Fim da “Era Palocci” ou Fim da “Era Malan”?

Logo após a estupenda reeleição do presidente Lula, o ministro das Relações Institucionais Tarso Genro foi enfático ao afirmar que o resultado das eleições significava o fim da “era Palocci”. Prontamente abriu-se uma discussão sobre o assunto. O próprio p

De qualquer forma, Lula tem razão quando diz que nunca existiu a “era Palocci”. Se houver realmente mudanças no rumo da política econômica para um modelo desenvolvimentista será sim, o fim da “era Malan”. Sim porque Palocci nada fez de novo, absolutamente nada. Foi um período morno, sem ousadia, de pouca imaginação, que não deixará saudades. Somente seguiu o que já estava colocado pela fracassada equipe de Malan e Cia. Em algumas ocasiões, sem nenhum acanhamento, Palocci chegou a fazer elogios a forma como foi conduzida a economia na “era Malan”.


 



A economia seguramente nunca foi o forte para o ex-ministro Palocci. Mas, a sua ânsia de afagar banqueiros e especuladores não tinha limites. Por isso, como se estivesse seguindo a última revolução nas ciências econômicas se propôs a lutar pela independência do Banco Central. Certamente achava que com estas atitudes à frente do ministério da Fazenda se credenciaria para sucessão do presidente Lula em 2010. Talvez até sonhasse com o apoio do PSDB. Agora, angustiado em razão do consenso que se forma a favor do crescimento econômico, Palocci luta para que nada mude na política econômica.


 


 


Juros altos são eficientes contra a inflação?


 



Não há dúvida alguma que juros altos são eficientes para combater a inflação. Ao limitar o consumo, os juros altos avisam aos produtores que se tentarem aumentar os seus preços – seja por qualquer motivo – serão sumariamente penalizados. O problema é que juros altos causam sérios problemas para economia. Além da queda do consumo, também reduz os investimentos produtivos, atrai capital especulativo que valoriza o câmbio artificialmente, impacta na dívida diretamente atrelada a taxa de juro determinada pelo próprio banco central conduzindo ao desequilíbrio nas contas públicas. Por isso, embora eficiente, não é producente utilizar juros altos para combater a inflação, a não ser num caso muito especial em que a economia estiver operando no pleno emprego.


 


 


O célebre economista John Maynard Keynes ofereceu valiosos ensinamentos sobre as taxas de juros. Na sua obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, explicava os negativos impactos sociais que os juros altos acarreta (2). Segundo os economistas neoclássicos (neoliberais), o principal determinante do investimento é a poupança que, por conseguinte é determinada pela taxa de juros. Nesse sentido, uma alta nos juros poderia ser adequada, pois ao contrair o consumo estimula a poupança. Keynes inverte esse pensamento, é o investimento que determina a poupança, e não o contrário.


 



Quanto maior o investimento maior a renda, e quanto maior a renda maior a poupança. Como poupança é a renda que não é gasta, quanto maior o investimento maior é a poupança. E, para a  sustentação do investimento é necessário manter a  taxa de juros baixa. Por outro lado, taxa de juros elevada só interessa àqueles que vivem da riqueza financeira, que Keynes chamava de investidor sem função ou rentier. Segundo ele a manutenção de taxa juros baixa levará a morte do rentier, sem nenhum sacrifício para a economia. Assim sendo, não faz sentido algum a afirmação do presidente do banco central, Henrique Meirelles, de que até os bancos gostariam de taxas de juros menores (3).


 



Não acredito que algum dia Palocci tenha realmente se interessado por Keynes. Quando sonhava com a “revolução permanente” Keynes estava muito a sua direita, agora como neoliberal está muito a sua esquerda. Não importa. O que interessa é o Brasil se livrar o mais rápido possível das forças do atraso e construir um projeto nacional. Está mais do que na hora de acabar com a festa do rentista!


 



Notas


 



(1) Cf. FORTES, Leandro et alii (2006). “Duro de Matar”. Carta Capital, nº 418, 8 de novembro.
(2) KEYNES, John Maynard (1982). A teoria geral do emprego do juro e da moeda. Trad. Mário R. da Cruz. São Paulo: Atlas.
(3) Cf. PINHEIRO, Márcia (2006). “Sob Fogo Cruzado”. Carta Capital, nº 420, 22 de novembro.

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