Livni fracassa na formação do novo governo em Israel

Essa era uma das possibilidades que teria Livni: desistir de formar uma maioria em um novo governo em Israel. Comunicou esta semana, oficialmente, ao presidente Shimon Peres, que não conseguiu reunir apoios suficientes para aglutinar um bloco de pelo meno

Tzipi Livni lidera pesquisa de inteção de voto: “Há demandas de partidos que são impossíveis de serem atendidas”.  Há preços que podem ser pagos, há outros preços que estão prontos para serem pagos,  mas não quero fazer isso à custa do país e de seu povo, apenas para me manter como primeira Ministra”.


 


As razões do fracasso de Livni


 


 


Conforme já comentamos, o perfil político e ideológico de Tzipi Livni não é progressista. Ela vem de família ultraconservadora. Seu pai foi um extremista que participou de um atentado contra o famoso hotel em Jerusalém chamado King David, onde morreram muitas pessoas e jornalistas. Ela vem de militância como agente do Serviço Secreto de Israel, o Mossad. Era do Partido Likud, de extrema direita, mas aceitou rachar e criar uma nova organização, mas ao centro, sob liderança de Ariel Sharon, então primeiro Ministro.


 


 


Livni tinha, de fato, como comentamos há um mês, todas as condições de formar uma nova maioria. Num primeiro momento, o seu Partido e o Trabalhista de Israel, formaram um bloco com 48 deputados. Faltavam-lhe 12 deputados para formar uma maioria, ainda que apertada. Esses 12 deputados viriam do Partido ultraconservador, chamado de SHAS. Uma frase de Livni, publicada amplamente na imprensa chama a atenção e ao mesmo tempo mostra um caráter mais firme e ético da parte dessa mulher que hoje desponta como líder de Israel: “há demandas de partidos que são impossíveis de serem atendidas”. E complementou: “há preços que podem ser pagos; há outros preços que estão prontos para serem pagos; mas não quero fazer isso à custa do país e de seu povo, apenas para me manter como primeira Ministra”.


 


 


Esse partido de extrema direita, o SHAS, religioso e ultra-ortodoxo, tenta passar a imagem de que representa os pobres. Como eles são minoria e sempre os governos de Israel fazem maiorias apertadas nos parlamentos, os 10 a 12 votos desse Partido acabam fazendo imensa diferença. Por isso eles têm tradição de formar e de derrubar governos. Sua força vem de uma rede de escolas religiosas montadas em várias cidades-chaves em Israel. Seu líder é Eli Yashai, um velho rabino que tem forte influência entre judeus imigrantes da África do Norte e do próprio Oriente Médio.


 


 


Paz: a questão central hoje


 


 


Nunca saberemos os pontos que ficaram pendentes nas negociações com os Partidos. A verdade é que essa minoria de conservadores vinha colocando imensos obstáculos às negociações de paz. Como a paz só virá mesmo após a posse do novo governo americano, em 25 de janeiro, que poderá ser um democrata, o Barak Obama, também Livni deve ter avaliado que não valeria a pena ficar refém e escrava, fazer concessões à extrema direita. Ela pode participar de eleições antecipadas e vencê-las, mesmo enfrentando nas urnas o seu maior rival, o Partido Likud, de Benjamin Netanyahu.


 


 


Os pontos para uma agenda de negociação de paz entre israelenses e palestinos que estão postos na mesa são pelo menos três, para a criação do Estado Palestino: 1. Jerusalém como capital do novo Estado nacional; 2. Fronteiras do novo Estado igual à pelo menos antes da Guerra dos Seis Dias de 1967 e 3. Retorno dos refugiados.


 


 


Claro que há variantes nesses três pontos, mas eles são linhas intransponíveis para os negociadores palestinos, que sabem que não podem ultrapassar essas linhas, fazer concessões. Assim, as variantes podem ser exatamente nos três pontos: 1. Jerusalém pode ser dividida em duas partes, sendo a parte árabe, oriental, mais antiga, ficar como capital da Palestina; 2. A fronteira seria quase a de 1967, com a devolução quase total da Cisjordânia e se alguma colônia judaica ficasse nessa região, os palestinos poderiam ser compensados com terras israelenses; 3. Se uma parte dos refugiados não pudesse retornar, poderiam ser eventualmente compensados com indenizações sobre as suas terras perdidas em 1948.


 


 


O líder do SHAS não aceita a divisão de Jerusalém em hipótese alguma. Não que os palestinos aceitem, mas essa pode ser uma saída em um primeiro momento. Eles forçaram um compromisso de Livni de que isso nunca seria aceito nas negociações de paz. Ainda que ela não expresse de público essa possibilidade, ela sabe que esse ponto – a divisão de Jerusalém – é vital para o prosseguimento das conversações de paz.


 


 


Nesse contexto, o presidente de Israel, Shimon Peres, já oficialmente comunicado por Livni, a nova líder do Kadima, de que fracassou a sua tentativa de formar novo governo, deverá convocar eleições para o parlamento – Knesset – que ocorrerão em até três meses. Analistas políticos israelenses estimam que elas ocorrerão no dia 17 de fevereiro, que cai em uma terça-feira.


 


 


No momento que escrevo esta coluna, saíram as primeiras pesquisas de intenção de voto em Israel. Se nas anteriores, o direitista e ex-primeiro Ministro Netanyahu liderava, hoje Livni já aparece em primeiro e tudo indica que deve fazer em torno de pelo menos 30 cadeiras. Ela deve pegar votos da ala esquerda do Likud e Netanyahu confia em pegar votos da direita do Kadima. O embate vai ser quase que ideológico. Extrema direita e o centro político. Netanyahu já assegurou, na mesma linha que o SHAS, que não aceita dividir Jerusalém, nem muito menos entregar a soberania da Cisjordânia. Ou seja, não quer a paz. O slogan batido e surrado, mas extremamente válido, que é “trocar terras pela paz”, continua, em nosso ponto de vista, válido e atual. A verdade é que o eleitor israelense esta cansado de guerras, quer mesmo a paz, há um sentimento nessa linha. Mas, é preciso ver a que preço isso seria conquistado.


 


 


Discute-se nesse processo até mesmo o futuro do Partido Trabalhista de Israel, que ficou muito esvaziado, depois da criação do Kadima. Perdeu inclusive alguns de seus líderes para esse novo Partido centrista. Fala-se hoje até mesmo na possibilidade de uma espécie de coligação entre o Kadima e o PTI, que poderiam lançar uma chapa conjunta de deputados, tentando eleger em torno de pelo menos 40 ou até 50 deputados.


 


 


Especula-se, por incrível que possa parecer, que até o Partido Comunista de Israel, que tem quatro deputados árabes todos eles, poderia a vir a compor o novo governo, junto com o Partido dos Aposentados. Essa especulação já levantamos há mais de um mês, mas hoje, no atual quadro político, ela não se viabiliza. Com novas eleições em fevereiro de 2009, elas podem se materializar.


 


 


Não se pode fazer comparações, mas Livni pode liderar uma coalizão ampla, tal qual nosso presidente Lula participa, que envolve partidos e parlamentares mais de centro e de centro-direita, chegando aos sociais democratas de várias matizes e mesmo o PCdoB, mais à esquerda no governo. Hoje um partido de centro como o PMDB, que tem seis ministros no governo Lula, é uma espécie de fiel da balança. Em Israel ocorre coisa semelhante hoje. Vamos acompanhar esses desdobramentos. Os palestinos também estão em compasso de espera no momento.


 


 


Ataques à Síria


 


 


Ainda que não tenha sido o fato central de nossa coluna semanal, não poderia deixar de comentar um lamentável episódio ocorrido esta semana. No último dia 27 de outubro, segunda-feira, os Estados Unidos atacaram uma cidade síria fronteira com o Iraque, chamada Sukiraya. O chanceler sírio, Walid Mualém, a quem tive a honra de conhecer em 2005 em Brasília na Cúpula Árabe-América do Sul, classificou esse ataque como “terrorista, uma política de cowboys”.


 


 


Sob o pretexto de atacarem um líder insurgente e guerrilheiro, chamado Abu Ghadiya, que auxiliava cidadãos sírios e árabes em geral a passarem ao território iraquiano para participarem da resistência à ocupação, os americanos bombardearam e mataram dezenas de civis nesse pequeno vilarejo. Até o momento não houve nenhum pedido oficial de desculpas.


 


 


Tanto a própria Síria como o Irã, protestaram veementemente contra esse covarde ataque. Nenhum outro país árabe manifestou-se sobre o assunto. Esse ataque ocorre num momento em que a Síria reabre um amplo diálogo com a União Européia, intermediado pelo presidente francês. Nicolas Sarkozy. O governo entreguista do Iraque ainda que tenha que manter boas relações com Damasco, por este país abrigar mais de um milhão de refugiados iraquianos, defendeu os ataques sob o pretexto que essa cidade dava abrigo a “terroristas” (sic). Um verdadeiro absurdo e atestado de subserviência explícita de uma chancelaria.


 


 


Alguns analistas classificam esse ataque como se fosse uma espécie de advertência ao governo sírio. Para que ele se afaste do Irã, considerado um país que apóia o terrorismo internacional. Bashar El Assad, presidente da Síria, não vem dando demonstrações de que aceitará essa pressão e essa exigência para os acordos de paz globais na região que precisam ser assinados. A Síria, de forma legítima e soberana, exige a devolução das suas Colinas de Golã no mais curto espaço de tempo possível. Sabemos que isso só ocorrerá quando e se ocorrer um acordo de paz global.


 


 


Veremos e monitoraremos todos os próximos passos desse processo.

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