Lula, Chávez e as intrigas da mídia

A mídia hegemônica não se conforma com a surra levada na eleição presidencial e procura, a todo custo, impor o seu programa rejeitado nas urnas ao novo governo do presidente Lula. No que se refere à política externa, essa manobra é descarada. Ela faz de t

Uma parte da imprensa burguesa preferiu simplesmente desconhecer este histórico encontro, noticiado em pequenas notinhas ou em rápidas inserções nos telejornais. Já a Cúpula Social pela Integração dos Povos, realizada simultaneamente com a presença de cinco mil lideranças populares, nem foi mencionada. Outra parte, mais hidrófoba, optou por desqualificar os eventos. A imparcialidade da mídia, tão decantada nos cursos de jornalismo, virou novamente uma surrada figura de retórica – infelizmente, com a deprimente cumplicidade da maioria dos renomados e bem remunerados colunistas “independentes” da mídia.


 


Folha e Veja: o antijornalismo


 


Entre os raivosos, vale destacar o jornal Folha de S.Paulo. O seu incauto leitor não encontrou sequer uma informação sobre as resoluções dos encontros. A “cobertura” deste diário, saudosista da época da ditadura militar e do entreguismo de FHC, apenas destilou veneno contra os governantes e os movimentos sociais presentes na Bolívia. Na pior espécie de jornalismo, o veículo divulgou apenas fofocas e suposições sobre as divergências entre os presidentes latino-americanos, fazendo intrigas e procurando estimular a divisão dos países do continente. “Lula e Chávez trocam farpas na Bolívia”, esbravejou a manchete do jornal.


 


Na pretensa reportagem, talvez pautada previamente na sala da oligárquica e despótica família Frias, nada de fatos ou resoluções. “Pessimista sobre a integração da América do Sul, venezuelano pede ‘viagra’ para a região e irrita presidente brasileiro”, afirma o texto do presunçoso repórter Fabiano Maisonnave, capaz de analisar o pessimismo de um e a irritabilidade de outro e famoso por seus furiosos ataques à revolução bolivariana e a tudo que cheire defesa da soberania no continente. O artigo ainda registra, em tom crítico, que “o presidente Lula não atendeu a nenhum dos pedidos de reunião da oposição boliviana ao presidente Evo Morales”, deixando de explicar que a tal oposição racista prega o golpe e a divisão da Bolívia.


 


Já a revista Veja, talvez sob a influência da multinacional Naspers, que enriqueceu durante o apartheid na África do Sul e que hoje detém 30% das ações da Editora Abril, preferiu não tratar dos dois eventos e deu uma nova capa espalhafatosa contra o presidente da Venezuela. Em plena realização da Cúpula, e não por acaso, estampou: “Com Fidel Castro à morte, Hugo Chávez quer usar o petróleo para liderar a revolução na América Latina”. Na longa e enfadonha reportagem, o presidente eleito e reeleito por ampla margem de votos dos venezuelanos é tratado como ditador, “narcisista e prolixo”, que destruiu o país e deseja dominar a região. O texto lembra o infantil anticomunismo da CIA e do sombrio período da “guerra fria”.


 


Temores dos servos imperialistas


 


A cobertura dos encontros de Cochabamba confirma o servilismo da mídia hegemônica diante dos EUA. Ela não aceita o avanço da integração regional, que desafia os interesses do “império do mal”. Na prática, a 2ª Cúpula Sul-Americana, que reuniu oito dos 12 presidentes da região, deu novos passos no rumo da união destes povos espoliados. Arestas existem, o que é natural num processo de integração, mas elas não impediram a assinatura de vários acordos nas áreas de energia, transporte, infra-estrutura e financiamento. Como afirmou o presidente Lula, “temos muitos divergências, mas também temos muitas coincidências. Estou seguro de que demoraremos menos tempo do que a Europa para nos unificarmos”.


 


A mídia burguesa também não tolera as novas relações estabelecidas entre os governos eleitos na região com os movimentos sociais. “Quero chamar atenção para um ponto essencial dos nossos objetivos, para que a comunidade sul-americana estabelece relações com os movimentos sociais […], que escreveram a história recente, abrindo um futuro de esperança de um mundo melhor”, afirmou Lula. “Somente a união dos movimentos sociais com as delegações oficiais permitirá uma integração real entre os povos de nossos países. A luta histórica dos povos continua e agora temos uma grande oportunidade para garantir essa unidade”, concordou o anfitrião dos dois encontros, o presidente boliviano Evo Morales.


 


Novos ventos na América Latina?


 


Os encontros de Cochabamba marcaram uma ruptura com o passado, como bem registrou o teólogo Luis Bassegio, secretário do Serviço Pastoral dos Migrantes e do Grito do Excluídos Continental. “Nos últimos anos coincidiram várias cumbres das autoridades com as dos movimentos sociais. Na maioria, porém, houve confrontos entre os movimentos sociais e as forças militares encarregadas de fazer a segurança das autoridades. Foi assim em Quebec, Miami, Mar Del Plata. É importante assinalar que, na medida em que na América Latina são eleitos governos sensíveis com os movimentos sociais, a relação das cúpulas vem tomando outro sentido: não mais de confronto, e sim de diálogo e cooperação”.


 


Em Cochabamba, lembra Bassegio, “esses ‘novos ventos’ possibilitaram a realização de sete espaços de diálogo entre os movimentos sociais e os representantes dos governos da Comunidade Sul-Americana de Nações” – que nem foram noticiados pela mídia. Ainda há muito a fazer para a integração e a participação protagonista dos movimentos sociais, mas nada que dependa da ajuda da imprensa servil ao imperialismo.

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