Jerusalém: Al Quds (2)
Na coluna passada tratamos da história mais antiga da Palestina e de sua capital Jerusalém. Por lá passaram por um breve período de tempo e ocuparam apenas parte de seu território, os antigos hebreus (judeus). Mas, o povo que teve vida contínua ao long
Publicado 21/02/2008 20:17
A ocupação da Palestina e sua capital
Se olharmos sob a ótica estritamente dos judeus, o projeto de colonização da palestina acaba tendo, para esse povo, um caráter nacional e emancipacionista. Usando o passado como forma de atrair simpatizantes para a sua causa, o movimento que se conveniou chamar de “sionismo”, cresceu muito a partir do final de século 19, no bojo de outros movimentos nacionalistas que ocorreram na Europa, como o da unificação da Itália e da Alemanha em estados nacionais a partir da paz de Westfália em 1871, após o massacre da comuna de Paris.
O projeto de colonização da Palestina e de sua Capital, Jerusalém, teve apoio concreto das potências européias, especialmente da Inglaterra. Os líderes sionistas (já veremos sobre isso mais adiante) aliaram-se a essas potências. Foi o movimento chamado de “judaização” da Palestina, que consiste no deslocamentos de judeus de todo o mundo em direção àquela terra. Mas, para que isso se efetive concretamente e seja levado a um bom termo, é preciso que se faça uma “despalestinização” da região, ou seja, que os que moravam lá há milênios seja também deslocado de suas terras de várias formas. Para isso usa-se o controle sobre as terras, o trabalho dos palestinos, os recursos naturais e, principalmente, expulsam, por métodos violentos, os palestinos de suas terras.
O maior líder dos judeus sionistas do final do século 19, nascido em 1860, foi Theodor Herzl (falecido em 1904 com apenas 44 anos), ele organizou o famoso Congresso da Basiléia, na Suécia, no ano de 1897. Ali consolida o conceito de sionismo político. Este era um movimento de judeus que defendiam que as terras na palestina pertencem histórica e biblicamente, conforme promessa do Deus dos judeus, Javé. Não importa que essa terra esteja habitada continuamente por um povo há milênios.
Existem registros de chegadas dos primeiros colonos judeus na Palestina desde 1878. Dados confiáveis da época indicam que em 1918, quando do término da 1ª Guerra, os judeus controlavam apenas 2,48% das terras do país em termos percentuais. O número total de judeus em toda a Palestina era de 55 mil pessoas, enquanto os palestinos eram mais de 700 mil. Ou seja, os judeus correspondiam a apenas 8% de toda a população.
Em 1916, um acordo que levou o nome de Sykes-Picot, apoiado pela França e Rússia, já propunha que a Palestina fosse colocada integralmente sob controle internacional, na época da então Sociedade das Nações (que foi sucedida pela Liga das Nações que virou em 1945, a atual ONU).
Seguiu-se a isso a famosa Declaração Balfour, de Lord James Arthur Balfour, que falava em nome de sua majestade a rainha da Inglaterra, prometendo um Lar Nacional Judaico. Tal declaração, de novembro de 1917, completou 90 anos em novembro passado (assunto que comentamos em nossa coluna à época). A Grã Bretanha aderiu na prática, com armas e bagagens aos planos sionistas.
Nesse mesmo ano de 1917, o general Allenby ocupa a cidade de Jerusalém em nome da Inglaterra. O mandato da Inglaterra sobre a Palestina (uma espécie de autorização para ela governar e administrar o território) foi outorgado pela Liga das Nações em 23 de setembro de 1923 (ainda que a decisão tenha sido tomada em 1922, na Conferência de San Remo).
A Organização Sionista Mundial agia como se fosse uma espécie de assessora dos mandatários britânicos na Palestina. Até um alto comissário da ocupação foi designado e era judeu, que foi Hebert Samuel, no ano de 1921 e um exército judeu foi formado em 1920, que se chamava de Haganáh. Na cidade de Jerusalém existia uma espécie de conselho municipal, composto de dois judeus, dois cristãos e dois árabes, em um completo desequilibro em termos percentuais relacionados com a quantidade de judeus e palestinos na cidade. Para termos uma idéia sobre isso, em 1931, quando ocorreu o primeiro recenseamento oficial da Inglaterra, indicavam que os judeus nunca passavam de 115 da população total da Palestina. Em ter4mos de percentual de posse de terra, dados de 1936 indicavam no máximo 6%.
A verdade é que a Inglaterra ia, aos poucos, perdendo o controle da ocupação. As revoltas palestinas aumentavam gradativamente. Uma comissão oficial da ONU havia sido formada para estudar o impasse e uma possível partilhada Palestina em maio de 1945. Ela se chamava UNSCOP – na sigla inglês de que significa Comitê Especial da Palestina das Nações Unidas. Essa comissão recomendou de fato a partilha da Palestina em dois estados, mas designou que Jerusalém não deveria entrar nesse plano de partilha e ser uma espécie de corpo separado dos dois estados e ter uma administração internacional.
Depois da aprovação do famigerado Plano de Partilha da ONU em 29 de Novembro de 1947, houve uma série de guerras de Israel contra os palestinos, praticamente indefesos na região, ainda desorganizados. Estes perdem muitas terras, são expulsos, alguns são forçados a vendê-las, outros são mortos em uma série de massacres perpetrados pelas falanges sionistas, como o Irgun, o Stern e a Haganáh. Depois de várias guerras, Israel chega a ocupar 77% de Jerusalém em 1950, mas depois da Guerra dos Seis Dias em junho de 1967, toma completamente o controle da cidade, sagrada para três religiões.
Perspectivas
Fala-se muito em paz, mas o cenário é cada vez mais sombrio para os palestinos. O mundo parece que virou as costas completamente para este sofrido povo. Bush encenou uma reunião em novembro passado, tentando forçar um acordo de paz, que seria honroso para ele antes do término de seu mandato. Mas, dos dois lados das negociações encontram-se líderes fracos e duvido que possa ser conseguida uma paz justa que faça mesmo justiça aos palestinos.
Um Estado Palestino teria que ter certo controle territorial. O plano de partilha original falava em 46% das terras para os palestinos, mas hoje eles controlam pouco mais de 10%. Se devolvessem toda a Cisjordânia, esse percentual subiria para 22%, ainda assim, metade do plano original.
A questão central é também Jerusalém como capital do Estado da Palestina. Mas isso também é reivindicado por Israel, que a fez capital, mas o mundo não aceita (usam Tel Aviv como uma espécie de capital administrativa onde estão creditadas as embaixadas dos países). Fala-se, em uma tentativa de buscar a paz, em que Jerusalém Oriental (velha), ficasse como a capital da Palestina e a Ocidental, como capital de Israel.
Estou nenhum pouco mais otimista com tudo isso. Mas seguirei apoiando incondicionalmente a luta desse bravo povo de quem sou descendente e tenho raízes.
Nota
(1) Para escrever este artigo, baseei-me em duas principais fontes constitutivas documentais: o livro da ex-freira católica Karen Armstrong, inglesa e muito respeitada pelas três religiões, intitulado Jerusalém, uma cidade e três religiões, publicado no Brasil em 2000, pela Companhia das Letras, bem como o livro A Questão Jerusalém, reeditado em 1999 pela Embaixada da Palestina no Brasil, contendo artigos de vários intelectuais palestinos, todos de alta qualidade.