Governo Lula: convincente e arriscoso

Análise do PCdoB destaca os desafios e a urgência da mobilização social para a reconstrução nacional durante a ‘virada’ do governo.

O presidente Lula | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Vencidos os 12 primeiros meses, muito se disse — em apoio ou contra — sobre o terceiro governo Lula.

Em dezembro passado, a direção nacional do PCdoB abordou o tema em reunião plenária. Agora, em nota da sua Comissão Política Nacional, o Partido torna pública a sua análise.

A política voltou ao posto de comando e se iniciou uma “virada” em relação à situação desastrosa produzida nos dois anos de Temer e, sobretudo, nos quatro anos de Bolsonaro.

Dentre os fios condutores dessa “virada”, a reinserção do Brasil na cena internacional, mediante política externa altiva e propositiva; a retomada de políticas sociais compensatórias de consistente repercussão sobre as condições de vida da população mais pobre e sobre o consumo; e o ensaio de iniciativas de fôlego destinadas à retomada do  desenvolvimento tendo como lastro o relançanamento da indústria.

Neste último item, destacam-se o novo PAC, a recuperação do papel do BNDES e demais bancos públicos na operação do incentivo creditício às atividades econômicas, o fortalecimento da Petrobras e a nova política industrial assentada, em boa parte, na ciência e na inova& ccedil;ão tecnológica.

Mas o terreno é movediço. E arriscoso, como diria Guimarães Rosa.

O ambiente internacional é marcado pela profunda crise do sistema capitalista, que se arrasta e age, feito fogo de monturo, como fator estimulador de conflitos regionais, de guerras e de instabilidade econômica. E se é verdade que parcela da liquidez assim mesmo existente pode se reverter em investimentos externos no Bras il, verdade também é que aí reside parte substancial da pressão interna e externa em defesa dos fundamentos macroeconômicos neoliberais persistentes.

Internamente, o governo Lula tem que matar um leão todos os dias e, se possível, mostrar a juba — seja no confronto com o parlamento, onde amarga correlação de forças adversa, seja no enfrentamento do cerco midiático pró-mercado, que tem peso específico considerável na cena política.

Cá com meus modestíssimos botões, assinalo que há ainda um fator negativo nem sempre percebido com clareza: o caráter disfuncional do aparelho estatal — fator limitante da ação de governo que prospera negativamente há cerca de duas décadas e se agravou nos governos Temer e Bolsonaro.

Assim, é possível afirmar que a “virada” iniciada no atual governo ainda acontece sob o signo de uma transição da complexa situação herdada a uma situação nova, em que se possa, sobre o lastro de condições políticas e institucionais favoráveis, avan çar consistentemente na agenda da reconstrução nacional.

E, para tanto, emerge com muita força e urgência a absoluta necessidade da mobilização social, que &mdas h; como assinala a nota do PCdoB — se impõe como responsabilidade tanto do governo (que ainda patina na mensagem e nos meios de comunicação), como dos partidos que compõem a frente ampla governista (momentaneamente distanciados da massa trabalhadora e do povo) e dos movimentos sociais organizados (ainda incapazes de resolver a equação do novo mundo do trabalho e da alienante comunicação digital).

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