Goiânia de desmemória

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Goiânia é a cidade de minhas memórias, de meus afetos, de minhas lutas. Celebro e deploro sua sina. A facilidade com que tudo aqui cai em esquecimento. Dizem que o goiano é por si mesmo, um desmemoriado. Descendentes de garimpeiros, caçam riquezas nos buracos, nas brenhas, depois se vão. A história de nossa gente passa a ser uma história de esquecimentos. Goiânia não é capaz de guardar uma memória por muito tempo. Apenas passados pouco mais de setenta anos e já não nos lembramos dos pioneiros. Inimiga de monumentos que guardem suas lembranças, Goiânia é um deserto de obras de arte em praças, parques e jardins.
Exceções para alguns nomes de ruas ou logradouros que ainda não foram apropriados pela fúria imobiliária ou pelo oportunismo de vereadores que teimam em rebatizá-las com nomes de brilho ou sombra duvidosos. Anda por aí um cavaleiro com seu cavalo sem poste para amarrá-lo. Vagueia como fantasma que os administradores pósteros preferem esquecer. Enquanto grassam experiências arquitetônicas grotescas nas novas obras, o passado onde ainda havia borbulhas seminais e criativas é afastado. Penso que a última fronteira criativa que tivemos foi no governo de Mauro Borges, com seu plano MB. Passados os anos demolidores da exceção que queria apagar essas memórias, o rol de destruição pesa como cadáver insepulto. O tão novo Goiás tem mais obras destruídas do que edificadas. O cidadão simples pergunta atônito: Onde está o BEG? Para onde foi a CAIXEGO? A METAGO, a OSEGO, o DERGO e todas aquelas siglas que demarcavam os propósitos do estado para o futuro? Entrou pelo bico do pinto,/ saiu pelo bico do pato,/ quem souber que aponte o buraco./ Até a usina de Cachoeira Dourada conseguiram pulverizar. É por isso, que compreendo a indignação dos que clamam pela ereção da estátua de Pedro Ludovico, última obra da escultora Neusa Moraes. Nos contatos que já tive com o Governador Alcides, sempre vi nele uma incrível boa vontade para com as coisas da cultura. Sobre o assunto da estátua mesmo, já tive notícias de que já ordenara o pagamento da oficina e que o monumento já poderia encontrar seu lugar em Goiânia. Mas, da fonte ao mar há muitos remansos e cachoeiras. Até agora a disposição do governador não se cumpriu. Pedro, que abriu caminhos para tanta gente, vencendo o tempo, encontra barreiras incompreensíveis para o reconhecimento de sua memória. Os turistas atraídos pela fama de Goiânia chegam e se abismam com a pobreza de nossos museus, teatros e monumentos. Resta aos guias turísticos locais levá-los a algum prédio modernoso, um desses caixões de vidro que ofende o verde e os ventos do planalto. Pior ainda ver o espetáculo do centro Oscar Niemayer no vilipêndio do abandono. Resta ao guia esforçado do turismo urbano levar o visitante a um show de música sertaneja, a um boteco, depois, a Pirinópolis, Cidade de Goiás, ou o escaldatório de uréia de Caldas Novas. Em Goiânia é possível dizer que aqui só há o presente. O dia de hoje rejeitando seus nervos e seus ossos.

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