Kuca 3000: Se a cidade, se a cidade fosse nossa… 

Ao passear em um dos pontos turísticos da cidade, o parque da redenção, acabei ficando muito envergonhado por assistir uma situação que se desenrolava. Uma ação da guarda municipal direcionada a remover homens e mulheres em situação de rua de um viaduto na Avenida João Pessoa, local onde tem incidência de desabrigados. 

Havia nada mais que seis viaturas e inúmeros guardas com a farda azul da guarda municipal e mais alguns outros operários que recolhiam os pertences das pessoas que ali habitavam, plásticos pretos usados como teto improvisado e diversos materiais de reciclagem.

Esses indivíduos tiveram seus pertences arrancados do lugar onde se encontravam e jogadas diretamente no caminhão de lixo do DMLU, órgão responsável pela limpeza urbana. As pessoas desalojadas de baixo do viaduto Leopoldina não têm onde morar e agora precisam “catar” novamente tudo, encontrar outro lugar e seguir em frente com sua dignidade jogada como lixo em um caminhão.

Dadas as condições de amparo social para jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social, não é de se espantar que essas pessoas continuem procurando abrigo em baixo de pontes, varandas e viadutos.

Há muito tempo venho procurando meios de abordar o assunto da segurança pública, o pouco caso, o comodismo e a falta de organização são uma constante quando abordamos esta pauta, mesmo que sempre tenhamos uma opinião contundente e embasada em fatos, muitas vezes vivenciados por nós, penso que podemos e devemos fazer muito mais.

Quando decidi redigir este texto também fui motivado por uma ocorrência bem recente acontecida na Batalha do Mercado. Este encontro que acontece um sábado por mês desde de Dezembro de 2011, reunindo jovens de todos os cantos da cidade e região metropolitana para batalhas de free style sem auxílio de batidas eletrônicas, em frente ao mercado público de Porto Alegre no largo Glênio Peres.

Ao iniciarem o encontro todos que ali se estavam foram alvo de uma ação da Brigada Militar, que colocou mais de vinte jovens num grande “atraque” ou “paredão”. Contudo continua forte a mobilização da Batalha e o evento segue resistindo.

O mesmo largo que hoje ostenta milhares de logotipos de uma marca multinacional, foi palco de mais um caso vergonhoso, que repercutiu mundo afora.

Uma manifestação ocorrida em frente à Prefeitura, que reuniu cerca de 400 pessoas em uma manifestação chamada ”defesa publica da alegria” que repudiava a repressão policial sofrida por diversos jovens um dia antes por terem esvaziado um boneco inflável com formato da mascote da copa de 2014 com um logo de uma grande empresa, os manifestantes foram agredidos pela tropa de choque da BM, tudo registrado pelas câmeras de celulares e jogado nas redes sociais. NADA justifica a ação e a força empregada contra os que se faziam presentes. Muitos jovens saíram feridos.

Porto Alegre, Parque Farroupilha, um símbolo de uma época de grades festivais na cidade, esse patrimônio público também ganhou as cores e os logotipos de uma empresa privada e o famoso gramado em forma de barranco hoje é totalmente cercado por grades que impedem a aproximação de transeuntes ou quem queira aproveitar o local para relaxar. Não podemos esquecer do bairro Cidade Baixa, outro caso relevante dentro do tema.

Local de alegria, encontros, cultura, arte, musica, enfim boa parte da boêmia que acontece no coração de Porto Alegre está sitiada por conta da violenta repressão empregada pelas autoridades. Recordo-me bem da multidão que circulava por ali, todas as tribos num só lugar, respeitando os espaços e fazendo pulsar o sangue deste bairro.

As casas noturnas com preços populares foram fechadas, os jovens intimidados com a hostilidade das patrulhas policiais, e já não se vê mais a roda de free style nas esquinas. Onde havia vida hoje existe um silêncio perturbador.

Enquanto aguardamos, continuamos no nosso trabalho de prevenção utilizando os quatro elementos da cultura Hip-Hop somado ao 5º elemento o conhecimento, para elevar mentes, fortificar o espírito ganhar corações e resgatar almas.

Lucas da Veiga (Kuca 3000) Nação Hip-Hop Brasil – RS, Porto Alegre, Art do Risco Crew.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor