Governo Lula poupa base de desgaste

O principal objetivo dos parlamentares é a reeleição. E, para alcançá-la, no exercício do mandato, buscam satisfazer as preferências de seus eleitores, de um lado levando benefícios para os segmentos ou regiões de concentração deles e, de outro, atuand

Coerente com esse objetivo, quando confrontados com a agenda do Poder Executivo contrária à sua própria ideologia ou hostil a sua base, os parlamentares de oposição normalmente votam contra, enquanto os da situação buscam reduzir os afeitos negativos ou tentam compensar o desgaste de apoiar o governo em troca de algum investimento ou benefício em favor de seus eleitores.



 


Para evitar o constrangimento de apoiar matérias que combateram no passado, por razões ideológicas ou pelo simples fato de estarem na oposição, os parlamentares da base do presidente Lula, em geral, e, os de esquerda, em particular, montaram uma estratégia para diluir o desgaste entre a situação e a oposição, com razoável êxito.



 


A estratégia consistiu em apresentar o texto definitivo para apreciação momentos antes da votação, por meio de emenda aglutinativa, com mudanças no conteúdo da política pública. As mudanças, sempre apresentadas após conhecimento das emendas, destaques e discurso da oposição, buscavam reduzir o impacto negativo sobre os aliados e, eventualmente, neutralizar ou mesmo atrair o apoio de parcela dos adversários ao novo texto, diluindo os custos da decisão perante os eleitores.



 


Esse procedimento, especialmente na Câmara, foi comum em toda a legislatura, tanto em matérias constitucionais, como nas infraconstitucionais. Na reforma da previdência, por exemplo, apenas a contribuição dos inativos e o texto global, ainda assim bastante amenizado em relação à proposta original, alcançou mais de 100 votos contrários. Em outras matérias, exceto a questão do salário mínimo e a MP (242) sobre carência e cálculo de benefícios, como auxílio-doença, que perdeu a eficácia no Senado, nenhuma outra matéria que afetasse negativamente os assalariados foi votada nominalmente ou alcançou votação contrária digna de registro.



 


A estratégia foi de tal modo bem conduzida que é difícil identificar, ao contrário do que ocorria em legislaturas anteriores, muitas votações que permitam um julgamento dos parlamentares em razão de seus votos favoráveis ou contrários aos assalariados, incluindo-se nessa classificação os trabalhadores, servidores, aposentados e pensionistas. Quem se der ao trabalho de pesquisar as matérias polêmicas sobre assalariados, entendidas como tais aquelas com mais de 100 votos contrários da oposição, terá dificuldade de encontrar mais que cinco ou seis votações.



 


Só existem três hipóteses para este caso: ou a estratégia de preservar a base foi bem conduzida, ou a oposição não foi tão oposição assim, tanto que apoiou matérias impopulares, ou o governo do presidente Lula fez menos maldade do que foi divulgado. O fato é que, de polêmico, foi votado nominalmente muito pouco comparativamente com as votações havidas em cada um dos dois mandatos de FHC.

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