Liberdade da imprensa

“A imprensa e o PIB brasileiros estão ao lado do candidato tucano”


(jornalista Franklin Martins)

Num domingo de outubro/2005, o jornalista Marcelo Beraba, ombudsman da Folha de S. Paulo, flagrou favorecimento do seu jornal aos tucanos. Apontando a parcialidade do jornal, criticou a pouca visibilidade que os principais jornais do país deram ao depoimento de Cláudio Mourão – tesoureiro da campanha do presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, ao governo de Minas Gerais, em 1998 – na CPI dos Correios. Mourão confirmou o uso de caixa dois e de recursos de Marcos Valério no financiamento da campanha eleitoral do PSDB de Minas, em 1998. As provas indicam que boa parte dos recursos da campanha mineira teve origem em empresas estatais, como as Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig).


 



Na avaliação de Beraba, o jornal não poderia entrar no jogo político dos partidos. “Deve procurar expor com a mesma visibilidade e rigor crítico as mazelas de todos eles. Tem hora que não basta se pretender isento”, argumenta o jornalista. Segundo ele, “a Folha reconhece com relativa facilidade os erros de informação que comete. Mas tem uma grande dificuldade para admitir os erros de edição que colocam em xeque a sua imparcialidade”.


 



Sobre esse assunto, o analista Renato Rovai, à época, realçou que a melhor maneira para esconder uma forte notícia é produzir outra que cause maior impacto. A revista Veja bem sabia que naquela semana cairiam raios sobre líderes da oposição. Para neutralizá-los, nada mais fulminante do que atrair o Presidente Fidel Castro para o centro do esquema petista de captação de recursos ilegais. Assim nasceu a mirabolante história dos dólares cubanos para a campanha de Lula. Hoje completamente desmoralizada.


 



Mas não era só aos amigos tucanos que a capa com Fidel na nota de cem dólares interessava. À época, comentava-se em Salvador que a revista Carta Capital de 28 de outubro traria fortes revelações sobre o esquema da Bahiatursa, estatal de turismo local, subordinada a Secretaria de Cultura e Turismo do governo do Estado. E trouxe. Mas a operação pára-raios de Veja parece ter dado resultado. O midiático poder ignorou aquele fato que, se bem investigado, poderia aniquilar com o esquema de ACM.


 


 


Rovai revelou, ainda, que os laços entre os Civita e a família tucano-pefelê são sanguíneos e os interesses comerciais comuns: o vice-presidente de Finanças do grupo Abril foi presidente da Caixa Econômica Federal durante o governo FHC. Emílio Carrazai ficou na CEF até 2002. De lá saiu para ajudar a Abril a enfrentar a campanha presidencial vindoura. Deixou a presidência de um banco público, para dirigir o caixa de uma revista de banca. Mais: Há outros irmãos de sangue tucano-pefelê na turma dos Civita. Claudia Costin, secretária de Cultura do governo Alckmin até maio de 2005, é a vice-presidente da Fundação Victor Civita. Costin foi também ministra de Administração Federal e Reforma do Estado nos tempos FHC. Lembram-se da reforma de Estado na era FHC?


 



Segundo a análise, em Veja nada é por acaso. A revista é a matriz intelectual da elite bufona. Seus petardos têm objetivo claro, criminalizar a esquerda. E defender seus interesses políticos e econômicos. Agora, Lula e o PT que se expliquem. É assim que funciona. A revista sabe que para ela é difícil comprovar a veracidade da história. Para os acusados é tão ou mais difícil desmenti-la.


 



Que jornalismo é esse? A quem interessa mal informar ou informar pela metade? Editar a matéria para distorcer, seletivamente, o sentido do texto?


 



Um blog (http://www.osamigosdopresidentelula.blogspot.com/), de responsabilidade de governistas, informa que Eliane Cantanhêde usa sua coluna diária da Folha de S. Paulo para agredir o presidente Lula e o governo federal. Afirma que ela é chefe da sucursal de Brasília da Folha e – feliz coincidência? – mulher de Gilnei Rampazzo, um dos donos da GW, a produtora que cuidou das últimas campanhas eleitorais de Geraldo Alckmin e de José Serra. Rampazzo é sócio de Luiz Gonzales, o marqueteiro escolhido pelo PSDB para coordenar a campanha presidencial de Geraldo Alckmin. Ele foi acusado pela Folha de S. Paulo de participar de um esquema de desvio de recursos da Nossa Caixa.


 


Talvez o Brasil precise de uma CPI da mídia


 


O jornalista Gilson Caroni Filho, em O Observatório da Imprensa, de 9/5/2006, explica que poucas vezes um jornal produziu uma edição tão explícita em intenções como o Globo de domingo (7/5/2006). Segundo ele, a entrevista com o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira é um primor de golpismo travestido de trabalho jornalístico. Prestidigitação e tentativas de projeção inserem-se de forma aguda nas páginas internas. O inédito exercício de futurologia trai os objetivos políticos da publicação. É o velho serviço de encomenda que não deveria surpreender a mais ninguém. A lamentar, sua previsível recorrência, apesar das loas tecidas ao exercício da democracia.


 


 


Ocupando a dobra superior inteira da primeira página, o Globo alardeia, como novidade bombástica, a afirmação do ex-dirigente partidário, manchete da página 4: “Quem mandava no PT eram Lula, Genoíno, Mercadante e Dirceu”. Segundo Caroni, se, tal como definem os manuais, a novidade é um dos fatores de qualidade da informação, os editores parecem não ter noção de regras elementares. Ora, quem, entre os leitores da grande imprensa, não conhecia a importância hierárquica dos três políticos citados? Definitivamente, mais uma vez, contrariando um dos slogans das Organizações, “o que pintou de novo não pintou na manchete do Globo”. O que podemos ver, no entanto, é uma entrevista sem o mínimo de sustentação interna e que nada acrescenta ao que já fora escrito sobre a crise política.


 


 


Caroni Filho tem realçado o que já é consenso nos meios jornalísticos: é a edição que confere sentido às informações contidas em uma matéria. E: longe de ser mero procedimento técnico, o ordenamento do conteúdo é pautado por determinações ideológicas de cada veículo.


 


 


Na semana que antecedeu a eleição, diversos jornalistas de jornalões e revistas semanais resolveram trabalhar em bloco para tentar levar o pleito presidencial para o segundo turno. Sob o comando da Rede Globo, conseguiram. No processo, segundo o jornalista Paulo Henrique Amorim, valeu de tudo: encobrir crime de falsidade ideológica, praticado por um delegado da PF que declarou querer “detonar” o presidente Lula; esconder a fonte, mesmo que a Lei e o código dos jornalistas permitissem revelar. E mais: deixar na espera a divulgação da notícia sobre o maior desastre da aviação brasileira. Tudo para mostrar, repetitivamente, as fotos de pacotes de dinheiro, supostamente destinados por petistas à compra de um dossiê contendo informações contra os tucanos. Até hoje, nem uma vírgula sobre o conteúdo do dossiê.


 


 


No programa do jornalista Alberto Dines na TV Cultura, nesta semana, foi revelado o resultado de pesquisa realizada pelo Observatório da Mídia, órgão de responsabilidade de reconhecidos profissionais do jornalismo, indicando que de dezesseis principais colunistas dos maiores veículos brasileiros apenas dois deles não têm revelado, em suas matérias, suas preferências pelo candidato tucano. Ou má-vontade com o presidente Lula.

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