formava nas proximidades, até então sem a presença da Polícia Rodoviária Federal. A quem hesitasse em atender ao comando, eles diziam frases do tipo “é melhor encostar do que ver seu bruto queimar”.
3. “Os do bloqueio só tinham os cavalos ou, quando engatados em carrocerias, estavam sem cargas”. Ou seja, os que fechavam a rodovia estavam ali só pra aquela tarefa, já que não tinham seus caminhões verdadeiramente na estrada, pois alguns só traziam mesmo a parte frontal (o cavalos) de carretas. Alguns outros, com o veículo completo, não levavam carga alguma.
4. “Indagado sobre as razões, um deles repetia ‘é pra derrubá a Dilma’”. Era perceptível, pois, a falta de qualquer pauta de reivindicações que dissesse respeito ao ofício de caminheiro
5. “Num canto, um deles perguntou a outro se ‘já pegou a grana?’”. Nosso personagem não ousou fazer ilações sobre o dinheiro de que falava o tal sujeito, mas supôs que se tratava de alguma verba de custeio da ação.
O advogado de que falo não se apresentou como tal, apenas chegou ao local e se juntou ao caminhoneiro que o havia chamado. Ele disse apenas que, como cidadão, telefonou à Polícia Rodoviária, que logo chegou e ajeitou o tráfego, de modo que os veículos ali barrados foram sendo liberados naturalmente.
É uma história banal, corriqueira, mas que serve pra dar uma ideia do quão frágil e inconsistente é (ou foi) esse movimento. Contudo, realça seu caráter político e o fato de que é financiado por alguém que anda bem longe das boleias de caminhões.