iEncontro

Eles nunca haviam se encontrado, e a primeira vez que isto aconteceu foi um encontrão. E não estou usando figura de linguagem, não. Foi um encontrão mesmo. Ele vinha da estação Consolação que fica na Paulista e ela vinha da estação Paulista que fica na Consolação quando, conectados à internet e desconectamos da vida, se trombaram violentamente.

O encontrão foi tão forte que os dois foram ao chão, ele sobre ela. Em vez de indignação, uma vontade irresistível de cair em gargalhadas. E foi isto que aconteceu. Ele primeiro e ela o acompanhando em seguida.

Ele um iphone branco, todo sofisticado, elegante, discreto, bem vestido com sua capa de última geração, morando na região da Augusta, e ela, sansung preta, nem tão sofisticada quanto ele, que assobia em público, sempre vestida com uma capa comprada na Galaria Pagé e moradora da região do Capão. Mas, apesar das diferenças, a amizade brotou de imediato. Encontros agendados em lanchonetes com wifi, em lojas de acessórios e em feiras de tecnologia. Depois passaram da amizade para a atração e, em seguida, para uma paixão avassaladora que não conseguiam mais se desgrudar. Era mensagens para cá, mensagens para lá. Cada vez que ele recebia um watsapp dela se tremia todo. Ela, por sua vez, quando recebia um SMS dele dava um assobio tão sonoro que chamava a atenção de todos. Era amor mesmo.

Os amigos e familiares não entendiam esta relação. Logo ele que sempre tivera um sistema todo sofisticado, elegante, todo tecnológico, que sempre viveu em um ambiente reservado, que sempre fora contrário à pirataria, que nunca compartilhou nada com quem não fosse de sua "linhagem", nem sequer um bluetooth sorrateiro com outros equipamentos, agora estava perdidamente conectado com uma mulher que vivia em um ambiente diferente do dele, em meio a androides e pouco delicada. Não tinha explicação.

A tudo isto ele dizia: "meus amigos, a vida não é feita só de aparências, somos todos iguais, não é porque nos vestimos deste ou daquele jeito, não é porque temos aplicativos pagos, ou mesmo porque temos um sistema que aos seus olhos pode ser mais amigável ou mais sofisticado ou então mais confiável, que devemos nos considerar melhores. Não somos melhores nem piores. E se tudo isto não lhes convence, só posso dizer que o amor, meus queridos, tem uma programação que a própria programação desconhece!"

Neste momento todos vibraram ao mesmo tempo.

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