Guerra assimétrica

Há entre os especialistas em estratégia militar e guerra, um conceito que vem aparecendo muito na grande imprensa nos últimos dias: o que fala de uma guerra “assimétrica”. Há dois episódios recentes que ilustram bem esse conceito que vou comentar aqui.

Os conceitos da guerra


 


A doutrina Bush, inaugurada já no início de seu primeiro mandato, sempre foi o da chamada “guerra preventiva”, ou seja, ataca-se um inimigo e adversário antes que ele possa vir a se tornar uma eventual ameaça. E entende-se como ameaça, todo e qualquer povo que luta pela sua independência e libertação e que possa ameaçar, nem que seja minimamente, a hegemonia estadunidense no mundo unipolar de hoje.


 


Essa doutrina ganha força a partir dos ataques de 11 de setembro de 2001 às torres gêmeas em Nova York. Bush e sua turma se fortalecem, os falcões colocam suas asas e garras de fora e a guerra preventiva começa. No mês seguinte a setembro, já em outubro de 2001, vem o ataque ao Afeganistão. O grupo guerrilheiro fundamentalista muçulmano chamado de Talibã é apeado do poder e o exército americano toma o poder e o entrega a um títere, a um presidente de fachada, desse país arrasado pela guerra. Esse é o primeiro exemplo claro e cristalino do que os estrategistas e especialistas em guerras chamam de “guerra assimétrica”. É uma “guerra’ desproporcional. Chamá-la mesmo de guerra é um equívoco, pois os que nela “guerreiam” possuem forças completamente desproporcionais. Outro exemplo desse tipo de guerra é dos Estados Unidos contra a Somália, completamente desproporcional.


 


 


Quando da primeira, e mesmo da segunda, guerra do Golfo de 1991 e a de 2003, foram exemplos claros de guerras assimétricas, pois de um lado, o maior exército, o mais bem treinado exército do planeta, mais numeroso, mais equipado, contra o exército iraquiano, que resistiu quase nada e caiu em menos de duas semanas de combate. Isso porque a aviação despejou bombas em número equivalente ao que foi despejado na 2ª Guerra Mundial.


 


 


Dois exemplos recentes



Há dois exemplos bárbaros e recentes dessa guerra assimétrica. O primeiro deles ocorreu no último sábado, dia 1º de março, nas selvas da fronteira do Equador com a Colômbia. O exército colombiano, a mando de seu presidente fascista Álvaro Uribe, homem dos Estados Unidos na América do Sul e Central, autoriza a invasão do território equatoriano e massacra um dos acampamentos das Farc – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia -, o maior exército insurgente e mais antigo que luta pela emancipação do povo colombiano. Matou a sangue frio o chanceler da organização, Raul Reyes, uma espécie de número dois das Farc. Uma guerra absolutamente assimétrica, pois a violência de um exército regular, de Estado, massacrando guerrilheiros e o que é pior, em outro país, violando a soberania nacional do Equador. O mundo inteiro protestou, mas os Estados Unidos apoiaram abertamente.


 


O segundo exemplo recente de guerra assimétrica, é o que Israel esta fazendo com os palestinos na Faixa de Gaza. Nas últimas duas semanas matou a sangue frio 120 palestinos em sua maioria crianças, com ataques por morteiros, tanques e aviação que bombardeia indiscriminadamente as casa dos palestinos. O mundo fecha os olhos e quase nada faz. Neste caso, pudera, os Estados Unidos não apóiam abertamente, mas apóiam por debaixo do pano, estimulam que Israel faça isso. É o que eles chamam de “ataque a terroristas” (sic).


 


O mais incrível ocorreu no transcurso dessa semana. O vice-ministro da Defesa de Israel, Matan Vilnai, cometeu uma confissão em público que revela o quanto são nazistas hoje os que dirigem o estado judeu. Esse cidadão anunciou que levaria o Holocausto até a Faixa de Gaza. Usou a palavra em hebraico “shoah”, que quer dizer única e exclusivamente “Holocausto” e surgiu durante a 2ª Guerra para expressar em hebraico o que os nazistas fizeram com os judeus nos campos de concentração.


 


O mal estar foi tão grande que os dirigentes de Israel tentaram consertar dizendo que o que ele quis dizer não fora isso, mas sim “desastre”. Mas, a palavra em hebraico que significa “desastre” é “asson”, nada tem a ver com a “shoah”. Assim, esse cidadão confessa em público o que vem sendo feito nos últimos anos diuturnamente contra os palestinos: um massacre, um verdadeiro holocausto, um genocídio de um povo. E o que é uma tragédia na história: perpetrado por um povo que sofreu tudo isso na pele na guerra de 1939 a 1945.


 


Assim, esse também é um exemplo de uma guerra assimétrica, ou seja, palestinos mal aramados, guerrilheiros lutadores pela libertação de seu povo que usam seus corpos muitas vezes como a única arma que têm disponível para lutar, lutando contra um dos exércitos mais bem treinados do mundo, que é o de Israel.


 


Para quem não tem dúvida, é bom prestar atenção nessas coisas e nesses sinais: estes tempos que vivemos não são nossos tempos. Eles, o império, o neoliberalismo, a extrema direita, a mídia golpista, continuam fortes. Extremamente fortes. Cabe a nós, reagirmos, resistirmos ao máximo e passarmos à ofensiva.


 


Fica a minha solidariedade pessoal nesta coluna aos palestinos e aos combatentes das Farc, ao qual jornalistas da Folha chamam de narco-guerrilheiros e terroristas…

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