Guerra da propaganda

“Triste Brasília! Oh, quão dessemelhante / Estás, e estou do nosso antigo estado / Pobre te vejo a ti, tua mi emprenhado / Rica te vejo a ti, tu a mi abundante”

Quando originalmente o baiano Gregório de Mattos escreveu esses versos, ainda no século 17, aqui transpostos, a Bahia ainda era nova. Mas tinha muitas dessemelhanças. Gente muito, muito rica, vivendo no fausto do comércio, dos negócios, negociatas, festas e ostentação. Palácios.

De outro lado, o Brasil da miséria, da pobreza, das idades bagunçadas, dos governos ladrões, que a gente chama gentilmente de “corruptos’’. Mangues e cortiços.

Os tempos mudaram, mas o jeito das coisas não. E cabe a comparação. O Boca do Inferno, como era denominado nosso poeta Mattos, poderia muito bem estar por aqui tamanha as descargas de maldições e fofocas que ali se abatem. De caos urbano e de eventos surrealistas na política.

Dilma padece nacionalmente, porque é candidata ao mais alto cargo na Nação, porque era pouco conhecida até há alguns anos e porque é mulher. Assim, os projéteis vêm de longe, vêm todos os cantos do País, buscando o alvo de forma mais certeira possível.

No caso de Agnelo Queiroz, que anda às voltas com a esdrúxula candidatura da mulher do ex-governador Joaquim Roriz, corrido do pau sob a ameaça da recém criada Lei da Ficha Limpa. Diga de passagem, a de Joaquim, é mais suja que pau de galinheiro. Roriz tem coleção de processos, mas o que pega é o do fato de ele ter renunciado ao cargo de senador para fugir da cassação, caso previsto na lei. De sua ramosa família este ano ele elegeu uma filha à deputada federal e vários outros parentes.

Weslian Roriz herda dele um caos urbano que promete dar seguimento. Em quatro vezes que foi governador, Joaquim farreou com terras da União. Distribuiu lotes fartamente e coleciona votos de uma população agradecida, mas que agora quer casa e transporte urbano, que é caótico, para começo de conversa.

Os limites do DF já têm de 2 milhões de habitantes. As cidades de Goiás e Minas imediatamente vizinhas, somam mais um millão e tantos. E, no chamado entorno mais distante, que também depende de Brasília, são 42 cidades. São perto de 4 milhões de habitantes vivendo em função da capital, E sonharam um dia contê-la em500 milhões.

Haja estradas, hospitais, escolas, seguranças públicas estacionamentos. O que há, por ora, é muito crack, muita coca, muito assalto, muita morte. E muito roubo nos gabinetes com ar condicionado.

Mas, mesmo diante de situação caótica, desgovernada, ao Deus-dará, sua mulher obteve 32% do eleitorado. Com explicar? O nome do marido valeu, mas alegam que a campanha durou só 10 dias.

Agora, porém, correndo contra o tempo, vai-se utilizar todo tipo de artifício para tentar fazer desandar a campanha de Agnelo. Afinal, o ex-deputado e ex-ministro do Esporte têm contra a turma de Roriz, que inclui Arruda, preso de retirado do governo recentemente.

Essa turma usa contra Agnelo o fato deste ter escolhido como vive uma pessoa que foi durante anos das rodinhas deles. É Tadeu Filipelli. Para os rorizistas, isso demonstraria que Agnelo também seria da galera. E esquerda não crê, é claro. Mas, como se diz, o caso é votar de nariz vendado.

Além de prometer permitir um terceiro pavimento nas casas já construídas, o que é vedado pelo gabarito da cidade, que é Patrimônio da Humanidade, tem a parte do terrorismo. Já fizerem isso com Lula, fazem com Dilma e repetem com Agnelo.

São campanhas feitas com ardil, com maldade, com esperteza, levantando aqueles temas que seus autores sabem que têm audiência e ressonância terreno fértil para serem difundidos.

Em Goiás, conta-se uma história.

O cenário era um bar, nas barrancas do rio Araguaia, interior de Goiás. Sujeito falastrão se alegrava com as músicas que tocava, do tempo da Jovem Guarda. Falava de interpretes, cantava junto, uma festa. Mas, quando tocava algo de Roberto Carlos, ele silenciava. Quis saber a razão, e ele respondeu: – “Não gosto do Roberto, ele matou Evaldo Braga”.

Sabemos todos que o rei Roberto nunca matou ninguém. Sabe-se lá por que razão, há anos alguém difundiu essa história que o solitário goiano guardou na cabeça com tanta convicção. É a força da propaganda. Mesmo sem base de verdade, quando bem elaborada, a informação pode ficar na cabeça das pessoas. Quando tem algo de verdadeiro, então, nem se fala.

Para chegar a poder e depois disso, Lula teve de enfrentar essa rede de falsas informações, criando vacinas bem montadas. Mas a campanha continua, com informações divulgadas por meios marrons, mas em muitos casos corroborada pela grande mídia. Dilma corta um riscado para provar que “não tem parceira com o demônio, que pessoalmente defende o aborto e coisas do gênero”.

Agnelo, que era do PCdoB até há poucos anos tem que se proteger de mitos e fantasias que são repassados a pessoas mal informadas ou de pouca formação. E essas amplificam. São boatos do arco da velha, mas têm que ser combatidos, para que não virem um Evaldo Braga.

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