Jerusalém: Al Quds (1)

Jerusalém é considerada uma das mais antigas cidades do planeta com vida continuada e sagrada para as três mais antigas religiões monoteístas do mundo, uma sucessora da outra, que são o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, hoje é um dos pomos da d

Um pouco da história antiga


 


Um dos debates que mais se trava hoje é se essa é uma cidade palestina, judaica ou cristã. Por lá passaram ao longo dos últimos cinco mil anos, diversos povos, diversas civilizações, onde se edificaram diversos impérios, que nem sempre tinham sede na cidade em si, mas mantinha seu domínio político e cultural.


 


Passamos a dar neste espaço uma pequena cronologia histórica dessa que é das cidades mais importantes da história da humanidade, quase que cósmica, adorada por seguidores dessas três importantes religiões monoteístas da terra. Aqui é preciso apenas esclarecer, do ponto de vista científico que boa parte da cronologia que apresentaremos tem como fonte e base única e exclusiva, os textos sagrados do velho testamento, conhecida como a Torá dos judeus. Não há documentos e provas materiais de toda a história e cronologia contada, pelo menos do período mais remoto.


 


Primeiras presenças – Os primeiros povos e habitantes da região foram os Cananeus, que eram tribos árabes semitas. Essa primeira presença ocorreu cerca de três mil anos antes de Cristo e cinco mil antes da nossa era atual; um subgrupo dos Cananeus, chamados de Jebusitas, construíram o primeiro muro ao redor da cidade e chamara essa cidade de Jebus, ou Jerusalém na sua linguagem;


 


A chegada dos judeus – Por volta do ano 1.800 aC, os judeus chegam pela primeira vez à região, sob a liderança de Abraão, que vinha de Ur, na Caldéia e se instala em uma pequena vila próxima a hoje cidade de Hebron. Ele e sua esposa estão enterrados nessa cidade. Abraão teve dois filhos e ambos geraram linhagens que são glorificadas tanto pelos judeus como pelos árabes. Com a sua concubina, Abraão gerou Ismael, considerado patriarca dos árabes e com a sua esposa Agar, ele gerou Isaac, que por sua vez gerou Jacó que teve doze filhos, que posteriormente lideram as chamadas 12 Tribos de Israel.


 


Ano de 1300 aC – Os judeus partem para o Egito e lá ficam por muitos anos, séculos. São conhecidos por israelitas. Será Moisés, considerado um profeta por essas três religiões, quem liderará de volta esse povo. Moisés é criado e educado na cultura egípcia, estuda filosofia e ciências egípcia. Vira um líder. Por 40 anos sai vagando pelo deserto, indo em busca da chamada terra prometida pelo seu Deus ao seu povo. No deserto do Sinai, teria recebido as tábuas da Lei judaica (ou mosaica), os chamados dez mandamentos. Moisés acaba não entrando na Palestina, pois morre antes disso. Quem chega por lá é Josué e a primeira cidade que ele conquista é Jericó, a cidade das famosas muralhas. Lá, até como consta na Bíblia, as coisas ficam muito claras: a dupla Josué/Moisés é, para os palestinos e cananeus que lá moravam, conquistadores. Para seu próprio povo, claro, são libertadores e os conduziram à terra prometida pelo seu Deus.  Decorridos cerca de 150 anos, tanto israelitas, como filisteus e cananeus, controlaram alternadamente, porções do território palestino. Mas, os cananeus (jebusitas), é que controlavam Jerusalém


 


A chega dos Filisteus – Chegam, por volta do ano mil aC vindos da ilha de Creta, os Filisteus e instalam-se a cidade, que era conhecida ainda como terra de Canaã. Mas com eles, a região passa a se chamar também de Palestina (Filastin em árabe). Nesse período, por essa cidade e região já tinham passado pelo menos os seguintes povos que instalaram governos por períodos de tempo variados, entre eles os egípcios, os assírios, os babilônios, os persas, os gregos e por fim, os romanos, que chegaram próximos da época de Cristo. Será nessa mesma época que Davi, rei dos Judeus, vai submeter várias cidades e estabelecer o seu reino, cuja capital inicialmente será Hebron, mas que depois se transfere para Jerusalém. É a primeira presença judaica nessa cidade, depois de dois mil anos de sua fundação. Seu filho, o rei Salomão, que o sucede, vai construir o primeiro Templo de Israel. Com a morte de Davi, 35 anos depois, o seu reino se divide em dois, de Israel e da Judéia;


 


720 aC – Os assírios, liderados pelo rei Sargão, destrói Israel e seu templo sagrado;


 


600 aC – Os babilônios, sob a liderança de Nabucodonosor, conquistam o resto da região, escravizando o povo judeu;


 


538 aC – Desta vez, quem conquista a Palestina e Jerusalém, será Ciro, rei dos Persas. Ele se impõe na região e garante liberdade religiosa aos hebreus. Autoriza a reconstrução do templo, concluída em 515 aC;


 


322 aC – Os egípcios conquistam a Palestina e Jerusalém;


 


200 aC – Os selêucidas da Síria tomam toda a região;


 


63 aC – Chegam os romanos com seu imenso império e ocupam toda a região, através do general Pompeu. Em 40 aC, Roma faz uma espécie de acordo com os hebreus, e aceita Herodes como o seu rei, com poderes limitados. Passa a ser rei da Judéia. O templo é reconstruído mais uma vez. Herodes morre no ano 4 aC;


 


70 dC – Tito, imperador romano, impõe a maior derrota aos judeus, cuja última fortaleza é conhecida como Massada. Os hebreus são completamente expulsos da Palestina e seu templo destruído pela última vez. Esse é o período que eles chamam de Diáspora. Quase não ficam resquícios da presença hebraica na região. Cristo é crucificado no ano cristão de 33 e cerca de 40 anos depois disso, parecem surgir os primeiros evangelistas que contam os seus feitos, mesma época da expulsão judaica;


 


395 dC – Primeira vez que a região e a cidade passam ao controle cristão. O império Bizantino se fortalece. O Império romano também se dobra à nova religião cristã, após a conversão de Constantino, seu imperador. No entanto, apesar disso, a vida cultural e a língua, segue sendo dos árabes e palestinos que lá ficaram sempre e nunca se retiraram.


 


638 dC – Aqui é a chegada, pela primeira vez, dos muçulmanos. O Califa Omar desembarca na cidade com a sua comitiva e é recebido pelo patriarca cristão da cidade, que se chamava Sofrônius. Omar estabelece uma espécie de Convenção, que leva o seu nome, onde proíbe terminantemente que qualquer muçulmano toque em uma sinagoga e em uma igreja cristã. Ele obedece cegamente o que esta previsto no Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, que determina que Ahl AL-Kitab que em árabe quer dizer “os povos do livro”, no caso a bíblia, devem ser protegidos pelo império islâmico. Omar entrega a chave da cidade e de todas as igrejas, especialmente a do Santo Sepulcro, a algumas famílias árabes e muçulmanas, exatamente para que tudo fosse preservado Omo estava, sem que nada fosse tocado. Algumas famílias árabes, com sobrenomes que se perpetuam aos dias atuais, que tomaram conta dessas relíquias e dos locais sagrados, são elas: Khalidis, Alamis, Nusseibehs, Judahs, Nassars, Haddads entre outros.


 


1099 – Chegam os cruzados à região. Vão ficar pouco tempo, mas tomam nesse ano Jerusalém em um mar de sangue. Essa cidade é retomada no ano de 1187, pelo muçulmano Saladino (Salah El Din, como é seu nome em árabe).Em 1229 os cristãos retomam o controle, mas por pouco tempo, apenas 15 anos. Depois desaparece completamente a presença ostensiva e militar dos cruzados e cristãos na cidade. Assim, o domínio árabe e islâmicos (posteriormente otomano) vai perdurar até o final de primeira guerra mundial.


 


Na próxima parte deste artigo, veremos o movimento sionista moderno e sua estratégia para ocupar a Palestina e a situação política e jurídica de Jerusalém no século 20 e no limiar do século 21. Aguardem


 


 


Nota


 


(1) Para escrever este artigo, baseei-me em duas principais fontes constitutivas documentais: o livro da ex-freira católica Karen Armstrong, inglesa e muito respeitada pelas três religiões, intitulado Jerusalém, uma cidade e três religiões, publicado no Brasil em 2000, pela Companhia das Letras, bem como o livro A Questão Jerusalém, reeditado em 1999 pela Embaixada da Palestina no Brasil, contendo artigos de vários intelectuais palestinos, todos de alta qualidade.

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