França e Colômbia: devemos comemorar?

No domingo (19), ocorreram duas eleições que chamaram a atenção do segmento progressista do BraZil, pois representavam possibilidades concretas de avanços (ou retrocessos) da “esquerda”. Na França realizou-se o segundo turno das eleições legislativas e na Colômbia o segundo turno das eleições presidenciais.

Das urnas saíram dois cenários que precisam ser olhados com cuidado: Macron está, agora, diante de um cenário difícil para que ele possa ter um mandato minimamente tranquilo; e na Colômbia, Gustavo Petro, venceu, por uma margem apertada, o símbolo da submissão da Colômbia aos EUA.

A pergunta é: vencemos?

Na Colômbia antes dessas eleições presidenciais, ocorreram, em 13 de março, eleições legislativas, para o preenchimento de 106 cadeiras do Senado e 169 da Câmara de Representantes e o resultado foi o seguinte:

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-O Partido Liberal Colombiano, PLC, que se apresenta como sendo de centro-esquerda, mas que na verdade convalida o sistema de poder oligárquico existente no país, elegeu 32 deputados, menos 3 em relação a 2018;

-O Pacto Histórico pela Colômbia, PHxC, uma coalizão de centro-esquerda formada em fevereiro de 2021, formada por 20 partidos e movimentos, cujo eixo central é o partido Colômbia Humana, conhecido como Movimento Progressista, liderado por Petro, elegeu 28 deputados;

-O Partido Conservador Colombiano, C, de direita que faz parte do sistema de poder vigente, elegeu 25 deputados, 4 a mais do que em 2018.

Esses 3 partidos, somados, detém 85 cadeiras no parlamento, 50,3% do total. Outros 4 partidos somam 58 deputados, e são determinantes para as votações na Câmara: o partido do reacionário Álvaro Uribe, Centro Democrático – Mãos Firmes, Coração Grande, elegeu 16 deputados; o partido Câmbio Radical, CR, de direita moderada, que também elegeu 16 deputados; e o partido do atual presidente (Juan Manuel Santos), Partido da União pela Gente, que elegeu 15 deputados; e a Aliança Verde, de centro-esquerda, elegeu 11 deputados.

No Senado, há um “espelho” da Câmara: Pacto Histórico tem 20 senadores; os conservadores 15; os liberais, 14; a Coalizão Centro Esperança, da qual a Aliança Verde faz parte, tem 13 senadores; o CR, 11 senadores; e os governistas 10 senadores.

O que temos é um cenário no qual Petro terá minoria em ambas as casas, e isso exigirá um conjunto de flexões táticas, para que ele consiga sobreviver no caótico cenário colombiano, no qual o narcotráfico, as forças paramilitares e a própria polícia, tem forte papel na repressão aos setores progressistas, que também é assombrada pelas forças guerrilheiras que ainda atuam : o Exército de Libertação Nacional, ELN e os remanescentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC, hoje Comunes, que faz parte da coalizão de Petro.

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Na França, as eleições presidenciais de abril, que deram 58,6% de votos ao atual presidente Emmanuel Macron, contra 41,4% dados a Marine Le Pen, já apontavam para as dificuldades que o presidente reeleito teria.

E o resultado foi realmente um baque para Macron. Seu partido, o República em Marcha, que se considera de centro, caiu de 308 para 170 cadeiras (das 577 existentes), perdendo a maioria absoluta, já que os partidos que giram em torno do partido de Macron, o Movimento Democrático, MoDem, sucessor da União pela Democracia Francesa, de Valéry Giscard d’Estaing, hoje liderada por François Bayrou, elegeu 48 deputados (+6); e o recém fundado partido Horizonte, do ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, de centro-direita, elegeu 27 deputados e mais pequenos grupos, somaram 250 deputados.

A grande aliança eleitoral, formada em 1° de maio desse ano, chamada de Nova União Ecológica Social e Popular, formada pelo França Insubmissa, de Mélenchon e vários pequenos partidos de esquerda trotskysta; pela aliança Polo Ecologista; pelo decadente Partido Socialista, PS, e seus aliados; e pelo Partido Comunista Francês, PCF, que busca se reerguer, junto com seus aliados, conseguiram eleger 79 deputados. Portanto, o conjunto das esquerdas, elegeu 184 deputados, tornando-se, de fato, a segunda força política do momento.

Dentro dessa grande aliança eleitoral, a coalizão Juntos, formada por socialistas, a esquerda de Mélenchon, verdes e comunistas, elegeram 105 deputados, sendo que o França Insubmissa (partido do próprio Mélenchon), passou de 17 para 72 deputados. As outras forças componentes da coalizão deram o suporte à coalizão, com os verdes ganhando 26 cadeiras (tinham apenas 1 deputado), os comunistas passaram de 10 para 12 e os socialistas continuaram a queda melancólica, passando de 30 para 26.

Mas foi na Direita que as cadeiras foram muito modificadas. O partido Reunião Nacional, RN, na verdade a antiga Frente Nacional, FN, fascista, que se repaginou em 2018, saltou de 8 para 81 deputados, sendo, portanto, o grupo mais favorecido pelas urnas. Já a direita “moderada” e mais tradicional, agrupada na aliança União da Direita e do Centro, o velho gaullismo, elegeu 64 deputados, perdendo 66 cadeiras. Já os gaullistas mais conservadores, agrupados no pequeno partido Os Republicanos, elegeu 51 deputados, perdendo 51 cadeiras.

Na França, portanto, Macron saiu gravemente ferido do processo eleitoral, sendo que o coesa agrupamento fascista de Marine Le Pen, emergiu das urnas como a segunda força política do país, já que não fez aliança eleitoral com nenhum outro partido ou aliança, enquanto o inusitado ato da esquerda, em se unir dias antes das eleições, a coloca no centro da luta política, desde que não se esfacelem posteriormente.

O que de comum França e Colômbia? Nas duas eleições ficou claro que afunilou o embate ideológico no mundo e o centro político, grande aposta do capitalismo liberal, está se desmilinguindo, abrindo as portas para a direita reacionária, que agora enfrenta uma possibilidade: a junção de grandes alianças eleitorais que garantam a “governabilidade”.

A ver….