Lucro dos bancos bate novo recorde em 2019

Apesar da queda da taxa básica de juros (Selic), que está em seu menor patamar histórico (4,25%), os juros cobrados pelas instituições financeiras, de fazer inveja em agiotas, continuam nas nuvens.

Ilustração: Márcio Baraldi

O desempenho da economia no primeiro ano do governo Bolsonaro foi decepcionante. A julgar pelas últimas estatísticas divulgadas pelo IBGE vai ficar ainda aquém do ano anterior, com um crescimento do PIB inferior a 1% (em 2018 foi de 1,3%), que configura um quadro generalizado de estagnação da produção. Os conglomerados bancários, porém, estão à margem da crise e abocanharam lucros recordes em 2019.

O lucro líquido combinado de Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Santander cresceu 18,4% e atingiu R$ 86,6 bilhões, o maior valor nominal da história.  Conforme o jornal Valor “os números fortes vieram de uma combinação muito benéfica de fatores. Uma retomada expressiva da demanda por crédito, o foco em linhas mais rentáveis, o ajuste das despesas operacionais e um processo de ´arrumação da casa´ no BB jogaram a conta para cima”.

Explorando bancários e clientes

Não é de estranhar. Apesar da queda da taxa básica de juros (Selic), que está em seu menor patamar histórico (4,25%), os juros cobrados pelas instituições financeiras, de fazer inveja em agiotas, continuam nas nuvens. Os juros do cheque especial subiram de 305,9%, em outubro, para 306,6% ao ano, em novembro do ano passado. Na comparação com novembro de 2018 (305,7%) também houve aumento. Já o juro médio do rotativo do cartão de crédito avançou de 317,6%, em outubro, para 318,3% ao ano, em novembro. No mesmo mês de 2018, a taxa era de 279,8%.

Somam, ainda, um conjunto de tarifas extorsivas e outras formas de espoliar a clientela, o que explica a liderança dos grandes bancos no ranking nacional de reclamações dos consumidores. Em poucas palavras, o lucro, escandaloso sobretudo quando contrastado com a estagnação da economia, provém principalmente da exploração inescrupulosa de clientes e bancários.

Demissões em massa

É errado imaginar que o resultado, ótimo para o ramo e ruim para o setor produtivo e o mercado interno, tenha beneficiado a categoria dos bancários, que continua comendo o pão que o diabo amassou, sujeita a toda sorte de pressões para elevar a produtividade, assédios e demissões imotivadas em massa.

Mais de 17 mil trabalhadoras e trabalhadores foram dispensados no primeiro semestre de 2019. O sistema bancário registrou no período um saldo negativo entre contratações e demissões, traduzido na destruição de mais de 2 mil postos de trabalho.  Itaú, Bradesco e Santander, os três maiores bancos privados que operam no país, fecharam 430 agências e demitiram quase 7 mil pessoas no ano passado.

No capitalismo é assim, o Capital se apropria com exclusividade dos lucros e ao mesmo tempo intensifica a exploração da classe trabalhadora, descartando aqueles que julga improdutivos como se faz com os bagaços da laranja.

Daí advém a polarização e a desigualdade social, da qual o Brasil, onde vigora um capitalismo a cada dia mais desumano e selvagem, é vice-campeão mundial. O povo brasileiro não tem razão para comemorar os lucros espetaculares auferidos pelos banqueiros explorando bancários e clientes, mesmo porque os impactos sobre a economia nacional são mais negativos que positivos, basta contrastar com o comportamento do PIB, e especialmente da indústria de transformação (que corre risco de desaparecer). Podem ter certeza de que uma coisa tem muito a ver com a outra.

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