Junho está indo embora

“Junho é no Nordeste, a tradição das festas juninas, não falta festa, fogos, luzes, comidas. Muita música para se arrochar, bebida para alegrar. Um mês todo para comemorar e não parar”

Fogueira, fogos de artifícios e comidas de milho permeiam as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro | Foto: reprodução/bdfpb

Três santos se comemoram. Antônio nos manda um parceiro, João batizou o Menino, Pedro, o primeiro governante, chamaram de Papa.  Amor, divindade, liderança, busca de anos felizes.

Junho é no Nordeste, a tradição das festas juninas, não falta festa, fogos, luzes, comidas. Muita música para se arrochar, bebida para alegrar. Um mês todo para comemorar e não parar.

As quadrilhas juninas oficialmente reconhecidas como Patrimônio Cultural Nacional, o Presidente da República falou. Sou do tempo em que eram bem simples, em que se formavam espontaneamente, sem ensaio, em que no chão batido se formavam pares, às vezes, inícios de bons namoros. Hoje, são empresas, com muito luxo, roupas muito vistosas, desfiles como escolas de samba. Mas, o povo gosta e eu adiro.

Sítio da Trindade, onde moro. É o centro das comemorações. Recife se volta para ele. Espero com ansiedade. Gosto da festa, participo das festividades. Minha casa coloca balões coloridos, às vezes bandeirinhas, a sala se engalana.

Sala de Reboco é pé de serra. O forró de raiz. Trios trazem Gonzaga. Dominguinhos não pode faltar. Músicas conhecidas. É tablado, mas faz a poeira levantar.

Fim de tarde e início da noite, uma boa sacolejada no salão apertadinho, uma tapioca com queijo e coco, uma cerveja gelada. O corpo vibra mesmo para aqueles que, como eu, são péssimos dançarinos. Ninguém liga, todos participam. Verdade, há os que dão espetáculo, os que fazem malabarismo e, felizmente, são aplaudidos.

Pavilhão das Quadrilhas. Concurso que traz multidões. Torcidas organizadas. Lindos personagens desfilam, coreografias perfeitas, a diversidade na alegria, todas as tribos, todos os tipos. Fico admirando de fora. O telão vai mostrando e as claques se manifestando. Comidas de milho completam, sucos e caipirinhas. As barracas de comida são essenciais para agüentar a maratona.

O Barracão dos artesões. É preciso se enfeitar. Colares, brincos e bolsas. Muito da cultura popular. O Nordeste representado. Bom passar lá, uma camisa quadriculada, uma saia florida, chapéus de matuto, importante se caracterizar.

O Palco Principal é imperdível. Apresentações de artistas famosos. O arrocho e a dança da gente. Diversidade de espetáculos. Neste ano vi coisas belas. O Boi de Mainha, Ciranda Teimosa, Ceiça Moreno, Maciel Melo, Josildo Sá, Elba e muito mais. A galera se anima, exulta mesmo, sente no corpo porque nordestino se prepara o ano inteiro para reverenciar os santos da tradição.

Nas barracas ao lado. Cerveja não muito gelada, espetinhos nada especiais, macaxeira não muito “papinha”, arrumadinhos bem desarrumados. Sem problema, o importante é participar, escutar o som e incorporar o divino.

Um desfile esperado. O das Bandeiras. Vem do Morro da Conceição, passa na igreja da Harmonia e chega ao Sítio. Procissão de cores e encantamentos. Estandartes, flabelos e bandeiras reverenciando os santos e as datas. Estava decretada a abertura dos festejos.

Uma noite especial. Cultura afro-brasileira. Comidas dos santos distribuídas. Os ritos do Candomblé reverenciados. Lotado. Apresentações com muito Aché. Maracatus conforme a historia do povo negro, lindíssimos. Nação Porto Rico se fez presente. Contagiante, nossas raízes respeitadas, expondo o que somos, da onde viemos, com orgulho e muito respeito.

Em casa, nos preparamos. Na véspera de São João. Os amigos comparecem. Seis da tarde acenderam estrelinhas, soltamos traques de massa. Muita bebida e comida.  

Cachorro quente de carne moída e lingüiça, milho cozinhado, queijos da região, torta de frango, fazem a parte salgada. A doce é especial. Canjica, pamonha, bolo de milho, bolo de macaxeira com coco, bolo de noiva. Para acompanhar, sucos, cachaça e outros destilados e uma cervejinha bem gelada.

Temos uma boa discografia de músicas da época. Colocamos para fazer concorrência ao Sítio. Poucos ouvem. Mas, faz parte da organização. Preparação para enfrentar a multidão que se aglomera nas ruas ao lado. Entrar no Sítio é prova de coragem, conseguir chegar ao lado do palco principal, uma aventura inesquecível.

E a festa vai acabando. Só há um consolo. Ano que vem tem mais, ano que vem não se pode perder. Nordeste é tradição junina, Recife é festa popular, as casas se enfeitam, o profano e o divino se unem. A reverência ganha um nome apenas. Alegria.

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