George Habash, Mártir e Herói Palestino

Esta semana, havia me programado e reunido farto material, para comentar a queda de mais um muro que separa seres humanos, com a derrubada do Muro em Jafah, em Gaza, fronteia com o Egito. Tal feito foi organizado pelos palestinos, que cruzaram a fronteira

A trajetória de Habash



Habash é palestino, nascido na cidade de Lydda em 2 de agosto de 1926. Nasceu em uma família cristã de linha ortodoxa grega, cujos ritos na região eram todos celebrados na língua árabe. Quando ocorreu o que os palestinos chamam de Nabka (Dia da Desgraça), em 15 de maio de 1948, quando os exércitos israelenses ocuparam boa parte das terras destinadas pela ONU para a construção dos estados palestinos e os exércitos árabes ocuparam a outra parte, a família de Habash acabou tendo que viver como refugiada política, como outros milhões de palestinos. Nessa época, o jovem Habash tinha 23 anos e já cursava medicina na Universidade Americana de Beirute, onde se graduou em 1951, especializando-se em pediatria.



Após a sua formatura, mudou-se para a Jordânia, onde trabalhava nos campos de refugiados palestinos em Amã, sua capital. Desde os tempos de Universidade, conheceu a palestina Hilda Habash e com ela se casou. Hilda nasceu na cidade de Jerusalém, que os palestinos denominam de Al Quds.



A partir de 1952, Habash, então com apenas 27 anos, engaja-se nos movimentos nacionalistas árabes, que inspirariam em toda a região, o surgimento do que os historiadores chamam de Pan-Arabismo, onde a figura de Gamal Abdel Nasser é a mais forte inspiração desde a tomada do poder no Egito pelo seu grupo de jovens coronéis em 1954 e sua morte em 1970.



Habash funda o Movimento Árabe Nacionalista com outros líderes árabes e palestinos. Líderes desse grupo, posteriormente, em vários países, passaram a atuar em vários partidos políticos, mas o de maior expressão e mais famoso, existente até hoje em vários países, é o Partido Socialista Árabe ou Baath como é conhecido (foi forte no Iraque e comanda a Síria atualmente).



Por suas posições mais radicais, Habash foi logo perseguido pelo então rei da Jordânia, Abdullah, avô do atual Abdullah II. Fugiu para a Síria, onde lá também foi perseguido. Estava sendo formada uma liderança revolucionária. Nesse processo de perseguições, com estudos intensos e contato com literatura marxista e leninista, Habash vai mudando sua visão de mundo e as táticas para a revolução na Palestina. Não se tratava mais e tão somente libertar a Palestina da ocupação sionista, mas libertá-la de vez do sistema capitalista e opressor.



Fundador da Frente Popular



Os anos sessenta foram marcados pelo crescimento dos movimentos libertadores dos palestinos. Em maio de 1964, reúne-se o Conselho Nacional Palestino, onde sai a primeira carta da Palestina. Nesse mesmo ano, em 26 de junho, é formalmente fundada a Organização para a Libertação da Palestina – OLP. A necessidade de uma organização revolucionária vinha sendo defendida desde encontros ocorridos no Kuwait em 1956.



Yasser Arafat joga papel fundamental nessa época, quando, em 1954 funda o grupo chamado Al Fatah, junto com Salah Khalaf, Kalil Al Wazir, Khaled Yashruti, quase todos líderes da GUPS (General Union of Palestinian Students, a UNE Palestina). A Fatah ajuda a fundar a OLP, mas só vai assumir o seu comando, por maioria, em 1967, quando Arafat torna-se seu líder máximo. Habash participa ativamente do processo revolucionário, mas sempre demarcando campos de diferenças políticas e ideológicas com o grupo majoritário.



No mesmo ano de 1967, em dezembro, Habash, junto com Abu Ali Mustafa, fundou a Frente Popular de Libertação da Palestina – FPLP, de orientação mais revolucionária, marxista-leninista. Desde o início foi seu secretário-geral, tendo deixado o cargo apenas em 2000, quando estava com 74 anos e já debilitado por tantas prisões e algumas doenças. Foi substituído no cargo pelo co-fundador da Frente, Ali Mustafa e este posteriormente, por Ahmad Saadat, atual secretário-geral, que se encontra encarcerado por Israel.



Habash sempre demarcou campo de diferenças, algumas profundas, com Yasser Arafat. Apesar de integrar a OLP, por ser essa uma organização frentista, de frente única, composta por todas as organizações revolucionárias palestinas, eram muitas as diferenças. Habash integrava a direção executiva da OLP, mas nunca teve maioria na direção.



A Frente Popular, de linha mais revolucionária, em função dos tempos difíceis e de correlação de forças desigual no mundo para os mais revolucionários, não tem uma força expressiva em termos eleitorais. Nas últimas eleições legislativas de 2006, conseguir na sua lista geral, chamada “Lista do Mártir Abu Ali Mustafa”, fundador do Partido, obteve, no cômputo geral 4,2% dos votos, tendo elegido três deputados apenas, que foram Ahmad Saadat, atual secretário-geral, preso; Khalida Jarrar e Jamil Majdalawi. O parlamento palestino tem 132 cadeiras, onde o Hamas continua com maioria de 56%. Na cidade de Belém, a FPLP é mais forte, atingindo 10% da votação local.



AL Hakim faleceu de um ataque cardíaco no último dia 26 de janeiro de 2008, sábado passado, na cidade de Amã, na Jordânia onde tinha residência fixa e fazia tratamento médico. O governo palestino, a ANP de Mahmoud Abbas decretou luto de três dias em toda a palestina. O PCdoB enviou uma mensagem de condolências ao Comitê Central da Frente Popular e organizações revolucionárias de vários países também enviaram suas condolências. O enterro deu-se no último dia 28 de janeiro, segunda-feira, às 14h. seu corpo trasladou do Hospital Geral de Amã em direção à Catedral Ortodoxa e depois foi enterrado no cemitério de Sahab, onde repousará eternamente.



Símbolo da FPLP


 



Nunca tive contato pessoal com Habash, ainda que quisesse tê-lo nos meus quase 30 anos de militância em favor dos palestinos. Mas sei que podemos considerá-lo um herói de seu povo, um mártir dessa causa que é a mais grandiosa da humanidade na atualidade. Habash, pela sua sabedoria, pela sua habilidade, era conhecido no movimento como Al Hakim (o sábio). Deixará saudades. Por isso dizemos em alto e bom som:



Vida longa á revolução palestina!
Glória eterna a Al Hakim e a todos os mártires palestinos!
George Habash, você esta presente!

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