Frente ampla, pero no mucho

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Foto: Markus Spiske/Unsplash

Jair Bolsonaro é o inimigo número um do povo brasileiro. Quanto a isso já nem se discute mais. Por decorrência, sua destituição da Presidência da República, seja lá como for, é do interesse maior da nação vilipendiada. Mas essa destituição só poderá ocorrer mediante um extenso, vigoroso movimento popular, uma frente ampla, seja diretamente nas ruas (apesar das restrições da pandemia), seja por via de uma ação mais contundente de entidades representativas sobre o Congresso Nacional, de modo a favorecer uma correlação de forças que imponha à Câmara dos Deputados o acolhimento de um dos mais de 100 pedidos de impeachment lá estacionados.

A CPI da Covid, por seu turno, avizinha-se como o instrumento crucial dessa investida do movimento democrático brasileiro contra o Capitão, sua ideologia, sua política genocida, seus correligionários adeptos da ditadura e do fascismo (dentro ou fora do governo). Embora sem poder para impedi-lo, é previsível que a CPI exponha as entranhas do governo genocida e com isso suscite um movimento político que leve a sociedade reagir com maior contundência à destruição da nação que vem sendo perpetrada por Bolsonaro. Será como o boxeador que, incapaz do nocaute, vai minando resistência do adversário com seguidos golpes.

A natureza da frente

A frente ampla em questão não é um partido, uma federação de partidos, uma determinada organização, com diretoria, sede, estatuto,  etc. Não possui esse tipo de concretude. A frente constitui-se em um movimento, em um processo, político de natureza eminentemente tática que ocorre de modo diferenciado de acordo com as circunstâncias políticas que vão ocorrendo (e se modificando) no cenário político nacional. Apresentará uma feição aqui, outra ali, mais outra acolá. Seu objetivo, é pontual, pontualíssimo: derrotar Bolsonaro, sejam quais forem as razões daqueles que desse movimento participam. Aglutina, portanto, forças políticas as mais díspares. Na CPI da Covid, por exemplo, a frente ampla se expressou na união da esquerda,  centro esquerda e o chamado centro democrático em torno de um único objetivo: denúncia de Bolsonaro e sua ação deletéria na Presidência da República. Essa frente estabeleceu maioria oposicionista de sete a quatro e vem derrotando seguidamente o governo e sua tropa de choque.

Mas essa tão necessária frente ampla encontra resistências e incompreensões, a começar por uma politica de vetos. Veta-se à bangu, para usar uma expressão popular, personalidades de centro e mesmo de direita que, por motivos próprios, desejam aderir à luta contra Bolsonaro. Muitos que votaram pelo impedimento da presidente Dilma Rousseff, em 2016, e em Bolsonaro em 2018, são terminantemente vetados. A alguns se concede-se o benefício da penitência ou, como já foi dito, um “ajoelhar-se sobre o milho”. Veta-se a companhia indesejável desses impuros e muitos outros.

Como se não bastasse a política excludente dos vetos, alguns tentam enxertar nos objetivos dessa frente ampla um programa de governo, algo próprio de uma frente eleitoral. Dessa confusão resulta que muitos se afastam da frente ampla, uma vez que possuem seus próprios programas, com os quais participarão das eleições de 2022.

Mais recentemente deu-se a defesa de que tal frente ampla ocorra em torno do nome do Lula. Estultice de marca maior, como diria um antigo, que não unifica nem mesmo a esquerda.

De tudo isso resulta um brutal processo de exclusão que, na prática, inviabiliza uma frente ampla. Em outras palavras, inviabiliza-se um combate produtivo e consequente a Bolsonaro. Eis a responsabilidade que devem assumir esses puristas, que se isentam da análise concreta da situação concreta e procuram conformar a realidade aos seus desejos e fantasias.

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