Governo do Iraque aprova retirada de tropas

Já tratamos por diversas vezes neste espaço, sobre retirada de tropas americanas de solo árabe e iraquiano. Desta feita, porém, os detalhes vão ficando cada vez mais claro e na última semana, o gabinete do primeiro Ministro Nuri El Maliki, xiita, aprovou,

Aspectos aprovados pelo gabinete


 


 


O gabinete do primeiro Ministro Nuri El Maliki, aprovou no último dia 16 de novembro, domingo passado, o plano que já vinha sendo discutido com o exército de ocupação dos Estados Unidos, do qual, nesta coluna, já havíamos antecipado alguns pontos, vários deles inclusive polêmicos. Antes de comentarmos os desdobramentos e repercussões, vamos a seguir apresentar um resumo desses pontos gerais e principais:


 


 


• O prazo final para a retirada das tropas estadunidenses de solo iraquiano ficou prorrogado para 31 de dezembro de 2011 (o prazo dado pela ONU termina em 31 de dezembro de 2008 e o novo prazo precisa ser aprovado pelo parlamento iraquiano ainda);


 


• O Iraque terá direito de julgar soldados americanos por crimes graves cometidos apenas e tão somente se estes soldados estiverem fora do sérico ativo, ou seja, o plano garante imunidade judiciária às tropas quando em serviço e fora das bases americanas;


 


• Até junho de 2009, as tropas estadunidenses deixarão de patrulhar ruas, aldeias, cidades em geral, ficando essa tarefa exclusivamente com as forças regulares e policiais do Iraque;


 


• Ao longo de 2009, os americanos perderão o direito de invadirem casas de cidadãos iraquianos sem mandato judicial, como fazem hoje ao seu bel prazer;


 


• Qualquer ataque que os americanos queira fazer a algum vizinho árabe, esta vedado a partir de território iraquiano.


 


 


Comentários e desdobramentos


 


 


Aprovado pelo gabinete esses pontos gerais acima enumerados, começaram já desde a segunda-feira passada, o debate no parlamento. Há resistências. Os sunitas, que tem no máximo 20% dos deputados, têm restrições ao mesmo, pois exigem a retirada imediata ou mais breve. Mesmo o xiita e xeque Muqtada Al Sadr, de linha mais anti-americana, é radicalmente contra esse acordo e ameaça colocar seus homens nas ruas em imensas manifestações. Já o principal aiatolá iraquiano, Ali Sistani, de linha xiita também, mais moderado, apóia a aprovação do plano.


 


 


O parlamento iraquiano entrará em recesso na próxima segunda, dia 24 de novembro e teremos um feriado religioso importante pela frente que é o Eid Al Ada (é a chamada Festa do Sacrifício, comemorada em 21 de dezembro, onde se comemora o livramento do filho de Abrahão do sacrifício de ser morto a pedido de Deus como prova de sua fidelidade). Os debates foram tão acalorados já desde o primeiro dia, pela oposição de Moqtada Al Sadr, que os debates tiveram que ser suspensos pelo presidente do parlamento, Mahmoud Mashadani.


 


 


O aval ao acordo já havia sido dado pelo presidente do Iraque, o curdo Jalal Talabani e pelo embaixador dos Estados Unidos no Iraque, Ryan Crocker. Bush teve que ceder na questão da fixação de prazo limite de retirada e a questão da imunidade parcial dos seus soldados. Mas o inesperado apoio a esse plano, que poderá fazer com que até o radical Moqtada recue em sua rejeição ao plano, veio do Irã. Em declaração dada depois da suspensão dos trabalho no Iraque, o aiatolá mais poderoso do Irã, Ali Khamenei, considerado uma espécie de Guia Supremo dos xiitas nesse grande país islâmico, afirmou que o acordo poderia favorecer a soberania do Iraque.


 


 


Se o parlamento iraquiano não aprovar o plano até o final do ano, os Estados Unidos ficarão em uma situação delicada. Ou eles pedem a prorrogação do mandato à ONU ou ficariam em uma situação de completa ilegalidade no país, justamente na iminência da posse de um novo presidente americano, Barak Obama em 20 de janeiro de 2009.


 


 


Aqui não temos como dar uma opinião sobre o mérito em si se esse acordo representaria um avanço ou um retrocesso. É claro que todos que lutamos contra a invasão, defendemos esses anos a todos a imediata das tropas de ocupação. Apoiamos inclusive os insurgentes na sua luta pela soberania nacional. Mas, aqui invocamos a velha correlação de forças que vivemos hoje no mundo. Ela vem se alterando, mas não ainda ao ponto de uma retirada tão imediata como desejamos. Essa é a dura realidade.


 


 


A vitória de Obama nesse contexto favorece esse processo, pois ele passou a campanha dizendo que retiraria as tropas do Iraque. Chegou a falar em janeiro em retirar em 3 meses. Depois aceitou 11 meses, passou para 16 meses e agora, se aprovado for esse plano, joga a retirada para 36 meses! Vejam que no início do ano, quando eu dizia que qualquer que fosse o presidente que vencesse as eleições, democrata ou republicano, não retiraria as tropas de imediato, estávamos certos. Há um sistema montado, o complexo industrial militar que move essa imensa máquina de guerra americana que o levou a ser a maior potência militar do planeta, hoje imbatível e também econômica, ainda que agora mais abalada, mas ainda muito forte.


 


 


D ponto de vista do povo do Iraque, não há movimentos insurgentes que garantam a retirada imediata, a resistência não tem tanta força assim e os sunitas, que combatem de armas em punho e mesmo em alguns partidos e no parlamento, são minoria.


 


 


Assim, arrisco dizer que o acordo pode resultar algum ganho, alguns recuos para os americanos e algum fato novo pode acontecer que poderá antecipar a retirada. Por ora, acho que o acordo será aprovado e referendado pelo parlamento iraquiano nos próximos dias. A conferir.

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