Iraque: petróleo não será dos iraquianos!

Nesta semana, com tudo o que ocorre no mundo árabe, teria muitos temas para tratar. Um deles, polêmico, foi a troca de prisioneiros que Israel vai fazer com o Hezbolláh e com o Hamas, envolvendo inclusive os corpos de soldados mortos. Isso nós tratamos há

A proposta da entrega do petróleo



 


Quando as tropas lideradas pelos Estados Unidos invadiram o Iraque no dia 19 de março de 2003, há mais de cinco anos, toda a análise que fizemos e se somava aos colunistas e analistas internacionais mais conscientizados, dizia de forma clara e inequívoca que a invasão estava se dando para assegurar a linha de abastecimento contínua de petróleo que move a maior frota de veículos do mundo, a dos Estados Unidos. É sempre bom que nunca esqueçamos que, um pouco antes disso, em dezembro de 2002, uma segunda tentativa golpista foi levada adiante, com apoio da embaixada americana em Caracas, quando uma greve na petrolífera de lá, a PDVSA, tentou desestabilizar o governo do presidente Hugo Chávez. Seria para garantir as exportações de petróleo venezuelano par os EUA.



 


Nesses mais de cinco anos de ocupação do Iraque, o petróleo desse país abasteceu os vários mercados em todo o mundo, mas principalmente os Estados Unidos. Ocorre que, apesar de ampla, geral e irrestrita privatização ocorrida no país, com um programa drástico de desestatização de quase tudo no Iraque, o petróleo ainda estava nas mãos de iraquianos, do Estado iraquiano, controlado pelo ministério do Petróleo. Essas vendas garantem a maior renda desse país arrasado pela guerra.



 


Nesta semana, para surpresa de muita gente, inclusive de deputados membros do parlamento iraquiano, o ministro do Petróleo do Iraque, Hussein Shahristani, anunciou o seu plano entreguista finalmente. Enviou ao parlamento uma proposta de Lei onde se abrem às transnacionais de petróleo de vários países, especialmente dos Estados Unidos e da Inglaterra, a exploração de todas as reservas petrolíferas, situadas entre as três maiores do planeta. As beneficiadas por essa decisão diretamente serão cinco empresas, a saber: Shell (anglo-holandesa), a BHP Billiton (australiana e inglesa), a Britrish Petroleum (inglesa), a Exxon Mobil (americana) e a Chevron (Texaco, americana, em parceria com a Total, francesa).



 


Além dessas empresas, que poderão explorar livremente todas as reservas petrolíferas iraquianas, pagando-se um pequeno percentual ao governo, outras 41 cartas de concessão de autorização de exploração de contratos de grandes reservas, receberão contratos de longo prazo. Nestes casos mais específicos, terão que fazer uma associação com alguma empresa nacional iraquiana, de 25% de capital local. A nossa Petrobras ficou de fora dessa lista mais ampla, integrada por empresas gigantes da Rússia, da China, Japão e várias da Europa.



 


O petróleo iraquiano era explorado por estrangeiros desde 1928 até o ano de 1972 quando foi nacionalizado. Existia até então uma empresa denominada Iraq Petroleum Company. A experiência dos dirigentes iraquianos sempre foi de lidar com uma exploração petrolífera estatal nesse país e nunca de forma privada. Por isso, nesta fase atual, de abertura completa de seus mercados para as empresas privadas, o governo iraquiano foi assessorado por altos funcionários do Departamento de Estado dos EUA. Isso foi revelado pelo jornal The New York Times e foi confirmado por esse Departamento.



 


O Iraque produz diariamente 2,5 milhões de barris por dia e vai elevar a sua produção, até 2013, para 4,5 milhões de barris/dia, quase que dobrando. Tal aumento atende aos interesses dos americanos e não os do povo do Iraque, que não é mais dono de tais reservas em função das posturas entreguistas e de subserviência demonstradas pelo governo do atual primeiro Ministro Nuri Al Malki. Essa abertura total do petróleo iraquiano foi amplamente comemorado pela indústria petrolífera mundial. Isso coloca por terra o monopólio de 36 anos seguidos, cuja política de exploração do óleo atendia aos interesses nacionais da nação iraquiana.



 


As concessões serão feitas num prazo que poderá variar de cinco a 25 anos seguidos, ou seja, são contratos leoninos que não poderão ser rompidos e cujos resultados beneficiarão imensamente as já gigantes empresas petrolíferas mundiais, em detrimento dos interesses nacionais iraquianos. As reservas petrolíferas do Iraque são estimadas em 115 bilhões de barris, só perdendo para a Arábia Saudita e Irã.



 


Esse assunto, de abertura total das reservas às empresas estrangeiras privadas, esta gerando polêmica no parlamento. O presidente do Comitê Parlamentar para o Petróleo e Gás do parlamento, Ali Hussain Balou já indicou que quer participar de todas as discussões, todos os detalhes dos contratos e vem ameaçando inclusive barrar a aprovação dessa nova lei de exploração do petróleo que esta sendo enviada pelo governo.



 


Seja qual for o desfecho desse processo, fica claro que o grande objetivo do governo americano na sua invasão em 2003, que era mesmo de controlar as reservas petrolíferas iraquianas, agora será cem por cento atingido. Caberá às forças progressistas e verdadeiramente patrióticas barrarem esse entreguismo descarado, seja pela via parlamentar, seja pela luta nas ruas e nas barricadas.



 


Troca de prisioneiros



 


Quero comentar de passagem, a evolução dos acontecimentos referentes à troca de prisioneiros entre grupos guerrilheiros palestinos e libaneses e o governo de Israel. Esse já foi tema de uma coluna há dois meses. Eu questionava sobre um acordo global de paz no Oriente Médio que envolvesse a criação do Estado Palestino, a devolução das colinas de Golã para a Síria, a entrega das fazendas do Shebaa no Sul do Líbano para os libaneses, e, finalmente, a troca de prisioneiros com grupos que Israel considera como sendo “terroristas”. Dizia á época que tudo isso seria possível e mesmo Jimmy Carter defendeu a conversa com esses grupos, mas que mesmo ocorrendo certos acordos e trocas de prisioneiros, a paz não ocorreria porque não há correlação de forças no mundo que de sustentação a esse processo. Agora a imprensa volta a noticiar a possibilidade. E a troca envolveria líderes guerrilheiros libaneses e palestinos e em troca eles receberiam não soldados israelenses presos, mas corpos de soldados mortos ou partes de corpos. A cultura israelense é a favor da guerra e deixar um soldado para trás é uma das piores coisas que pode acontecer para o país. Por isso a negociação foi aprovada pelo gabinete do primeiro Ministro Olmert. Em uma votação realizada no domingo passado, dia 29 de junho, a decisão tomada foi por 20 votos a favor contra apenas três contrários. Ainda assim, sigo sendo muito cético com relação ao processo de paz global.

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